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"Bom dia Bea!" Catarina, a recepcionista me cumprimenta quando chego ao andar. Estou descabelada, com cara de sono, meio pálida pela falta do café da manhã, irritada com o mundo pelo dia infernal e cansada dos perrengues do dia. "Senhor Mayerle não vem hoje." abruptamente paro em frente à sua mesa, com o desespero crescendo dentro do peito.

"Bom dia Cata. Como assim não vem? Hoje temos tantas reuniões que eu não lembro nem o total e ordem"

"Ele ligou e disse que não vem porque se deu férias" dá de ombros. "Vou te falar que fiquei com inveja. Ele disse que o Caio vai assumir a partir de amanhã, hoje o outro filho vem assumir os compromissos, mas o bonitinho ainda não chegou"

"É muito tarde pra que eu volte para casa e finja que morri?" penso alto enquanto me despeço e vou em direção a minha mesa.

"Sim! Eu não suportaria um dia sem sua presença." Catarina grita enquanto estou de costas.

Levanto um braço e aumento a voz "Eu sei que sou irresistível, mas não é pra tanto, amore".

Começo organizando em pastas diferentes os documentos de cada reunião que teremos hoje, a primeira está marcada para daqui quarenta minutos e o meu chefe pegou férias e o filho ainda não deu as caras.

O Sr. Mayerle tem um filho do primeiro casamento e um do seu segundo casamento. D. Marta, atual esposa, é um amor de pessoa, sempre que pode vem até a empresa visitar o marido e fofocar sobre a vida dos funcionários. Eu geralmente sou a portadora das fofocas, e é por causa dela que vivo atualizada com todos os babados do prédio. Caio é o filho do casal, trabalha como vice-presidente ao lado do pai. Ele é o típico mulherengo babaca, está a cada dia com uma mulher diferente curtindo a vida, e para melhorar, é meu melhor amigo e padrinho da Alice.

Nos conhecemos quando comecei a trabalhar na empresa, ele tentou me passar a cantada mais fuleira do século e eu com toda calma e sinceridade dispensei. Hoje somos melhores amigos confidentes, onde eu conto fofocas dos outros e ele me conta das noitadas. Já tentei acompanhar ele, mas como sou mãe solteira com espírito de velha, fiquei uma hora na festa e tive que voltar para casa correndo. Depois desse dia concluímos que eu seria convidada apenas para os churrascos entre amigos.

O filho mais velho do Sr Mayerle trabalha em outro estado, em sete meses trabalhando na empresa nunca o vi pessoalmente. Tem uma foto na sala da presidência, mas também nunca parei para prestar atenção.

Quando termino de separar tudo e organizar a sala onde a primeira reunião será feita, vejo que o primogênito do Sr Mayerle ainda não chegou, mesmo faltando dez minutos para o início da reunião. Como o desespero exige medidas drásticas, resolvo que o melhor a se fazer é uma bela maquiagem e ligar para quem pode me socorrer. Pesco minha necessaire dentro da bolsa e busco o batom, corretivo e máscara de cílios enquanto disco o número do Caio.

"Gatinha! Sentindo minha falta?" Caio sempre me atende com o gatinha, acho fofo até.

"Você sabe que isso sempre, né? Mas hoje preciso da sua ajuda, mais que todos os dias". Mantenho o celular sobre a mesa no viva voz enquanto termino de passar corretivo e começo a passar a máscara de cílios. "Seu pai resolveu tirar férias e avisou que seu irmão está vindo, mas ele ainda não deu as caras."

"Calma gatinha, o Peter sempre aparece. Não precisa arrancar os cabelos por isso. Já já ele estará ai."

"Caio, você não entendeu." suspiro e fecho o batom. "Faltam exatos quatro minutos para o início da reunião e a Catarina já levou todos para a sala. Só falta ele."

"Caio, não se preocupe com as asneiras da senhorita aqui. Eu cheguei no horário correto" me assusto e acabo derrubando alguns produtos no chão quando uma voz aparece do além e uma mão clica em encerrar a ligação. "Senhorita, presumo que você seja paga para organizar assuntos relacionados a empresa e não se maquiar. Espero que esteja com tudo pronto para a reunião."

QueridoOnde histórias criam vida. Descubra agora