Já estamos na festa há algum tempo. Senhor e senhora Mayerle já foram para casa, dizendo que estava muito tarde e precisavam descansar. Caio e Peter já apresentaram a nova linha de perfumes aos convidados e agora estamos esperando todos os cumprimentos para podermos abrir a pista de dança.
Estou em um canto da festa vigiando de longe o que está acontecendo. Estou cansada e entediada, queria estar em casa com meu bebê, sentindo seu cheirinho. Meu coração aperta de saudade, mesmo fazendo poucas horas que estamos separadas.
Enquanto estou no canto, noto uma movimentação estranha na entrada principal. Os seguranças estão mais atentos e em maior quantidade, deixando de cobrir os fundos e a porta de entrada para o salão que divide a propriedade.
Por precaução, sigo em direção onde Caio está abraçado com Cata, conversando com seu irmão. Sinto que a aflição aumenta à medida que chego perto dos meus amigos.
"Caio" chamo ainda a alguns passos do grupo. "Acho que alguma coisa está acontecendo na entrada do evento." pontuo quando vejo que sua atenção está direcionada a mim.
"Não deve ser nada" Peter me corta.
"Não sei. Não estou me sentindo bem, acho que vou para casa." Resolvo ignorar o corte.
"O que você tem?" Cata sai do abraço de Caio e vem em minha direção. "Eu vou com você."
"Não precisa se preocupar, Cata. É só uma sensação ruim, logo passa." Sorrio para acalmá-la enquanto abraço meus braços.
"Bea, não sai. Realmente tem uma confusão aí em frente." Caio informa segurando o celular em uma das mãos, enquanto a outra busca abraçar a cintura da namorada. Busca o olhar do irmão. "Precisa tirar elas daqui agora".
"O que está acontecendo?" Catarina olha o namorado com preocupação.
"Depois eu te explico. Preciso que vocês saiam pelo estacionamento lateral agora."
"E você?" Pergunto assustada com a situação. Eu não posso morrer, tenho uma filha para criar e voltaria dos mortos antes de ela cair nas mãos do pai.
"Eu vou em seguida. Só vou conversar com os seguranças e vou logo atrás de vocês." Beija a testa da namorada. "O Peter vai levar vocês em segurança para casa." Ele acena para o irmão e sai sem dizer mais nada.
"Vamos" Peter me puxa pelo braço. Não que seja necessário, minha vontade é correr o mais rápido possível para o carro. "Catarina, anda. Meu irmão sabe o que está fazendo."
"Fale com grosseria comigo mais uma vez e eu arranco as suas bolas." Ela sorri cínica e passa por nós.
"Entra." Abre a porta e me espera que eu entre no banco do carona.
"Eu vou no banco de trás." Tento soltar meu braço, mas ele ignora e me coloca sentada no banco. "Grosso" resmungo.
Como se nada estivesse acontecendo, Peter liga o carro e sai da vaga no mesmo instante que escutamos alguns estouros.
"O que é isso?" Catarina grita do banco de trás enquanto me encolho no banco.
"Fica calma." consigo sussurrar enquanto ainda estou encolhida.
"Calma? Não é o seu namorado que está em meio a um tiroteio. Não peça para ficar calma."
"Não adianta gritar com ninguém, Catarina. O Caio sabe o que fazer." Peter, por incrível que pareça, me defende.
"É muito fácil para vocês. Estão aqui em segurança." Grita ainda grudada na janela.
"Você também está em segurança. E ele não é menos importante pra mim. Você sabe muito bem o motivo."
Encosto minha cabeça na janela enquanto o carro se distancia daquele lugar. Catarina tem uma irritante mania de diminuir os sentimentos dos outros quando está nervosa. Isso me irrita demais. Entendo que está estressada pelo namorado ter ficado para trás, mas não foi como se nós tivéssemos abandonado lá.
"Qual o seu endereço? Vou levá-la em casa." escuto a voz de Peter e sinto seu olhar.
"Pode me levar na casa dos seus pais? De lá eu peço um táxi."
"O que você quer na casa dos meus pais? O Caio vai para casa depois da festa. Vou deixar a esquentadinha da sua amiga no apartamento dele."
"Só preciso buscar a minha filha. Mas posso pegar um táxi da casa do Caio para lá."
"Filha?" Sua voz transmite um tom de dúvida.
"Olha, sinceramente hoje eu não estou afim de ser maltratada por você. Não quero discutir."
Seguimos em silêncio. Até o telefone tocar na minha bolsa.
"Caio? Você está bem?" Atendo no primeiro toque.
"Você ainda está com o meu irmão? Me diz que está, por favor."
"Sim, o que está acontecendo?"
"Coloca no viva-voz" Tremendo, consigo colocar o celular no viva-voz, mais perto de Peter que divide sua atenção entre a estrada e a ligação.
"Pronto." é a única coisa que consigo falar.
"Peter, é o senador. Ele fez isso tudo. Preciso que você leve a Bea para outro lugar. Não leva ele para a minha casa. Busca a Alice e leva as três para a sua casa."
"Tudo bem. Você está aí ainda?"
"Saindo agora. Preciso falar com a Bea quando chegar, mas vou passar em casa primeiro para despistar."
"Caio, o que está acontecendo?" sinto as lágrimas descerem pelo meu rosto. "Por favor, me fale, eu estou com medo."
"Calma amiga, vai ficar tudo bem." Sinto a mão da minha amiga no meu ombro.
"O que eu e a Alice temos com esse atentado? Pelo amor de Deus, alguém me fala." Fixo meus olhos em Peter, o mesmo me olha com pena."
"Bea, você precisa ficar calma, pela Alice. Eu juro que te explico tudo, mas pelo telefone não dá." Escuto o suspiro do outro lado da linha. "Confia em mim, tudo bem?"
"Tá bom. Se cuida."
A ligação é finalizada. Fico sem chão sabendo que alguma coisa está acontecendo por minha causa. Mesmo sem saber o motivo, só consigo pensar em manter Alice em segurança. Isso é a única coisa que me importa. A segurança da minha filha nunca estará em discussão. Tendo a família paterna que tem, a prioridade sempre será mantê-la longe de toda e qualquer vínculo paterno.
*
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Querido
ActionHoje o dia começou estranhamente chato. Acordei atrasada, com olhos doloridos de tanto chorar, Alice chorou para sair da cama, o carro demorou a ligar, o trânsito estava insuportável, a diretora da escola da Alice pediu que eu conversasse com ela e...