Feita de borboletas - Parte 1

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Meus pulmões arderam, como brasas em uma lareira. Meus pés protestavam por não estarem acostumados a tal ato. Mas ainda assim eu corria. Nada me tirava Killian da cabeça.

De longe avistei o imenso penhasco que se estendia ainda mais para baixo, vi também a árvore de folhagens roxas e o meu amado. Ele tinha vindo, e me esperava ao crepúsculo, bem quando o céu expunha suas cores mais exuberantes.

Killian sorriu ao me ver. Ele abriu os braços e eu me joguei neles, rendida ao seu amor.

— Minha querida — ele disse. — Eu sabia que viria, senti em meu coração que bate junto ao teu.

— O mundo poderia desabar, e mesmo assim eu viria. — Minha voz soou alegre apesar de ofegante.

Killian me deu outro sorriso que iluminou suas faces.

— Você trouxe?

— Sim, trouxe tudo o que pude. — Coloquei o baú com as joias ao lado de uma caixa que ele levara.

Quando me virei ele estava com uma mão estendida. Tomei sua mão e me aproximei dele.

— Você está encantadora.

Não deu tempo de eu agradecer, pois quando me dei conta seus lábios já estavam pressionados nos meus.

Senti meu coração parar e então voltar a bater violentamente em meu peito. Eu podia flutuar se nada estivesse me mantendo ali. Durante o beijo senti uma pontada do lado esquerdo abaixo das minhas costelas, deduzi que fosse resultado do esforço da corrida, mas quando me afastei dele vi o que era.

De repente havia sangue no vestido branco, e na adaga que Killian segurava.

— O que...

A dor se espalhou pelo meu corpo, invadindo minhas veias, aturdindo meus sentidos.

— Deveria ter escutado o seu pai, eu não sou um rapaz bonzinho. — Killian riu.

— O que você fez? – as palavras saíram como pedras rasgando minha garganta.

— Arquitetei um plano — ele respondeu simplesmente e deu de ombros. Killian passou a limpar a adaga com um lenço. — Minha família estava falindo, não havia como nos reerguer sem que eu me casasse. Então foi o que eu fiz. Bem... pelo menos para você. — Outra risada. — Eu não me prenderia a ninguém, por isso planejei isso tudo e pedi que trouxesse as joias da sua família.

Eu não acreditava no que estava escutando. Não podia.

— Você disse que me...

— Amava?

Killian gargalhou.

Eu curvava o corpo para diminuir a dor, mas de nada adiantava.

— Eu queria apenas o seu dinheiro, querida. — Ele se aproximou. — E agora que o tenho, não preciso mais de você. Eu não a mataria, mas você sabe de tudo agora.

Dito isso, ele se aproximou ainda mais enquanto eu me afastava. Meus passos ficaram instáveis, pois eu estava na beira do penhasco.

Uma fisgada de dor me fez perder o equilíbrio.
Killian agarrou minha mão, porém não havia desespero em seu rosto. Não havia o brilho, a alegria e nem o amor que eu pensava ser verdadeiro. Não havia nada, sentimento algum.
Meu corpo pesando cada vez mais.

— Me ajude... — implorei em meio às lágrimas.

— Ah, querida, eu acho que não. — Ele abriu a mão.

Meu corpo foi puxado para baixo, o vento açoitando meus cabelos. Eu estava leve feito uma pena, feito uma borboleta.

No final, meu pai estava errado em uma coisa. Quem morreria antes desse casamento acontecer seria eu.

Meus olhos se mantiveram fixos na imensa lua amarelada rodeada de pontinhos brancos bem acima de mim e senti meu corpo se desfazer.

Eu costumava achar que, quando morriam, as pessoas viravam estrelas. Entretanto, comigo foi diferente, na minha queda livre eu virei borboletas, mas eu não soube voar.



 Entretanto, comigo foi diferente, na minha queda livre eu virei borboletas, mas eu não soube voar

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