Devem se perguntar o que uma garota imbecil fazia dependurada no parapeito do seu apartamento para observar o da frente. É porque vocês não conhecem quem morava lá: Richard, o garoto mais bonito da droga de cidade em que eu vivia.

Imaginem aquele tipo de cara que toda garota sonha em namorar um dia. Alto, com um corpo que, ai, meu Deus! Olhos da cor do céu de um dia iluminado e cabelos tão escuros quanto a mais sombria das noites.

Só que ele nunca olharia para mim por dois motivos.

Primeiro: a namorada do cara mais parecia uma estrela de cinema. Não havia como colocar defeito na garota. Tinha um corpo simplesmente perfeito e seu rosto mais parecia o de um anjo; seus cabelos loiros caíam livres, formando leves cachos nas pontas, e olhos eram tão azuis quanto os dele. E a filha da mãe ainda era mais inteligente do que o próprio Albert Einstein.

Segundo: olha só para mim! O que eu era? Nada! Tá, eu não era burra, pois era uma das melhores alunas da classe, só ficava atrás dela. Mas os meus problemas eram outros, muitos outros. Eu era aquele tipo de garota aberração. Meus olhos tinham um tom lilás, quase roxos. Algo muito estranho: doença genética, talvez, ou alguma mutação, quem sabe! A verdade é que isso sempre fez de mim diferente, um diferente ruim. Além disso, não possuía nada de especial. Até tinha um corpinho legal, mas nada para sair por aí com minissaias e tops. Talvez fosse por isso eu andasse apenas de moletons e, no máximo, jeans. Por fim, meus cabelos se mantinham indecisos entre o vermelho e o preto, dependendo da intensidade da luz. Ah, claro! E não poderia esquecer meu mais recorrente título: a aberração. Muitas vezes pela cor nada comum, talvez de outro planeta, dos meus olhos. Outras tantas, pelas coisas estranhas que aconteciam quando eu estava por perto, algo que dava crédito ao meu incrível super poder de atrair encrencas...

– Annabelle? – Uma voz inconfundível sussurrou o meu nome.

Por falar em encrencas... Caramba! A última pessoa do mundo que eu podia imaginar tinha entrado sem eu ouvir no meu quarto e agora estava atrás de mim, me chamando.

– Annabelle...

Fingi não ouvir. Permaneci com os olhos abaixados, fitando o espaço fora da janela.

– Annabelle, será que dá para você olhar para mim? – Ele pareceu irritado.

Voltei-me para ele, fitando apenas as suas chuteiras pretas.

– O que você perdeu no meu quarto? – Ele apontou para uma janela, a dele, no apartamento ao lado.

Oops! Fui pega em flagrante.

– Não é nada – menti. – Estava olhando um casal de pombos.

A minha sorte era que eu havia aprendido a mentir para ele com extrema habilidade.

– O que você quer aqui, Richard? – Encarei seus olhos azuis, tentando parecer não abalada ao olhar para eles. Como aquele cara podia ser tão bonito? Seu sorriso me deixava tonta, seus dentes perfeitamente brancos quase brilhavam...

– Ei, garota! Por que está tão nervosinha assim comigo? – Ele pareceu não entender a minha reação grosseira.

– Me desculpa, não é nada com você.

– Tudo bem. Você pode me ajudar a fazer o trabalho de História? – Richard balançou os cadernos.

– Por que a Senhora Perfeição... Quero dizer, por que Linda não te ajuda?

Até o nome da garota dizia que ela era bonita. Como competir com alguém assim?

– Bem que ela queria, mas teve que ajudar a mãe a resolver alguns problemas.

Magia - Trilogia Mística vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora