Os cabelos castanho avermelhados de Gwyn estavam espalhados pelo seu travesseiro na cama. Suas mechas molhadas de suor lembravam o Az das pequenas chamas que estavam acessas na lareira.
— Eu não consigo, Az. Eu não consigo fazer isso!
Seus olhos em um tom turquesa brilhavam devido às lágrimas. A dor era realmente insuportável. Mesmo tendo um pouco de ninfa em seu sangue, a dor do parto continuava sendo extrema. As contrações, que ficavam cada vez mais constantes, passaram a ficar cada vez mais fortes.
— Você consegue, Gwyn. Eu sei que sim. — Az acariciou o cabelo encharcado da sua amada com uma de suas mãos, enquanto a outra segurava a sua mão com firmeza — Vou estar aqui, o tempo inteiro. Não vou te largar nem um segundo.
As enormes asas do guerreiro estavam totalmente recolhidas e batiam no chão ao lado da cama, tomando cuidado para não atrapalhar Madja enquanto continuava a verificar a situação de Gwyn. Suas sombras protegiam a sacerdotiza, assim como o seu encantador. Ele estava se joelhos no chão, deixando toda a cama para os diversos aparelhos trazidos pela curandeira para ajudar na hora do parto que, apesar de parecer horas, havia começado em menos de quinze minutos.
Az continuava a olhar para a sua querida, desejando que toda a dor que ela estava sentindo fosse para ele. Ela não merecia estar sofrendo, mesmo que fosse para dar à luz ao primeiro filho deles. Ela não merecia passar por aquele sofrimento de novo. E, mesmo sendo um pouco ninfa, Gwyn ainda corria o risco de morrer durante o parto.
Seus ossos podiam ser flexíveis mas talvez não o bastante para suportar as pequenas asas illyrianas. Foi comprovado por Madja de que o bebê realmente possuía o gene do guerreiro. Ele estava extremamente feliz com a notícia, assim como o restante do círculo íntimo. Mas, o medo de perder a sua parceira durante o parto pairava nos seus pensamentos mais do que a felicidade.
— Pronto, querida. O bebê já está posicionado e acredito que já tenha dilatado o suficiente. Já pode começar a fazer força. — pediu a curandeira dos olhos castanhos.
Gwyn segurava a mão de Azriel com uma força que ela jamais havia feito em toda a sua vida. Seu marido, por outro lado, continuava a segurar a sua mão, a acariciando por cima para tentar acalmar a esposa.
As lágrimas e os gritos de dor vinham sem parar da Valquíria, fazendo com que Az segurasse a sua mão com mais firmeza, o que o fez pensar que seria melhor se ele sentisse aquela dor, não ela.
Depois de mais alguns instantes, os gritos foram substituídos por um choro, baixo mas forte. Madja levou o bebê até o pedaço de pano deixado na cama, o enrolando e limpando um pouco para os novos pais.
Azriel continuava a verificar em Gwyn que tentava se esticar para ver o filho. Ele notava se ela não havia se ferido muito depois do que tinha acabado de acontecer. Após perceber que a ruiva estava bem, ele levou o seu olhar até a curandeira que vinha até os dois com a criança nos braços, colocando, em seguida, no colo da mãe.
— Parabéns, papais! É uma menina.
Seu cabelo castanho se assemelhava com o do pai, sendo, aparentemente, a única característica que havia herdado dele além das asas. A pequena podia ser claramente a cópia de Gwyn, se não fosse pelos cabelos acastanhados.
Após mais alguns instantes com a curandeira verificando o estado da mãe, Madja liberou o quarto para que a nova família que havia começado, recebendo um sorriso e um 'obrigado' silencioso vindo de ambos.
— Ela tem os seus olhos. — diz Azriel enquanto observava a sua filha recém nascida.
Mesmo com alguns minutos de vida, a pequena já havia aberto os olhos, dando para notar o seu tom azulado neles. Podiam não ser exatamente como os olhos de Gwyn, mas a Valquíria tinha certeza de que já havia visto eles antes em sua irmã, Catrin.
— Pegue ela um pouco. Certeza de que irá amar o colo do pai.
"pai". Um termo que o próprio Azriel não esperava que dirigissem a ele. O mesmo tinha o medo de não ser bom para a filha, de errar ao trocar a fralda ou até mesmo de a machucar sem querer.
Ele não se achava digno de ter uma família como aquela, com uma esposa, que também era a sua parceira, e uma criança, que seria tão sortuda de ter uma mãe como Gwyn. Seus pensamentos o fizeram olhar para as mãos, aquelas que estavam repletas de cicatrizes, o lembrando do passado.
Ele realmente não se achava digno.
Mas seu olhar logo foi chamado por Gwyneth, que o observava como se fosse uma joia rara. Ela o conhecia. Sabia que ele estava preparado para aquele momento. Mas também sabia o quanto o aterrorizava.
Ela podia não estar na sua mente, vendo cada um dos seus pensamentos, mas ela conseguia perceber através do seu olhar. Podia ser a coisa mais besta, vista de longe, mas para ela, foi como uma benção.
Deixando a pequena em um dos braços, Gwyn utilizou a sua mão livre para pegar nas de Az, depositando um beijo em seu dorso.
— Está tudo bem. Você não vai machucar ela. Você não é que nem ele.
A Valquíria virou levemente o braço que estava a pequena, dando acesso para Azriel pegar a filha no colo.
Ela era tão pequena, menor que o seu braço. Extremante delicada e frágil. Mas Gwyn continuava a olhar para Az, o dando forças e mostrando sim que ele era digno, que ele merecia ter aquela família.
Relutante, o illyriano pegou a filha nos braços e a ajeitou neles. Um pequeno barulho vindo dela foi o que ele recebeu, fazendo com que ele abrisse um enorme sorriso. As lágrimas começaram a descer do seu rosto, assim como na sua esposa que olhava fascinada pelo momento.
— Catrin. — Gwyneth o olhou com os olhos arregalados — O nome dela é Catrin.
Azriel sabia da história da irmã, assim como Gwyn sabia sobre o seu pai. Ele havia notado o modo como ela havia visto a filha pela primeira vez. Ele notou o brilho nos seus olhos, que se tornaram os mesmos de quando ela falava das aventuras com a irmã.
Ele passou a andar pelo quarto com a filha nos braços, com cuidado para tentar não mexer ou machucar a pequena. Depois de uma breve caminhada, ele se dirigiu até a cama do casal, sentando nela e apoiando as costas em um dos muitos travesseiros apoiados na parede.
Gwyn logo se aproximou deles, apoiando a cabeça no peito do marido e sendo abraçada em seguida.
— Você foi ótima hoje. — ele deposita um beijo na testa da amada. — Estou orgulho de você. Sempre estarei.
O rosto da sacerdotiza logo corou e o brilho dos olhos azul-esverdeado passaram a ser dois conjuntos de estrelas. E, se já não bastasse a vermelhidão no rosto de Gwyn, Az a beijou novamente na testa, sendo seguido de um beijo na sua bochechada direita, na sua esquerda, em seu nariz e, por fim, um delicado nos seus lábios rosados.
A sua sensação era sempre a mesma, de primeira vez. Eles poderiam se beijar quantas vezes desejassem, mas poderiam jurar de que eles sempre voltariam para o primeiro encontro.
— Eu amo vocês, meus morceguinhos.
Seus olhos estavam para os seus dois amores. Os dois que a salvaram nos piores momentos, que mostraram o verdadeiro significado de 'o amor não tem limite'.
Uma melodia vinda de Azriel surgiu de uma forma delicada e suave, como se estivesse respondendo o pensamento da parceira. Suas sombras abraçavam a família, como se fosse uma promessa de segurança e lealdade a eles. Suas pontas passavam delicadamente pelo rosto da nova integrante, recebendo o que parecia ser um sorriso vindo da pequena.
As lembranças dos últimos dez meses chegavam como sonho para cada um, os fazendo lembrar de cada momento que passaram. Como os primeiros enjoos matinais. As noites em que o casal cantava para Catrin ainda no ventre. E as viagens que faziam até a árvore de flores que ficava logo acima da nova casa deles, onde Gwyn se apoiava na árvore com Azriel deitado com a cabeça no seu colo, acariciando a barriga enquanto a mãe contava mais uma história vinda de um dos livros da biblioteca.
— Vou sempre proteger vocês. Hoje, amanhã...e até daqui mil anos. Vocês são o meu bem mais precioso e amarei cada uma até o fim.
Ele continuava a observar as suas maiores preciosidades, ambas deitadas em seus braços. Ele não sabia como agradecer e acreditava que nunca descobriria. E foi com esse pensamento que o guerreiro dormiu. Onde aquela nova família dormiu profundamente até o sol nascer.
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Corte de sombras e luz - Gwynriel one shots
Fanfiction"Tudo na vida tem um preço, até mesmo o amor. Qual seria o seu?" A publicação conta com one shots de casal Gwynriel (Gwyn+Azriel) onde vamos presenciar algumas cenas que provavelmente não iríamos ver nos livros. *Gwynriel não é um casal confirmado p...