—Por que você ainda está me seguindo, Payton Moormeier?— disse ela, parando no meio da rua, nem se importando com o fato de que algum carro poderia vir e se chocar contra nós. E percebi que ela sabia meu nome e sobrenome.
—Você sabe quem eu sou??
—Sim, e você sabe quem eu sou. Por que você ainda está me seguindo?
—Porque, S/n Rodriguez, eu caminhei pra muito longe da escola e perdi meu ônibus, e eu estava procurando uma maneira tranquila de sair da conversa, mas não encontrei uma, então me resignei ao meu destino.
—Que é??
—Caminhar, até meus pais notificarem meu sumiço e a polícia me encontrar nas periferias da cidade.S/n suspirou.
—Onde você mora?
—Ao lado do Cemitério de Los Angeles
—Está bem. Venha até minha casa. Deixo você lá.
—Ahh, obrigado.
—Sob a condição de que você prometa não forçar esse troço de editora.
—Está bem. Você quer recusar uma oportunidade, isso é decisão sua.
—Bom.Caminhamos lado a lado no asfalto quente, houve mais 5 minutos de silêncio e procurei uma pergunta para fazer a ela.
—Posso ler o resto daquele poema?— eu enfim disse, porque parecia a opção menos ruim.
(Opção um: então... Você é, tipo, uma cross-dresser ou algo assim?
Opção dois: o que tá rolando com a sua perna?
Opção três: você é definitivamente algum tipo de viciada em drogas certo? Digo, você acabou de sair da reabilitação, não é?
Opção quatro: posso ler o resto daquele poema?)—Que poema?— ela disse
—O do Pablo. A dança. Ou seja lá qual for o nome.
—Ah. Sim.— S/n parou, girou a mochila e pegou o livro e empurrou em minhas mãos. Ele caiu aberto em Pablo Neruda, então tive certeza que ela tinha lido muitas vezes.Poema:
A Dança (Pablo Neruda)
Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
Ou flecha de cravos que propagam o fogo:
Amo-te como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta a luz daquelas flores.
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,Senão assim deste modo em que não sou nem és
Tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
—É lindo— eu disse a S/n enquanto fechava o livro
—Você acha?— ela olhou para mim com os olhos levemente apertados
—Você não acha?
—Acho que é isso que as pessoas dizem quando lêem poemas que não entendem. É triste, acho. Não lindo.Eu não consegui ver como um poema de amor perfeitamente bom era triste.
—Aqui— ela disse enquanto abria o livro e arrancava a página com o poema nela— Você deveria ficar com ele, se gostou. Ler poesia bonita é uma perda de tempo no meu caso.
Peguei o papel da mão dela, dobrei e guardei no bolso da calça. Eu gostava de pessoas assim. Pessoas que conseguiam se separar de posses materiais com pouca hesitação.
A casa de S/n era exatamente o tipo de lugar que eu esperava que ela morasse. O jardim tinha crescido demais, a grama se multiplicando. As cortinas nas janelas fechadas, e a casa em si tinha dois andares e era feita de tijolos cinzas. Na entrada da garagem, havia um carro, um pequeno Hyundai branco com um adesivo dos Strokes no para-brisa traseiro.
—Fique aqui, tenho que pegar as chaves do carro.
Fiquei parado sozinho no gramado enquanto esperava. O carro era estranho. Por que ela caminhava quinze minutos até a escola todos os dias se tinha carteira de motorista e um veículo?
—Você tem carteira de motorista?— S/n disse atrás de mim. Eu me assustei um pouco, porque nem havia ouvido ela sair da casa, mas lá estava ela, com as chaves do carro. Elas também tinham chaveiro dos Strokes nela. Eu nunca tinha ouvido muito o som deles antes
—Ah, sim. Tirei alguns meses atrás.
—Bom— ela jogou as chaves pra mim e caminhou até o lado do carona e pegou o celular. Depois de vinte segundos, ela levantou os olhos da tela, as sobrancelhas erguidas — E então? Vai destrancar o carro ou não?
—Você quer que eu dirija?
—Não, eu achei que ia ser hilário dar as chaves pra você e ficar parada aqui até alguém inventar teletransporte. Sim, Payton Moormeier, quero que você dirija
—Ahn ok. Estou meio enferrujado.Destranquei o carro, abri a porta e sentei de frente ao volante. O carro tinha o cheiro dela, um cheiro de perfume de garoto adolescente, o que era muito confuso para mim.
—Vou me esforçar para não nos matar— eu disse mas S/n Rodriguez não respondeu, então eu ri da minha piada, no caso um "ha ha".
Me inclinava sobre o volante, suando, consciente de que:
A) estava dirigindo o carro de outra pessoa
B) não dirijo já tem meses
C) passei na autoescola por um triz pois o avaliador era um primo meu de segundo grau com um ressaca, e tive que parar algumas vezes para ele vomitar—Você tem certeza, absoluta, de que passou na prova de direção?— S/n disse virando para olhar o velocímetro que mostrava que eu estava a 27 km, no caso 13 km abaixo do limite de velocidade.
—Eu apenas tive que subornar dois oficiais, eu fiz por merecer a minha carteiraPor um milésimo de segundo eu poderia ter visto um simples sorriso na sua boca
—Então... você é de East River, certo??
—Sim
—Por que mudou de escola no último ano??
—Gosto de aventuras— ela disse, seca
—Bom, nós somos uma instituição emocionante.
—Hink parece ser engraçado. Aposto que se mete em cada tipo de bobagem
—TotalmenteEntão graças a Deus chegamos. Parei perto da calçada.
—Acho que nunca vi alguém tão nervoso dirigindo... Você precisa de um minuto para se acalmar??
—Ah claro, só uns segundos... apenasPensei que S/n viesse para o banco de motorista, mas ela disse para desligar o carro. Descemos e entreguei as chaves a ela e ela simplesmente trancou o carro como se tivesse intenção de entrar.
Eu deveria convidá-la para entrar??
Mas ela se virou e disse:
—Ok. Tchau. Vejo você amanhã, talvez. Nunca se sabe aonde irei estar
E ela começou a descer a rua mancando
—Não tem quase nada pra esse lado além de um pequeno rio e um cemitério a uma quadra de distância.
Ela não disse nada, não olhou para trás, apenas mexeu as mãos ao lado do corpo como se disse "Eu sei, darrrrr" e seguiu andando
Eu fiquei a observando, até ela desaparecer na outra esquina.
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A Química [Adaptação Payton Moormeier]
Fanfiction"As pessoas são só cinzas de estrelas mortas. Somos um conjunto de átomos que ficam juntos por um breve período, e depois... Nos desfazemos. Quando tudo isso terminar, e nos dispersarmos pelo nada novamente, teremos um novo começo. É como ter nossos...