PARTE I - LEAH KIM

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A ponta da agulha atravessa a linha e acerta meu dedo. Eu fico observando a gotinha de sangue apontar e sair pelo meu dedo indicador.

– Que merda. 

 Olho em volta, os amontoados de tecidos espalhados no meu quarto me deixando quase invisível. Pego um tecido velho e pressiono no dedo. 

 Escuto minha porta do quarto se abrir e me levanto sobre os joelhos, os tecidos quase me cobrindo.

– Você precisa arrumar esse quarto, Nabby. Deve ter alguma coisa morta aqui, com certeza.

 Eu reviro os olhos para Isla, minha melhor amiga. Meu quarto está limpo, mas meu hobby é costurar e eu não sou organizada quando se trata disso porque só consigo trabalhar na bagunça. Na verdade é mais que um hobby, é uma paixão. A primeira vez que peguei em uma agulha eu tinha seis anos. Eu sei que garotinhas de seis anos não deveriam mexer com agulha mas, a minha vó não tinha regras nenhuma. Ela era o tipo de pessoa que me fazia viver, e me deixava viver. Tudo que sei sobre costura eu aprendi com ela, e passei a observá-la costurar durante minhas férias de verão inteira, e vez ou outra, quando minha mãe não estava por perto minha vó deixava eu mesma pegar na agulha. O problema é que eu acabei gostando demais de costurar.

 Isla senta do meu lado e fica encarando o tecido que estou terminando de costurar.

– Já estou terminando, só precisa de...

 Me levanto e pego um broche pequeno de borboleta e coloco, substituindo pela ponta da agulha. Eu me levanto, com Isla no meu encalço. Me coloco na frente do espelho e deslizo o tecido pelos meus braços.

– E então, o que achou?

 Isla fica me avaliando, passando ao meu redor.

– Eu com certeza usaria, e olha que eu odeio rosa.

 Eu dou uma voltinha, passando a mão no casaco rosa de veludo que eu acabei de costurar. O broche de borboleta dá um toque quase vintage.

– Tem certeza de que não vai participar do concurso de fantasia? É sua última chance.

 Eu suspiro e começo a jogar os cadernos dentro da mochila.

– Usar minhas roupas sem as pessoas saberem que eu costurei é confortável, e eu não me importaria de costurar fantasia para a escola inteira desde que...

– Você não precisasse se expor. blá blá blá, Nabby. Não é grande coisa.

– Você fala isso mas, olha pra você Isla.

 Isla me mostra a língua e me empurra, se olhando no espelho. Seus cabelos longos e loiros descem até o meio das costas. Ela é alta e tem os quadris largos. Seus olhos são enormes e azuis. Sempre me pergunto como alguém como ela é amiga de alguém como eu mas Isla nunca me viu diferente. Ela consegue conciliar bem em ser amiga de uma não-popular e ao mesmo tempo chamar a atenção dos garotos populares, e ás vezes das garotas também. 

– Podemos ir agora? Prometi dar um beijo na Kendra antes de entrar na aula, estamos adiando isso há semanas.

 Eu pego minha mochila do chão e saimos do meu quarto, descendo as escadas.

– Quem é Kendra? Eu achei que estivesse com o Dylan. 

– Nabby, você como boa amiga de uma bissexual precisa me acompanhar. Não estou mais com o Dylan, ele era um babaca. Agora estou saindo com a Kendra uma garota a qual talvez eu precise adiar de novo o nosso beijo porque você está nos fazendo atrasar.

– Tá, tá. Foi mal.

Estudamos há quinze minutos da minha casa. Isla e eu vamos andando todos os dias porque é muito mais confortável do que pegar carona com a minha mãe e o novo namorado dela. É quase Halloween o que indica casas enfeitadas e aquele tempo nem frio e nem calor que é o outono.

Entre costuras & abóborasOnde histórias criam vida. Descubra agora