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Boa leitura! 


Passamos na casa do Sr e Sra Mayerle para buscar Alice, que estava dormindo tranquilamente. Peter me ajudou a instalar o bebê conforto no carro sem acordá-la e nem acordar Catarina, que cochilava com a cabeça encostada na janela. Voltei a me sentar no banco do carona em silêncio. Peter manteve-se em silêncio durante o trajeto até sua casa, que ficava alguns quarteirões à frente da casa dos seus pais.

Quando chegamos à casa, Peter indicou um dos quartos para que colocasse Alice. Com muita angústia, deixei minha filha deitada ao lado de Catarina enquanto voltava para a sala.

"Beatriz, posso conversar com você?" Peter me chama. Sigo em direção a sua voz chegando até a cozinha, noto que retirou o paletó e gravata, ficando com a camisa branca social com as mangas puxadas até os cotovelos, na mesa descansa uma tábua de frios com duas taças de vinho branco. "Sente-se e coma, notei que não jantou na festa."

"Não estou com fome, obrigada." Me sento à sua frente.

"Você precisa se alimentar. A conversa não será tranquila."

"O que está acontecendo?" Bebo um gole do vinho que me foi oferecido. Aguardo sua resposta enquanto pego um pedaço do queijo em cima da tábua.

"Embora eu esteja acompanhando o caso, acho melhor esperar pelo Caio. Ele prefere falar com você."

"Por favor, eu preciso saber o que está acontecendo." Peter desvia o olhar. "Eu preciso proteger a minha filha de alguma forma." Meus olhos enchem de lágrimas.

Sinto o toque da sua mão na minha. "Com isso você não precisa se preocupar, jamais deixaria que algo acontecesse com vocês." Seu olhar teima a me passar mensagens subliminares de desejo, que devem ser coisas da minha cabeça. "O Caio deve estar chegando. Ele pediu que eu deixasse ele conversar sobre isso, pois ele quem conhece a sua história."

Suspiro concordando com suas palavras.

"Vamos, coma alguma coisa enquanto isso."

"Se você não queria conversar sobre o que está acontecendo, qual é o assunto?"

"Eu gostaria de me desculpar pela maneira que tratei você durante este tempo." Ele solta minha mão e passa as mãos pelo seu rosto. "Eu tinha algumas desconfianças sobre você e acabei sendo um babaca."

"É. Você foi mesmo. Mas que desconfianças eram essas?"

"Isso tem relação com o assunto que o Caio precisa tratar com você. Você vai entender tudo em breve." Concordo mesmo contra minha vontade. Escutamos um carro se aproximar da casa e Peter levanta olhando pela janela. "Vamos. Ele chegou."

Levanto e sigo para a sala para encontrar as respostas que tanto procuro.

Caio entra pela porta da frente todo desalinhado e vem em minha direção.

"Você está bem?" Pergunta enquanto me abraça.

"Sim, estamos bem." ele me afasta pelos ombros com uma análise minuciosa procurando por algum machucado, "Catarina está no quarto com a Alice." Analiso seus olhos temerosos enquanto encara seu irmão. "Você pode me falar o que está acontecendo? Não estou gostando desse mistério todo."

"Vamos, sente-se." Caio me empurra até o sofá. Peter está em pé ao lado me olhando com ternura. "Você sabe que desde que me contou sobre a sua história e da Alice eu comecei a investigar seu ex, né? Faz um tempo que o Peter me questionou o motivo de estar vigiando tanto." Arregalo meus olhos por imaginar mais alguém julgando as minhas escolhas em manter Alice em segredo. "Eu contei a ele apenas que ele tinha se envolvido com uma amiga e que não era confiável, por isso que Peter resolveu voltar para São Paulo. A família do Carlos está envolvida com vários esquemas criminosos que estão sendo investigados pelo Peter."

"Ainda não entendi qual a minha ligação com tudo isso, Caio." Olho em direção onde Peter se mantém em pé. "Desde o término eu nunca mais o vi. Você sabe que eu jamais deixaria ele ver que eu tive a Alice."

"Eu sei Bea. O problema é que agora ele está atrás de você. O Peter começou a desconfiar disso recentemente, mas não conseguimos descobrir o real motivo para a aproximação dele."

"Espera. Ele está querendo falar comigo?" Peter desvia o olhar. "Ele descobriu sobre a Alice?"

"Não sabemos." Peter se pronuncia pela primeira vez. "Ele é o pai da bebê?"

"Ele jamais será considerado um pai para a minha filha." Falo com raiva.

"Bea, você precisa ficar longe de tudo por um tempo, até que eu consiga descobrir tudo que ele está planejando. Depois de tudo que descobrimos eu não acho que seja uma boa ideia você ficar desprotegida com a Ali." Caio se mantém abaixado em minha frente. Eu vou levar vocês duas para a minha casa até tudo acalmar."

"Não acho uma boa ideia, Caio. Você é a primeira pessoa que iria acolher as duas em qualquer situação e como precisa estar todos os dias na empresa, elas ficariam desprotegidas no apartamento." Peter anda até o sofá e senta ao meu lado. "Elas podem ficar aqui. Sempre mantenho a segurança em dia e posso trabalhar de casa. Acho mais seguro inclusive para a bebê."

"O Peter tem razão, Bea, mas se você não se sentir confortável com isso, nós podemos dar um jeito." Caio me olha preocupado. Odeio ser um peso para as pessoas.

"Posso ficar aqui por um tempo. Não precisa se preocupar com isso."

"Tudo bem. Vou chamar a Cata. Amanhã passamos na sua casa para pegar algumas coisas para você e para a Ali."

"Vou pegar alguma coisa para você poder dormir." Peter levanta e sai em direção ao corredor. Aparentemente, voltamos à postura de deus todo poderoso e inalcançável. Toda educação, compaixão e ternura parecem ter evaporado.

"Você tem certeza que pode ficar aqui sem problemas?" Caio me encara procurando algum sinal de dúvida. "Eu sei que é mais prático e seguro, mas se não fica confortável eu dou um jeito."

"Não precisa se preocupar mais, sério, vamos ficar bem." Sorrio para tranquilizá-lo, embora meu coração esteja quase saindo pela boca e a vontade de chorar esteja entalada na minha garganta. É muita informação para um dia só, me sinto sufocada no meio dessa bagunça, além de culpada por arrastar a família Mayerle comigo.

"Caio." Catarina aparece descabelada e se joga nos braços do namorado.

"Eu estou bem, fique calma." Catarina chora em seus braços enquanto ele tenta consolar a namorada. "Esse negócio de namorar é diferente, mas bom, né? Olha só, faz uma hora que me viu e está toda cheia de saudade."

"Cala boca seu idiota. Eu estava preocupada com você."

"Fica tranquila. Estou bem." Beija seus lábios e segura sua cintura. "Agora vamos para casa. eu tinha dito que ia tirar esse vestido de você, e é só nisso que consigo pensar agora."

"Credo, bem menos vocês dois." Rio do casal e sigo para o quarto onde Alice dorme serena.

Agora só quero tomar um banho e chorar com minha filha nos braços. 

QueridoOnde histórias criam vida. Descubra agora