PARTE III - HALLOWEEN

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Foi no Halloween do ano passado. Leah tinha decidido entrar no meu quarto pela minha janela mesmo a porta da frente estar funcionando muito bem. Minha mãe e a mãe dela haviam saído para jantar com algumas outras amigas, e eu e Leah estávamos grandes demais para sair pedindo doces nas casas mas toda vez que alguém batia na porta pedindo doces, Leah era a primeira a correr com uma máscara horrível e assustar as crianças e depois enchê-las de doces.

Tudo estava diferente naquela noite, o ar parecia diferente. Eu me sentia diferente e Leah também. Assistimos um filme bobo de terror que estava passando na televisão e depois subimos para o meu quarto, deitamos em um lado livre do meu tapete enquanto comíamos jujuba e amendoim.
- Brad me mandou uma solicitação de amizade no facebook. - Leah diz.
- O Brad? o capitão do time da escola?
- Ele mesmo.
Eu me levanto, jogando outro amendoim na boca.
- Tá, ele é... bonitinho.
Leah revira os olhos e apoia as mãos na barriga.
- Será que ele está afim de mim?
- Ou só quer levar você pra cama.
- Ou os dois.
- Nunca é os dois, Leah. Estamos no ensino médio, os garotos nunca estão apaixonados eles só querem uma transa e bye bye.
Leah se levanta e deita de barriga pra baixo, o queixo apoiado nos braços dobrados.
- E as garotas? - Ela pergunta baixinho.
- As garotas se apaixonam. Se for por outra garota, elas vão se apaixonar ainda mais.
- Nabby?
Eu prendo a respiração, com medo do que vem em seguida.
- O que?
- Você já se apaixonou por um garoto? Eu faço uma cara de nojo e enfio mais uma jujuba na boca.
- Não, não de verdade. Teve o Kayle, mas isso foi no jardim de infância antes de eu saber que eu gostava de... bem, você sabe.
Eu havia deixado Leah e Isla saberem da minha sexualidade assim que eu tive certeza sobre quem eu era. A recepção delas foi tão boa quanto a da minha mãe, e eu sei que a recepção do meu pai também seria melhor ainda se ele estivesse vivo. Ele me amava do jeito que eu era, e sei que isso nunca iria mudar. Eu sentia muita falta dele.
Leah se levanta e se aproxima, cruzando as pernas em formato borboleta.
- E por alguma garota, você já se apaixonou?
Eu sinto um nó em minha garganta, e meu coração dispara no peito de forma dolorida. Eu não sei quando meus sentimentos por Leah começaram a mudar, mas tudo nela começou a fazer cócegas no meu peito. Começou a me fazer ficar acordada até tarde imaginando como seria se ela fosse minha namorada, ou se ela sentisse o mesmo por mim. Mas eu não podia dizer aquilo em voz alta, eu não podia me dar ao luxo de perder alguém tão incrível como Leah Kim. Ela era única de tantas formas. O jeito que amava bandas de rock, mas que também sabia cantar todas as músicas dos filmes da Disney. Ou como ela sempre tirava a casca da maçã e cortava os pedaços pra só assim comer. Sua pergunta ainda paira no ar, entre eu e ela. Eu dou de ombros.
- E você, já se apaixonou por alguém? - Eu pergunto.
As bochechas de Leah ficam vermelhas e ela dá um sorrisinho.
- Ah, talvez mas... não sei. É algo complicado.
Sinto uma pontada no peito. Alguém que fazia Leah Kim corar era um filho da mãe muito sortudo.
- Complicado porque? - Eu pergunto. Leah suspira, estufando as bochechas com ar e soltando logo em seguida. Sempre fazia aquilo quando estava nervosa.
- Porque eu não sei se sou correspondida, entende?
Eu abaixo a cabeça, sentindo uma ardência nos olhos.
- Claro, eu entendo. - Eu respiro fundo e olho para ela. - Mas quem seria idiota em não corresponder aos sentimentos de Leah Kim? É loucura. Você é... perfeita, Leah.
Ela sorri e cora de novo. Sinto uma ventania na minha barriga, e meu corpo esquenta quando ela sorri pra mim, os olhos escuros sumindo.
- Acha mesmo?
Ela se aproxima, nossos joelhos se tocando.
- Sim, eu acho mesmo.
- Me desculpa. - Ela diz baixinho.
Antes que eu entenda o motivo de suas desculpas, Leah se aproxima e deixa um selinho demorado em meus lábios. Eu automaticamente fecho meus olhos, sentindo seus lábios nos meus. São quentes, macios e um pouco trêmulos. Eu sinto ela em todas as partes do meu corpo. O cheiro do seu perfume, dos seus cabelos. Escuto as batidas do seu coração misturadas com as minhas e presas ali, naquele beijo. Quando ela se afasta, me sinto vazia. Leah enrosca os próprios dedos nervosamente no colo. Eu sinto vontade de começar a rir, gargalhar até minha barriga doer ou simplesmente sair pulando pelo meu quarto esbarrando em todos os tecidos que estão jogados no chão. Leah Kim havia me beijado.
- Você é a única que pede desculpa para alguém antes de um beijo.
Ela olha pra mim e percebe meu sorriso.
- Nabby. - Ela resmunga baixinho, escondendo o rosto nas mãos enquanto deita com a cabeça em meu ombro.
Eu aproveito sua proximidade e aliso seus fios negros. São tão lisos. Eu sempre pensava como seria acariciar seu cabelo, não da forma que ás vezes eu fazia, aquela forma ''você é minha amiga, deixa eu arrumar seu cabelo'', mas daquela forma. Do tipo ''estou tão apaixonada por você que eu quero te tocar o tempo inteiro.''
Ela se afasta e eu penso que talvez fui longe demais. Seus olhos estão perdidos no meu rosto, e eu toco suas bochechas com meu polegar.
- Você é muito bonita. - Eu digo baixinho, com medo de assustá-la e ela correr pra longe, pra longe de mim.
- Você é a garota mais bonita que eu já conheci, Nabby. Soube disso no momento que sentou do meu lado naquela calçada.
Meu peito esquenta tanto que não consigo me impedir de me inclinar pra frente e tomá-la nos braços. Seus lábios deslizam nervosamente nos meus, como se ela estivesse com medo de errar o beijo. Eu seguro seu rosto no lugar e ela parece relaxar um pouco, e eu solto o ar em seus lábios quando a ponta da sua língua encontra meu lábio inferior. Leah começa a ficar ofegante e apoia as mãos pequenas em meus ombros, me derrubando no tapete.
- Desculpa. - Ela está sorrindo e eu acompanho sua risada alegre.
Eu a puxo para cima de mim. Ela é tão delicada e pequena, eu estava com medo de quebrar ela. Eu não me importava onde aquilo iria parar, eu não me importava no depois, não me importava de que talvez meu coração fosse despedaçado em milhões de pedaços depois. Seria uma honra ter o coração quebrado por Leah Kim.
- O que estamos fazendo? - Ela sussurra, as mãos em minha cintura.
- Deveríamos parar...
- Não. - Ela diz. Os olhos perdidos nos meus. - Eu quero.
- Leah...
- Nabby, eu quero isso.
- Não quero que se arrependa.
- Eu não vou me arrepender.
Eu confio nas palavras dela e quando levanto meus braços com Leah ainda em meu colo, ela tira minha camiseta deslizando suas mãos em meu corpo por cima do meu top. E então ela faz o mesmo, levantando os braços e quando tiro seu vestido preciso segurar o ar por um momento ou dois. Toco em sua pele nua, pensando no quanto imaginei aquele momento diversas vezes mas como a realidade era muito melhor.
- A sua pergunta. - Eu digo baixinho. - Sim, eu já me apaixonei por uma garota.
Leah não me deixa terminar de falar, seus lábios logo me silenciando. Eu não preciso dizer mais nada, porque ela sente. Eu sei que ela sente. Quando eu me levanto, com ela em meu colo e suas pernas torneadas ao redor da minha cintura, eu ainda acho que estou sonhando. Quando o lençol da minha cama recebe nossos corpos entrelaçados eu ainda acho que é um sonho.
- Nabby? - Ela me chama, enquanto deixo beijos molhados em sua barriga.
- O que?
Eu levanto meu olhos e me aproximo dela. Suas mãos estão em meu rosto e seus olhos carregam tanta certeza que eu penso que talvez não iremos nos arrepender daquilo.
- É a minha primeira vez. - Ela fala, a voz com um toque de vergonha.
Eu dou um sorriso, afundando o rosto no pescoço dela. Suas mãos acariciam meus cabelos, e eu volto a olhar pra ela assentindo.
- É a minha primeira vez também, Leah Kim.
Ela sorri e me beija, e eu sinto seu coração martelando no mesmo ritmo que o meu.

Entre costuras & abóborasOnde histórias criam vida. Descubra agora