Capítulo IV: Endeavor

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Endeavor estava tentando ser um homem melhor

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Endeavor estava tentando ser um homem melhor.

Era impossível e, talvez, hipocrisia, falar que queria ser um pai melhor, visto o estrago que fez na sua família.

Ele jamais poderia reverter o mal que fez a Fuyumi e a Natsuo, seus dois filhos considerados fracassos. Não poderia reverter o mal que fez a Shoto, forçando-o a treinamentos angustiantes e que iam além de seus limites. Nem poderia reverter o que fez com a saúde mental de Rei.

Por fim, sua maior culpa era com Touya, que foi o maior prejudicado entre todos os seus filhos. O seu primogênito não voltaria, mesmo com ele se tornando o homem mais puro do mundo.

Essa culpa ele carregaria por toda a vida.

Foi pensando nisso que ele andou, simplesmente, sem rumo pelas ruas. Estava com a desculpa de estar fazendo uma patrulha, mas isso era bem mais para pensar e refletir.

Com isso, dispensou Shoto e os seus outros dois estagiários da UA, fugiu de Hawks, e apenas andou pelas ruas.
Viu um ou outro vilão menor fazendo algum tipo de algazarra, mas resolveu rapidamente.

O herói número um andou sem rumo até chegar em uma pequena praça, de um bairro mais modesto da cidade. O sol já estava começando a ficar mais amarelado e o céu em tons roxos e rosa, indicando que a noite começaria em breve.

Em vez de voltar para a sua casa, ele apenas se sentou em um dos bancos. Estava tão absorto em seus pensamentos, que nem percebeu que, ao lado dele, estava uma garotinha de cabelos brancos, bem surpresa com a repentina aparição do herói.

— Hum, o senhor está bem? — ela questionou, após alguns minutos.

Endeavor, finalmente percebendo que a garota estava ao seu lado, demorou alguns segundos para responder.

— Sim. — ele respondeu, vendo que a garotinha a seu lado parecia bem assustada. — Você que não parece bem, menina.

— E-eu? — ela tremeu, apontando para si mesma. — Eu estou bem, senhor. Não precisa se preocupar.

A verdade é que a menina, que era a própria Yuki, estava apavorada. Seu pai já havia dito inúmeras vezes que heróis eram ruins, mas que esse herói, Endeavor, era o pior de todos. Ela não sabia o que fazer.

Assim que ele sentou ao seu lado, teve vontade de se levantar, mas teve medo que isso chamasse ainda mais a atenção. Por isso, resolveu tentar passar despercebida, até perceber que o herói parecia bem abatido.

Infelizmente, sua pureza e gentileza a fez sentir vontade de questionar e, quem sabe, até mesmo ajudá-lo.

— Não é bem pequena para estar sozinha? — o herói questionou, após uma longa pausa.

— Minha casa é aqui perto. — ela respondeu, mas logo se arrependeu. Não queria que o herói soubesse onde morava.

— Entendo. Ainda assim esse bairro é perigoso, é bom que tenha cuidado.

— Eu já estou acostumada. — Yuki tentou dar um sorriso. — Venho sempre aqui.

Endeavor se divertiu com a tentativa falha de ela lhe dar um sorriso. Sabia bem a impressão forte que causava nas pessoas, principalmente nas crianças.

— Então gosta de brincar por aqui?

— Mais ou menos. — a criança deu de ombros. — Gosto de ver as crianças brincando e as famílias felizes. Sempre tem uma ou outra família.

— Você também não brinca? — Endeavor arqueou a sobrancelha. Por algum motivo estranho, estava gostando da conversa com a criança, e queria continuá-la.

— Não tenho com quem brincar. — Yuki apertou a barra da própria saia. — Meu amigo não pode sair de tarde, sabe? Ele tem que ajudar a mãe dele.

— Entendo. Não tem outros amigos ou irmãos?

— Não, não. — ela balançou a cabeça, rapidamente. — O Yato-kun é o meu único amigo. E eu acho que só se pode ter irmãos se tiver uma mamãe também.

— Você não tem?

— Não. — Yuki respondeu, tristemente. — As vezes ela aparece em nossa casa, mas eles não são casados. Nem lembro direito dela, sabe? Eu sempre fico sozinha com o papai.

— Entendo.

— Ei, senhor. — a criança o chamou. Estava muito curiosa com algo e queria muito questionar isso. — O senhor é um herói, não é? É legal? Eu imagino que é muito divertido usar os poderes para salvar as pessoas. Salvar tanta gente deve ser tão... incrível!

— Então você gosta de heróis? Também quer se tornar uma?

Toda a animação de Yuki se esvaiu e ela ganhou um ar triste.

— Eu não sei. — na verdade, ela queria sim. — Eu não consigo usar minha individualidade, então seria impossível.

Endeavor ficou pensativo. Ela não teria individualidade? Ou, então, seria como ele?

— Você não tem individualidade?

— Tenho sim. — ela balançou a cabeça, positivamente. — Mas o papai disse que eu não usasse. E tenho que obedecê-lo.

O homem piscou, sem entender. Como pai, ele forçava os filhos a usarem sua individualidade ao máximo. Era estranho ver um pai que não permitia um filho usar seus poderes.

— Por que ele não deixa?

— Sempre que uso me machuco. — Yuki suspirou. — Papai disse que meu corpo é fraco e sensível. Não posso lidar com a minha individualidade. Sempre me machuco.

O herói praticamente perdeu a respiração.

Naquele momento, parecia que ele tinha voltado para a sua casa e estava de frente a Touya, na idade da menina, já com os cabelos esbranquiçados por conta de seu estresse e cansaço.

Pensando bem, a menina em sua frente lembrava ele: o mesmo cabelo branco, o mesmo olho turquesa, a mesma tristeza em não poder usar sua individualidade... Parecia uma cópia fiel, só que feminina.

Ele se surpreendeu tanto, que nem percebeu que já estava encarando-a a um tempo.

— Senhor. — ela o chamou. — Tenho que ir. Eu sei que o senhor não está bem, mesmo dizendo que sim. Então espero que fique bem.

E correu, indo em direção a uma esquina, perto da praça.

Endeavor não sabia quanto tempo mais ficou ali, sentado e pensando. Por algum motivo, Touya estava mais do que nunca em seus pensamentos.

E, agora que tinha visto aquela garotinha — que ele também lembrou-se ter visto um dia pelas ruas da cidade —, sua mente voltou ainda mais para seu primogênito.

Talvez eu esteja imaginando coisas e essa menina nem se pareça tanto com o Touya.

À exceção das pequenas mechas amarelas, ela era idêntica.

Após um tempo, ele se levantou e caminhou, de volta para a sua casa.

O que ele não sabia era que, de longe, ele era observado por um certo homem, cheio de cicatrizes.

— Quem ele pensa que é?

the villain's miracle [DabixChildReader]Onde histórias criam vida. Descubra agora