Capítulo 4

5 1 0
                                    

     Hiroshi vestiu uma calça jeans e uma blusa de manga comprida cinza, o clima no dia estava um pouco frio, calçou os tênis preto que achou na sapateira ao lado do guarda-roupa, na sala procurou pela chave do carro no rack, encontrou em um pote de vidro ao lado do aparelho de blu-ray, ele estava carregando os mapas em uma mochila cinza que achou dentro do guarda-roupa, procuraria mais informações dentro da casa depois.

     Abriu o porta malas do carro, apenas para tirar o peso da sua cabeça de que não teria nada lá, mas ele encontrou uma pá, o homem achou isso perturbador mas agradeceu por estar lá, ele não sabia se havia uma pá na casa e pelo pouco que sabe do policial, Hiroshi tinha a certeza de que precisaria cavar, ele verificaria cada ponto marcado naquele mapa, nem que para isso passasse a noite no local, entrou no carro, verificando se havia uma lanterna no porta luvas, não queria ter que usá-la, só queria ter uma garantia de que não ficaria perdido no escuro caso ainda estivesse por lá quando anoitecer.

     O lugar parecia um bosque, como estava em uma cidade do interior os lugares mais afastados eram cheio de árvores e casas muito distantes umas das outras, para ir de um terreno ao outro precisaria ir de carro, porque se fosse a pé cansaria e desistiria na metade do caminho, no terreno em que estava encontrou uma casa, mas ela parecia abandonada, a cerca de arame farpado estava toda picotada, isso mostrava que qualquer um tinha livre acesso ao local, o homem entrou com cuidado, carregando a pá nas mãos e a mochila com os mapas e a lanterna nas costas.

     Pegou o mapa para tentar descobrir em que parte ele estava, percebeu que estava perto de uma das marcações, voltou a caminhar, agora com uma determinação invejável. Chegando no local percebeu que a terra estava um pouco revirada, colocou a mochila no chão e começou a cavar.

     Ele não gostou nada do que encontrou, no buraco na terra que acabou de fazer havia um corpo, o ar que Hiroshi respirava ficou mais pesado, o corpo fedia muito, e pelo estado em que encontrou o cadáver, essa morte é antiga, cobriu novamente o corpo com terra segurando a vontade de vomitar, pegou sua mochila e seguiu para o próximo ponto.

     Em todos eles encontrou corpos em diferentes estágios de decomposição, faltava apenas um ponto para ir, ele não possuía mais a coragem que tinha no começo dessa jornada de descobertas, mas iria até o fim, isso tudo seria útil para quando fosse a polícia e se entregasse, precisaria saber onde estaria todos os corpos, assim todos acreditariam no seu depoimento.

     No último ponto ele cavava tremendo, de cansaço e de medo do que poderia encontrar, será que acharia seus pais? Sua namorada? Ou seu próprio corpo? Cavou muito mais que cavou nos outros pontos e bem no fundo daquela cova, achou o corpo de seus pais e sua namorada, olhou novamente no mapa e não havia nenhum outro ponto marcado, procurou em outros papéis na mochila e não achou nada que indicasse onde seu corpo estaria.

     Jogou a terra em cima de sua família, sentindo o princípio de uma falta de ar, já havia anoitecido, ele sabia onde ir agora, mas com seu ar entrando nos pulmões com dificuldade, demorou mais tempo para achar a saída do que quando chegou. Sentou no carro tentando controlar sua respiração do jeito que seu psicólogo o ensinou para sair de suas crises. Limpou as lágrimas do choro descontrolado pela descoberta mórbida que fez e depois de recomposto voltou para a casa com ajuda do GPS do carro.

     No banho tentou imaginar onde estaria seu corpo, se ele levou os corpos de sua família e enterrou, era improvável que seu corpo ainda continuasse na casa, amanhã iria lá apenas para ter certeza, mas duvidava que seu corpo tivesse sido o único que ficou.

     Já trocado foi até a cozinha preparar algo para comer, não estava com fome mas passou o dia todo sem comer, não gostava da ideia mas tinha que alimentar o corpo em que habitava para poder resolver o problema em que se meteu. Bebeu muita água, sentia uma sensação esquisita, desde que anoiteceu, como se o ar fosse feito de outro material, suas mãos tremiam incontrolavelmente, sua boca estava seca e não importava o quanto bebia de água, parecia que sua língua era uma amostra do deserto. Estava cansado, seu corpo pesava, queria vomitar.

     Levantou da cadeira com dificuldade, não sabia para onde estava indo mas sabia que não era para o quarto, estava do lado de fora da casa, na garagem, era como se seu corpo não obedecesse, não conseguia controlar seus braços ou pernas, apenas seguia o caminho que as pernas determinavam, passou por uma porta, entrando em um local frio, era quase um freezer de açougue de tão gelado, mas o local era decorado como se fosse um quarto normal, possuía uma estante cheia de livros, uma escrivaninha, um guarda-roupa e no canto do cômodo havia uma cama. Nessa cama estava o seu corpo, vestindo uma roupa diferente da que foi morto, o homem deu banho no seu corpo também já que não havia nenhum sangue em seu rosto. Hiroshi quis sair de lá, mas ainda não conseguia "acordar" seu corpo, ele se movimentou até o corpo na cama, passou os dedos no rosto gélido, o cobriu com o edredom que estava na ponta da cama, retirou uma caixa que estava embaixo da cama, tirou sua roupa e vestiu a roupa que estava lá, saindo do local em seguida.

     Entrou dentro do carro, colocou um endereço no GPS, dando partida. Parou em uma rua que estava deserta, ficou esperando no carro, observando a casa, dois adolescentes estavam tentando entrar dentro da casa sem acordar o pai, ele esperou que os adolescentes que estavam completamente bêbados entrassem, saiu do carro depois de meia hora, entrou na casa se aproveitando que não trancaram o portão direito, aconteceu o mesmo com a porta da casa, começou com o pai divorciado, sufocando-o com o travesseiro, foi para o quarto do filho mais velho, pegou um troféu de um esporte qualquer que o garoto praticava, acertando sua cabeça inúmeras vezes, depois da certeza que estava morto, Myung-Dae foi até a cozinha pegando uma faca sem fazer barulho e foi até o quarto da garota, a esfaqueou diversas vezes, guardou todas as armas utilizadas na mochila, saiu da casa para ver se algum vizinho estava acordado, não vendo ninguém, pegou a chave do portão, abriu colocando o carro dentro da garagem, vendo que ninguém mais acordou começou a colocar os corpos dentro do carro, saindo da casa indo em direção ao local onde costumava desovar os corpos.

     A sensação esquisita que sentia foi embora, agora seu corpo estava em paz, mas mais uma vez Hiroshi viu um crime acontecendo na sua frente e não pôde fazer nada.

O Acaso do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora