Capítulo 10: O mundo será outro

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Você realmente deveria fugir, eu disse para mim mesma durante esses dez dias que se passaram e eu sei que essa vontade de fugir não seria contida por muito tempo. A mais alta nobreza estava no Conspícuo Salão a convite do Príncipe Sebastian Crux. Em honra aos convidados ilustres, o ambiente encontrava-se ainda mais resplandecente. O motivo por detrás do baile ainda era desconhecido para todos, exceto para o Príncipe. Como costumeiramente, as mulheres trajavam-se de vestidos tons de rosa e bege. Por insistência da Duquesa de Chamal aceitei de presente um vestido de cor branca com um decote aberto, com detalhes em azul e acompanhado de uma tiara de diamantes. Para os cavalheiros, a sóbria combinação de preto e branco fazia-se presente.

- Definitivamente, esta não será uma noite comum. - Disse a Duquesa de Chamal enquanto olhava atentamente para cada detalhe no ambiente.

- Tudo me parece absolutamente normal. Esplendido como sempre, mas absolutamente normal. - Opinou Bárbara.

- Vossa alteza, o Príncipe Sebastian, não daria um baile com apenas um mês do falecimento de sua adorada mãe se não houvesse uma razão para isso. O que pensas sobre isso, Srta. Emma? Como futura rainha deve ter uma opinião assertiva.

- Vossa Graça acreditaria se eu dissesse que não sei o que pensar a respeito?

- Absolutamente. Duvidar da futura rainha definitivamente não é o ato mais sensato a se tomar.

- Questionar as razões do seu soberano, tampouco. - Dissera uma voz grave atrás de nós. Era ele. Ouso dizer que pude senti-lo antes mesmo que dissesse uma só palavra.

- Vossa alteza, perdoe-me tal insensato ato de indelicadeza! - Exclamou a Duquesa de Chamal enquanto curvava-se acompanhada de todos que estavam no salão. Mas, o Príncipe pareceu obstinado a ignorar a todos.

- Srta. Emma, pode me acompanhar por um momento?

***

- Sua alma faz o som que o mar faz. Você sabia disso? - Disse o Príncipe Sebastian assim que entramos em seu salão privativo.

Estávamos próximos o suficiente para meu coração acelerar a ponto de quase saltar do peito.

- Você está deslumbrante, Srta. Emma. - O Príncipe disse enquanto encostava levemente seus lábios nos meus.

- Por que não me contou desde o início que sabia quem eu era? - Indaguei enquanto recuava.

- Porque eu não queria perdê-la.

- Por que contar agora então?

- Porque agora eu posso lhe oferecer a liberdade. - O Príncipe Sebastian disse enquanto me oferecia uma taça de vinho.

- Como espera fazer isso? - Indaguei antes de tomar o primeiro gole da bebida. O vinho possuía um sabor peculiar e potente que deixava uma sensação quente na boca após ser ingerido.

- De onde eu estava haviam linhas que eu não podia mudar, mas agora eu sei exatamente o que preciso fazer para nos libertar. - Declarou o Príncipe com convicção.

- E o que seria? - Questionei dando de ombros.

- Eu tomarei o poder esta noite. - O Príncipe afirmou. Eu não contive a risada, mas imediatamente um torpor tomou conta de mim.

- Como pretende lutar contra todos os soldados do seu pai? - Questionei enquanto bebia o restante do vinho.

- Hoje utilizarei o Aparato pela última vez, não para transferir o poder de um ser racional para um irracional, mas para me devolver o que nunca deveria ter sido tirado. Então, eu não precisarei lutar contra os soldados do Rei, Srta. Emma. O medo que todos sentirão será suficiente para que o controle mude de mãos. - Disse o príncipe em tom sério. A sensação de iminente desmaio me fez entender que não se tratava de uma brincadeira, tratava-se de uma ameaça de usurpar o trono.

- Eu não me sinto muito bem... - Eu sussurrei enquanto sentia minhas vistas embaçarem.

- Espero que um dia me perdoe por isso. - O Príncipe disse enquanto me segurava em seus braços.

- O que você fez? - Gritei tentando me desvencilhar dos braços dele.

- Você vai dormir e quando acordar o mundo será outro.

- O que você fez? - Chorei enquanto lutava para fugir dali. O chão começou a trepidar. Algo dentro de mim começou a queimar, mas não havia mais tempo.

- Por favor... - Eu disse quase sem forças.

- Eu faço isso por nós.

- Você é um monstro! - Exclamei antes de adormecer.

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