A Entrega

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Seu dispositivo interno apitou dentro de sua cabeça, trabalho chegando.Ele ja estava cansado do dia de entregas em todo o distrito, tirou o dia pra fazer trabalhos mais simples, davam menos dinheiro, mas eram mais seguros, a arma que carregava ficava só como segurança caso alguem tentasse roubar a encomenda. O braço esquerdo ja estava pesando, a peça metálica bruta que substituía o velho braço de carne perdido em um acidente dava seus sinais do cansaço físico do usuário.


Mesmo com todos avisos do corpo, seu bolso precisava ainda da grana então aceitou e ja marcou no aplicativo de serviço que ia fechar o dia. Pegou, pôs a marcação no gps e foi até o ponto de coleta. As informações do trabalho avisavam que seria um serviço de classe alta, significando que tinha alguma periculosidade, nos detalhes ele foi que foi requisitado pessoalmente pelo cliente.


"Deve ser cliente antigo" pensou. "bom, já que é pra fechar o dia, vou deixar passar." Não estava nem um pouco afim de trocar tiros hoje, mas provavelmente iria acontecer.


Quando chegou no ponto pra coletar o pacote uma placa indicava o local: Bar Mercantes. "Puta que me pariu, tô fudido!" Exclamou em voz alta.


"Astos!" a voz familiar convocava de dentro do bar, "não apareceu aqui hoje garoto" saiu andando das sombras do arco da porta um homem de terno, bem afeiçoado, acompanhado de duas muralhas com implantes de alta qualidade com adesivos de carga pesada nos braços e nas mandíbulas, Astos sabia que não poderia se deixar levar pela aparência, Senhor Mercantes não pedia serviços baratos ou fáceis, e se desse problema tava fudido, ele definitivamente era mais perigoso de mexer do que as muralhas.


"Eai Mercantes," disse descendo da moto voadora na frente do bar do nível mais baixo bloco M "E esse trampo aí? O que vai ser?"


"Tá aqui" ele disse apontando para uma das muralhas que carregava um pacote vermelho, com indicações de carga frágil. "espero que você leve isso aqui pra mim, na sua guia do aplicativo vai estar produto fragil, mas entenda como volátil"


"Puta que pariu, cara! ISSO É..." Percebeu que estava falando alto e abaixou o tom "isso é uma bomba?" disse praticamente num sussurro


"Achei que você não questiona-se as entregas, por isso te chamei, mas se isso vai ser um problema..." o brutamontes se virou um pouco


"Não," Disse se arrependendo quase instantaneamente, mas não poderia mais voltar atras "eu levo. Mas vou ter que te avisar, isso aí pode acabar sendo confiscado, vou ter que usar as rotas do aplicativo, se a força distrital de policia farejar algo vou ter que entregar."


"Mas eu tenho certeza que você não vai deixar ser levado, não é?" ele disse enquanto o gigante colocava o pacote no compartimento de carga da moto.


"Vou fazer o que puder, não me responsabilizo"


"Claro, claro, mas toma cuidado, qualquer coisa sei como te encontrar, por aí." A voz dele soava altamente ameaçadora enquanto se virava, mas Astos preferiu não pensar muito nisso.

Seu app se atualizou e um mapa apareceu no painel da moto e um seta surgiu em seu campo de visão indicando o caminho a seguir. O destino era próximo a prédios do governo, nada disso cheirava bem, mas não tinha mais volta. o trajeto era um pouco longo, teve que atravessar metade do distrito até chegar na zona central, a cada viatura ou sons de tiro que escutava ele gelava, tentava manter a moto mais estável, ja que não sabia exatamente o que estava levando e achava que o pacote podia explodir a cada freada brusca.


Ao se aproximar de posto de checagem foi alertado a encostar a moto, e assim o fez, os policiais fizeram a busca rápida pelas peças da moto vendo se não levava nada escondido, e revistaram também o próprio Astos, que suava frio, mas tentava manter a calma, explicou aos oficiais, que a arma era de trabalho, e até aí tudo bem, o problema foi quando perguntaram o que era a carga, só poderia responder que era frágil, seu aplicativo confirmaria, porém quando tentaram abrir o pacote ele gritou.

"NÃO!" Droga, isso alertaria eles que pode ser algo que ele não poderia estar carregando ainda mais para um destino perigoso para algo do tipo. Pensa Astos! Estúpido! "É muito frágil, senhor! Não posso deixar que quebre, pelo que o cliente disse era uma presente pra sua mãe!" ele se aproximou um pouco da moto enquanto falava, e argumentava com os oficiais tentando chamar a atenção deles e mudar o foco, quando percebeu uma brecha, deu um sinal no sistema mental, pra moto dar uma partida silenciosa, o sinal não funcionava a muitos passos, por isso teve que se aproximar. A moto andou levemente em sua direção virando a frente pro caminho que iria pegar.


Quando percebeu que um dos guardas olhou pra direção oposto fez a moto acelerar e subiu nela usando o braço esquerdo de metal como apoio, "ele aguenta o tranco, eu espero", foi o que pensou, e realmente aguentou, o problema que isso fez com que todos os oficiais da parada partissem atras dele. Não era a primeira vez que era perseguido, e não seria a ultima, disso ele tinha certeza ao menos, pelo menos ele esperava, se a carga que ele tivesse levando explodisse não teria nem moto e nem Astos pra ser perseguido novamente.

As luzes de cores vivas da cidade destacavam placas e comércios, enquanto ele se afastava de seus perseguidores mudando de níveis dentro do setor Sul da área central, se afastando do ponto de entrega, tentando despistar antes de chegar lá. Seu braço esquerdo doía. Mudava entre os níveis da cidade, tentando ir até as áreas mais altas batendo perto dos andares novecentos da cidades e descia de volta, zig-zagueando com o transito pesado de carros voadores automáticos e outras motos de entregas, muitos xingavam enquanto ele passava, subindo e descendo entre os níveis tentando tirar a policia de seu encalço.


Passou por passarelas, tentou se esconder em esquinas, e becos, mas parece que um deles era realmente atento nas possibilidades, que até atras de um caminhão que ele se meteu uma das viaturas o viu, "Foda-se" ele pensou, e se dirigiu diretamente pro ponto de entrega, estava muito cansado, e já estava começando a pensar que seria um homem bomba do jeito que ele estava fazendo, a sorte que ele não tinha irritado ninguem o suficiente pra começarem a disparar contra ele.

Estava tudo bem, até ele perceber que a entrega era dentro da Rodoviária central, nome dado ao um monumento pelo que ele um dia foi, não existiam mais as tais de rodovias que davam nome ao lugar, era só um retrato do que um dia fora, praticamente um museu a céu aberto com veiculos grandes que levavam pessoas de um lado pro outro dentro do distrito. Lá o policiamento era muito mais pesado, e eles atiravam.


Astos se viu sem escolha, mandou uma mensagem pro veículo oficial mais próximo dele. Iria se entregar, desde que não levassem a moto.

Os carros reduziram, Astos parou e pôs as mãos na cabeça, ele foi revistado, avisou que não sabia o que estava carregando, mas era o trabalho, deveria levar independente do que fosse, e o cliente pediu pra não ser apreendido. Não adiantou explicar, ele apanhou. Apanhou por estar levando algo ilegal, apanhou pelo trabalho que deu, e apanhou por ter se entregado. Apanhou por ter pedido para não levarem a moto, o que cumpriram, mas bateram nele mesmo assim.


No fim, não foi preso! Estranho? Não, o aplicativo o certificava pra carregar qualquer coisa, não era crime o que ele estava fazendo, só quem cometera o crime era o cliente. Mas isso não impediria das Forças Distritais de Polícia baterem nele, ou quebrar uma peça ou duas de sua moto.


Nunca ficou sabendo o que era o pacote. Torcia pra ter valido a pena, só que agora teria que tomar mais cuidado.


Suas dividas só aumentavam e tinha perdido o ultimo serviço teria que voltar pra casa sem muita coisa novamente, e mais dolorido do que quando começava o trabalho.

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