Dois

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Sabe quando sua vida não tem como piorar e mesmo assim piora? Era bem como eu me sentia naquele dia, como se todos os astros conspirassem conta mim.

Acordei com o pé esquerdo, pisando em cima de uma piranha de cabelo que eu havia deixado no chão, ao lado da minha cama. Poxa! Tem noção do quanto doeu? Quase gritei e acordei toda a vizinhança. Na mesma hora que eu quase berrei, a lâmpada do meu quarto se estilhaçou em um milhão de pedaços, absolutamente do nada! Diziam que, quando se quebrava um espelho, eram sete anos de azar. Se eu fosse considerar todos os espelhos, além de infinitas coisas de vidro, que eu havia quebrado desde que aquela maluquice tinha começado, eu teria azar estocado para os meus tataranetos.

Eu tinha que ir para a droga daquela escola, pois minha mãe me obrigara na noite anterior. Sim, eu detestava a escola! Não por não gostar de aprender, mas pelas pessoas que havia nela e pelo tanto que essas me tratavam mal.

Será que aquele dia poderia ficar pior?

Por que eu fui perguntar?! Uma tempestade começou a cair lá fora, mais parecia o mundo inteiro desabando bem em cima da minha cabeça. Sem tirar o frio insuportável que começou a fazer do nada. A Antártida devia ser parecida.

Coloquei um dos meus moletons mais grossos sobre a camisa do uniforme, uma calça jeans simples, um All Star xadrez e desci para tomar café. Comi o primeiro pão que vi pela frente e tomei um copo de suco.

Joguei a mochila sobre o ombro, peguei os óculos de sol, lembrando-me do conselho de Richard, e saí porta afora com a minha mãe berrando, dizendo que meus olhos eram lindos e não precisavam ser escondidos. Toda mãe acha seus filhos bonitos, a minha não seria diferente. Ela costumava dizer que as pessoas desprezavam aquilo que não conseguiam entender. Mas poxa, mãe! Nem eu mesma me entendia. Definitivamente era muito azar para uma pessoa só. Por que eu não tinha olhos verdes como os dela? Por que eu atraía tantos problemas?

Detestava ficar esperando a porcaria do meu especial. Ele sempre fazia a graça de me deixar plantada. Não seria diferente só porque estava chovendo.

Por mais que um morasse ao lado do outro, raramente me encontrava com Richard antes de ir para a escola. O garoto sempre saía mais cedo para se encontrar com o time ou buscar Linda em casa, enquanto eu ficava dormindo o máximo que podia.

Estava debaixo de um guarda-chuva esperando o especial quando um carro passou e lançou um dilúvio em cima de mim. Disse que meu dia já estava ruim? Pois é, ficou pior. Eu estava completamente ensopada e meu cabelo chegava a pingar com a água suja da rua. Juro que, se pudesse, mataria o filho da mãe que fez aquilo comigo.

Tinha uma única escolha: voltar para casa e ouvir um enorme discurso da minha mãe, dizendo que tudo aquilo era só uma desculpa que eu inventei para não ir à escola...

Pense que você está seca, uma vozinha irritante sussurrou dentro da minha cabeça. As coisas podiam até ser estranhas antes, como vidros quebrando e coisas pegando fogo, mas eu nunca havia ouvido vozes! Era impressão minha ou as coisas estavam ficando piores?

Magia - Trilogia Mística vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora