Capítulo Único

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1.631 Palavras


As cores que sua câmera capta são quentes, laranja e vermelho, um sol se pondo no horizonte, clichê, mas agradável aos olhos, todos gostam de um pôr do sol e sua cliente quer um em seu ensaio fotográfico, então ele vai fazer valer cada centavo que ela gastou depositando sua confiança nele.

Feng Xin ama isso.

Ama o fato que através da lente tudo é novo, diferente e brilhante.

Pequenas folhas podem fazer tanta diferença com o foco e o posicionamento certo.

A mulher tem uma coroa de louros no cabelo, um vestido branco esvoaçando com o vento litorâneo da praia, o cabelo pintado de ruivo seguindo o mesmo destino do vestido, sendo levado pelo vento, dando movimento para a foto, junto com seu sorriso que enche a imagem com alegria, enquanto em seus braços há um buquê com copos-de-leite que a deixaram com uma aparência delicada e amável.

Um joelho na areia molhada. Click.

Um novo ângulo a partir de uma poça no chão e seu peito sendo arranhado pela areia. Click.

Salvar sua câmera de uma onda quando uma foto dentro do mar quase a leva para o céu das câmeras.

Tirar uma nova foto com ela deitada na água, usando o filtro de luz natural alaranjada. Click.

Não está perfeito agora, mas com alguma edição, esse ensaio vai ser maravilhoso.

Feng Xin ama ver o mundo através de suas lentes, ver suas cores, formas, tamanhos, valorizar os detalhes que foram perdidos pelos que passaram com pressa demais para notá-los, enxergar o oculto em uma expressão fechada, capturar momentos únicos e emoldurá-los com carinho.

Feng Xin ama ser fotógrafo.

Ele se despede da mulher e diz que as fotos vão estar prontas em cinco dias. Ele quer levar seu próprio tempo para testar filtros, presents, cores, iluminação e aperfeiçoar a qualidade da imagem, talvez se ele fizer bem o suficiente, ela o deixe usar alguma foto boa na próxima exposição artística dele.

O ônibus de volta para casa o exauri, ele deveria ouvir Mu Qing e comprar um carro para suas viagens a trabalho, mas ainda parece tão mais cansativo dirigir sozinho. Talvez se ele levar Mu Qing, ele vai estar ocupado demais ouvindo sobre suas pequenas insatisfações para se sentir realmente cansado.

Se Mu Qing estivesse aqui, ele não estaria prestando atenção na pequena gota de água que a chuva deixou na janela, ou nos fios elétricos que passam por toda a estrada, acompanhando sua viagem como um amigo fiel, Feng Xin também não notaria como as colinas são de cores diferentes por causa das plantações ou como havia uma linda mariposa tomando carona no chapéu de uma pobre turista.

Não, ele não daria atenção a essas coisas se Um Qing estivesse aqui, pois as sardas em seu nariz ocupariam sua mente, o tom acinzentado de seus olhos roubaria suas palavras e seu humor abalaria seu coração.

O mundo pode encantar Feng Xin.

Mas é Mu Qing que o seduz com seu olhar simples e mal interpretado.

Sua casa não está vazia quando ele chega sujo de areia e exausto do sol em seus ombros, seu marido está costurando algo no ateliê, com uma expressão séria que ele quer fotografar sempre que avista aquele belo vinco entre suas sobrancelhas, ou o crispar de seus lábios concentrados que sempre parecem estar em uma linha desgostosa fora de casa, mas que dentro de quatro paredes estão sempre levemente levantados para cima.

Fotografias e Lembranças DistantesOnde histórias criam vida. Descubra agora