Nossa última noite vivos

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Seria meu último dia aqui. Meu último dia onde poderia comer aquele yakisoba barato com o Chifuyu, ouvir as conversas altas dos ex-integrantes da Toman e correr nas ruas com a moto que Mikey me deu, e claro, sentir as mãos dele circularem minha cintura enquanto percorríamos as estradas frias de Tóquio. 

Sentir o vento forte acariciar meu rosto era apenas um detalhe, toda minha diversão se concentrava naqueles toques sutis em minha barriga, iniciando carinhos por toda aquela região, e Mikey sabia que me afetava. No silêncio agradável, podia desenhar perfeitamente na cabeça a imagem do Sano sorrindo contra meu pescoço, esperando que eu me distraísse para olhá-lo, era fácil ler Mikey quando estávamos sozinhos.

Esperei algum elogio sobre minha condução, mas o silêncio foi a melhor resposta naquele momento. Corremos assim, sozinhos e satisfeitos com a presença um do outro.

— Com cobertura de morango é melhor, mas este combo de duas bolas com banana... Na verdade, acho que vou querer milk-shake de baunilha... Não! Talvez seja melhor... — Já não pude mais prestar atenção. Soltei um suspiro longo e pesado, meu punho fechado em minha bochecha e o rosto de Mikey sendo tampado pelo cardápio ridiculamente grande e colorido da sorveteria. — Ei, Takemichy! — Sua voz ardeu e eu levantei rapidamente os olhos para ele, este que parecia decidido na escolha final e logo suas mãos me passaram o cardápio. — Não vai pedir nada?

Folheei sem muito interesse e me perdi no pensamento no meio, caindo num sorriso genuíno ao lembrar da petulância de Mikey para pararmos pois, por algum motivo misterioso, ele estava louco de vontade por um sorvete, e agora estávamos ali, dez da noite enchendo o saco da coitada da garçonete que quase chorava de raiva por ter que fazer hora extra. 

— Hm? O que foi? — Perguntou, o que me fez engolir meu riso frouxo na hora.

— N-nada não, acho que vou apenas querer algo simples. — Sorri, depositando o cardápio na mesa.

Batuquei os dedos na mesa por um bom tempo enquanto esperava o pedido, estava demorando mais que o previsto, possivelmente a funcionária estava fazendo de propósito por estarmos atrapalhando o final de seu expediente, o que não fazia muito sentido, sinceramente. 

Tracei todos os pontos vagos daquela lanchonete com o olhar, e já esperando que Mikey estivesse sendo dominado pelo sono, levei meus olhos para ele, coisa que me fez ter um susto interno ao me deparar com seu olhar bem acordado e fixo em mim, deixando um sorriso ponderar naqueles lábios.

Corei pela vergonha de estar sendo observado por todo esse tempo e cortei o contato visual para tentar esfriar os ânimos, o que não deu muito certo.

— O que foi, Mikey-kun? — Questionei quase que me atropelando nas palavras, vendo de soslaio seu sorriso se alargar mais.

— O quê?

— Por que está me olhando assim?

Seus lábios se abriram, prontos para me responder, se não fosse pelo susto do sons de pratos se chocando com brutalidade contra a mesa, fazendo a caixa de guardanapos pular com a força. A garçonete deslizou nossos sorvetes, trocando nossos pedidos, e a veia saltada em seu pescoço se contradizia com o sorriso doce que nos dava.

— Bom apetite. — Sua voz suave me deu arrepios, ela devia estar puta da vida.

Mikey agradeceu com mesura, acenando de forma irritante a cada passo que a garota se distanciava. Depois dela desaparecer nos fundos da conveniência, Mikey começou a bolar conspirações, supondo que talvez ela estivesse um pouco irritada, mas nada certo, e a suspeita óbvia me fez rir, eu odiava ter riso frouxo, mas isso era uma das coisas que Mikey gostava em mim.

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