I. Fear

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Após um dia cansativo na faculdade, havia finalmente chegado em casa e podido retirar os tênis que pesavam meus pés, jogando-os de qualquer jeito do lado da porta e fechando-a em seguida. Arqueei a sobrancelha ao notar o completo silêncio que o apartamento se encontrava, podendo apenas ouvir o sons dos passarinhos da vizinha à frente, o que fez-me estranhar logo de cara.

Soltei um suspiro ao encarar a televisão desligada, começando a sentir um certo incômodo no peito.

Sem barulho da televisão, do videogame ou música alta pela sala de estar.

Algo estava errado.

Estava acostumado a chegar em casa e encontrar Jisung jogando algo em seu videogame ou assistindo seus desenhos favoritos no volume mais alto que conseguia, mas ele não estava esparramado no sofá naquela tarde. E era exatamente isso que estava estranhando.

Passei as mãos pelo cabelo e dei meia volta, andando em direção ao nosso quarto e abrindo a porta com cautela.

A expressão em meu rosto murchou no segundo exato em que bati os olhos na figura do meu namorado, encolhida ao lado da cama, no completo escuro. Aproximei-me aos poucos, logo ouvindo choramingos baixos e uma respiração curta, mas ofegante.

Não precisava ser um gênio para notar que ele estava passando por uma crise de ansiedade.

Já fazia meses desde que Jisung não sentia ansiedade à flor da pele, as tremedeiras ou a famigerada dor no peito e eu não poderia estar mais feliz por ver o meu garoto tão feliz por seus remédios estarem funcionando. Pelos menos eles estavam funcionando, até aquele dia.

Vê-lo daquela forma, depois de tanto tempo, me deixou à beira do desespero.

Ajoelhei-me ao seu lado, passando os dedos pelos fios descoloridos. Jisung levantou o olhar, me fazendo franzir o cenho, entristecendo. Seus olhos pareciam vazios, as lágrimas prestes a escorrer, seus lábios estavam entreabertos e sua respiração fraca, quase parando.

Sentei no chão, estendendo os braços para ele, que praticamente se jogou em mim, passando os braços ao redor da minha cintura e encostando a cabeça nas minhas coxas.

Abaixei o tronco o suficiente para deixar um beijo casto em seus cabelos, passando os dedos pelo rosto macio, contornando desde as orelhas até o nariz pontudinho.

— Olha pra mim — pedi baixinho, logo tendo os olhos castanhos me olhando sem reação. Odiava quando aquilo acontecia, quando Jisung perdia aquele brilho tão lindo que tinha nos olhos — Repete comigo, ok?

Respirei fundo e soltei o ar devagar, demonstrando como Jisung deveria fazer, porém, por mais que tentasse, seu corpo continuava tremendo.

— Levanta um pouco — pedi, mas Jisung negou com a cabeça, me apertando ainda mais contra seus braços e enfiando o rosto em minha barriga — Assim não vai conseguir respirar direito, amor... por favor.

Demorou segundos para Jisung suspirar pesado e levantar, sentando com as pernas cruzadas. Segurei suas mãos, tentando ao máximo passar conforto e segurança para ele enquanto fazia um breve carinho ali. Pedi para que tentasse novamente e ele apenas me olhou antes de engolir em seco e fechar os olhos.

Jisung franzia a sobrancelha toda vez que respirava forte e fundo, levei o dedo até o meio delas, fazendo uma leve pressão.

— Devagar.

Após várias tentativas, pude soltar um suspiro aliviado ao ver que a respiração do meu namorado estava, aos poucos, voltando ao normal. Levantei devagar, estendendo a mão para ele, que aceitou e se pôs em pé à minha frente.

— Muito bem — sorri, deixando um beijo em sua bochecha. Jisung me olhava, mas não falava nada e sabia que ficaria em silêncio até se sentir confortável — Vem cá.

Deitei na cama, dando batidinhas para que ele sentasse ao meu lado. Puxei-o para perto e encostei sua cabeça em meu peito, passando os braços ao seu redor em um abraço um pouco desajeitado. Continuei com os carinhos em seu cabelo e em sua mão, percebendo que os tremeliques ainda continuavam e sua respiração voltou a ficar fraca.

Jisung estava perto o suficiente para ouvir as batidas do meu coração, o que eu sabia que traria-o um pouco de volta à realidade.

— Respira comigo, Ji — pedi baixinho, voltando a respirar fundo e vendo-o me copiar — Quer água? Eu posso busc...

Antes que pudesse terminar, Jisung me abraçou com força, negando repetidas vezes com a cabeça. Seus olhos se fecharam com força e eu só pude suspirar, vencido.

— F-fica aqui comigo — pediu baixinho, quase soluçando.

— Eu não vou fugir, só vou pegar água — argumentei, ele continuou negando com a cabeça — Tudo bem. Não vou a lugar algum, ok? Estou aqui com você — assegurei, deixando um beijo em sua testa.

Jisung passou a batucar os dedos contra meu peito, parecendo se distrair aos poucos. Sua respiração havia se firmado e já não estava tão fraca como antes.

Fechei os olhos, abraçando-o com cuidado e sentindo uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto. Amava aquele garoto com todo meu coração, Jisung fazia parte da minha vida há bons 6 anos e não me imaginava mais sem ele de forma alguma. Vê-lo daquela forma tão vulnerável era uma sensação pior do que se levasse um soco muito forte no estômago.

— Eu te amo... — sussurrei, abaixando o rosto apenas para conseguir dar um beijinho de esquimó nele e, pela primeira vez naquela tarde, havia visto aquele sorriso tão lindo que tanto amava, mesmo que pequeno e fraco — Muito.

— Eu também — disse tão baixo que se não tivéssemos colados eu ao menos conseguiria ter ouvido.

— Melhor? — afastei a franja de seu rosto, olhando-o. Jisung afirmou — Que bom, meu pequeno.

— Eu sou maior que você — fez bico, batucando os dedos agora em meu braço.

— Só alguns centímetros — fiz sinal com os dedos, mostrando a língua para Jisung. Ele balançou a cabeça, voltando a fechar os olhos.

— Obrigado... — sorriu fraco novamente, me arrancando um suspiro.

— Que namorado eu seria se não estivesse com você nesses momentos? — perguntei baixo.

— Um namorado muito, muito ruim — brincou.

— Pois eu sou um namorado muito, muito bom, ouviu? — resmunguei, fazendo beiço. Jisung me roubou um beijo, não pude deixar de sorrir e beijá-lo novamente. Várias e várias vezes — Sabe o que tem que fazer amanhã, não é? — perguntei, me referindo a ele precisar comentar o ocorrido quando fosse para a sessão de terapia na manhã seguinte.

— Eu sei... — bufou — Queria ser normal.

— Você é normal, Jisung — fiz cara feia, cutucando sua costela.

— Você entendeu o que eu quis di...

— Nunca mais diga isso — repreendi, cortando-o e ainda o olhando com o cenho franzido em reprovação.

— Vai criar rugas se continuar com essa careta feia — cutucou entre minhas sobrancelhas assim como havia feito consigo mais cedo — Obrigado por sempre estar do meu lado, eu te amo — sussurrou.

Sorri sincero, puxando-o para um beijo calmo, podendo vê-lo sorrir ao que mordisquei de leve seu lábio inferior.

— Pois eu te amo muito mais — disse por fim, como se estivesse lhe contando o meu maior segredo.

E claro que não era, porque nunca escondi o quanto amava o meu menino. 

anxiety ⇢ chenjiOnde histórias criam vida. Descubra agora