Capítulo 6

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     ㅡ Um chamado?
     ㅡ  Sim, a testemunha disse que viu alguém desovando os corpos na antiga fazenda do Fernando.

     Hiroshi fingiu que entendeu, não fazia ideia de quem era esse Fernando, mas tinha que concordar, não podia perguntar quem era, precisava se passar por Myung-Dae. Mas não conseguiu ignorar o sinal vermelho que a informação deu, precisava saber mais alguma coisa.

     ㅡ A testemunha viu o rosto de quem fez isso?
     ㅡ Não. E nem quis se identificar, disse que tem medo do que pode acontecer. Sorte que sabemos onde mora, vamos decidir ainda quem vai patrulhar a área.
     ㅡ Eu posso fazer isso. Você sabe que hora receberam a ligação?
     ㅡ Foi ontem de madrugada, um homem ligou dizendo que testemunhou a desova, nos disse seu endereço e pediu para uma viatura patrulhar a rua, mas que não era para tentar tirar o depoimento dele porque tinha medo de retaliação.
     ㅡ Eu faço a patrulha, me passa o endereço, assim mantenho uma atenção especial no local.
     ㅡ Claro. A rua é Monte Castelinho, número 80.
     ㅡ Obrigado, poderia me dizer onde fica mesmo a antiga fazenda do Fernando? Devo ter esquecido por causa da minha febre ontem.
     ㅡ Hmm. Ela fica bem distante do centro, antes de chegar lá, passa pelo posto que tem aqueles pães de queijo super caros, a fazenda está abandonada, a cerca de arame está em pedaços.

     Hiroshi gelou, era o local onde achou aqueles corpos, era possível que a testemunha viu seu corpo desovando aqueles cadáveres, não tinha mais um corpo, não poderia ser preso, o universo deu-lhe uma segunda chance, não poderia desperdiçar assim. E pela primeira vez cometeria um assassinato consciente do que estava fazendo.

     ㅡ Você sabe mais informações sobre a testemunha?
     ㅡ É homem e mora sozinho.
     ㅡ Obrigado
     ㅡ Eu vou junto para te ajudar.
     ㅡ Não precisa, se houver muitos carros ou mais de um policial o assassino pode desconfiar.
     ㅡ Verdade, boa sorte e fica atento.

     Hiroshi pediu para sair mais cedo, assim poderia patrulhar melhor, observou a rua que deveria proteger, não era movimentada nem no período da tarde, a casa possuía um portão todo fechado, apesar de não ter um muro muito alto, se seu plano funcionar, ninguém vai testemunhar o que aconteceu.

     O plano era fingir patrulhar a rua até tarde da noite, entrar sem ser visto, matar a testemunha e sair de lá, como patrulhava a rua junto com mais duas ruas do bairro, poderia dizer que não impediu o assassino por causa disso. Mas ele nunca matou ninguém, não consciente disso pelo menos, não sabia como fazer isso dar certo, nem como desovar o corpo, teria que procurar outro lugar, ou deixaria o cadáver lá mesmo e diria que foi outro assassino.

     Durante a noite Hiroshi começou a sentir aquela sensação esquisita de novo, era como se estivesse sentindo sintomas de abstinência, do quê ele não sabia. Não aguentava mais esperar, precisava resolver isso logo, iria entrar antes do que planejou, sentia que terminar isso pararia as sensações estranhas.

     Não conseguia mais controlar as mãos trêmulas cobertas pela luva de látex, ele sentia-se apenas um visitante naquele corpo, como se estivesse sendo controlado por um parasita, saiu do carro com uma confiança que não sentia, porque não era dele, abriu o portão com facilidade, observando tudo ao redor antes disso, o quintal era grande, possuía um grande jardim, iria desovar o corpo ali, só precisava plantar algumas das flores que havia nos vasos no quintal por cima e estava resolvido, não iria fazer uma bagunça. Pegou um lençol do varal.

      A porta da casa estava apenas encostada, entrou em silêncio e viu o homem sentado assistindo o noticiário, pegou o lençol que carregava e enrolou no pescoço do homem que se debateu um pouco até perder totalmente o ar e morrer.

     Arrastou o homem até o jardim, enterrou o corpo da vítima, plantando lindos girassóis em cima de algo tão ruim. Limpou a sujeira que fez, saindo da casa disfarçadamente da mesma maneira que entrou.

     Hiroshi estava certo, acabar com isso resolveria as sensações estranhas, aqueles eram realmente sintomas de abstinência, e somente um assassinato fazia esses sintomas irem embora. Mesmo que quisesse parar, não podia mais, cederia ao vício ou deixaria os sintomas corroer sua vontade de viver, ele não tinha mais escolhas. Deveria pensar no que fazer, matar somente criminosos, mas e se os sintomas não sumirem? E se isso só funciona se for com gente de bem? Ele iria enlouquecer se continuar pensando nisso, era melhor continuar com sua falsa ronda e esquecer isso por enquanto.

     Ele tentou controlar seu corpo para continuar fazendo a patrulha, mas não foi obedecido, piscou os olhos e já estava dentro de casa deitado, remexeu-se na cama e encontrou um pequeno bilhete embaixo do travesseiro.
     "Não tente descobrir coisas sobre mim, da próxima vez não vou apenas forjar uma testemunha."

O Acaso do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora