E uma chance de redenção

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Caetano não conseguia acreditar, ou talvez a ficha dele não tenha caído até aquele momento.

"Ribeirão Pires voltou a vestir São Caetano do Sul antes mesmo que começasse qualquer coisa. Um semblante conturbado e raro assustava o outro à sua frente.

"Roberto? O que há de errado?" Desvia de suas mãos quando tenta se aproximar, aumentando a agonia em seu peito.

"Chega. Enquanto 'cê permanecer com esses ideais tóxicos sobre homossexuais, coisa que você também é e nós sabemos disso!" Aumentou o tom de voz quando ameaçou interromper, cenho franzido com revolta. "Enquanto 'cê preferir a ignorância, amor em meus braços 'cê não vai achar."

"O que você quer dizer com isso?" Riu incrédulo, bochechas se corando e suas pernas fraquejando. "Está me chamando de..."

"Caetano, se for pra soltar essas abobrinhas, saiba que eu não vou abaixar a cabeça igual o André e o Bernardo fizeram. Ou você acha que eles não falam mais com você por que estão ocupados demais um com o outro? 'Cê acha mesmo que essas palavras preconceituosas que você solta não machucam?" O homem mais alto se aproximou, e pela primeira vez percebeu lágrimas nos olhos de Roberto. Presenciar a explosão de alguém tão calmo e reservado como ele estava sendo assustador. "Por favor. Saia daqui e não me procure nunca mais."

"Se é assim." Caetano ergueu seu queixo, se negando a deixar se abalar. Pegou seu casaco e passou direto pelo ribeirão-pirense, saindo da casa em passos rápidos. "Não pense que vou chorar por você."

"Quando todo esse ódio sair da sua mente, saiba que vou estar bem aqui te esperando." Foi a última coisa que ouviu antes de bater a porta, orgulhoso demais para voltar atrás."

Um gemido escapou de seus lábios quando sentiu a dor sufocante no peito. Era como se estivesse morrendo, lágrimas grossas descendo por seu rosto, mãos puxando os cachos loiros quando os soluços vieram. Passaram seis meses e pela primeira vez que o sul-caetanense sentiu-se desabar, sentado na própria cama, sozinho e vivendo no automático.

Era a primeira vez que pensava tão a fundo sobre si mesmo, todas suas ideias de certo e errado entrando em choque e nem mesmo uma pessoa para se apoiar. Havia dito coisas horríveis as pessoas que mais se importava, deixando seus estigmas religiosos acima de toda a verdade em que viviam. Ouvia sempre os padres pregarem contra a maldade do mundo, e ele havia cometido a maior delas sem questionar duas vezes.

Há quanto tempo Santo André e São Bernardo do Campo se amam dessa forma? Há quanto tempo esconderam e fingiram coisas apenas para que não brigassem? Se era doloroso para ele, agora, percebendo a gravidade da situação, como havia sido pros dois ouvirem tais palavras saindo de sua boca justamente quando tiveram confiança o suficiente?

As crianças, Diadema e principalmente Mauá, que era educado de perto por ele, seriam influenciadas por esses pensamentos também? E se fossem, se tornariam igual a ele e se revoltariam contra os irmãos? Ou estavam com raiva dele também?

E Ribeirão Pires, que provavelmente sabia de tudo e mesmo assim o escutava, acolhia, beijava e amava quando aparecia no final da tarde e saía nos primeiros raios da manhã? Como suportou tudo isso por tanto tempo?

São Caetano do Sul soltou uma risada cheia de amargura, se achando o pior dos seres já vivos, coisa que ele fez com muito sucesso pelo visto.

"Eu não acredito." Se colocou de pé, começando a andar de um lado pro outro. "Maldição!" Pegou um vaso (um dos presentes de Roberto) e o jogou contra a parede.

O começo da destruição não se limitou ao seu quarto, e quando percebeu, já tinha destruído todo o andar de baixo da sua casa, seus braços sendo segurados com força por Bernardo, de olhos arregalados.

"O que 'cê está fazendo? Quer colocar sua casa abaixo com você dentro?" O balançou, mostrando os cortes que tinha. O loiro soluçava, assentindo com a cabeça. Talvez fosse sua real intenção mesmo.

"Graças a Deus Mauá nos avisou antes que uma tragédia acontecesse." André parou ao lado do namorado, um sorriso triste no rosto. "Ficamos preocupados, e quando chegamos na esquina vemos uma cadeira voando pela janela."

"Cê realmente sabe fazer um show, ave Maria." São Bernardo o soltou devagar, dando um passo pra trás. Por mais que estivesse com uma careta, podia enxergar a preocupação e o receio nos olhos dos dois irmãos. Aquilo machucou ainda mais o coração do sul-caetanense.

"Hm." Sons ilegíveis saíram de seus lábios antes de se ajoelhar diante dos dois. O andreense arregalou os olhos.

"O que você está fazendo? Se levante, você vai se machucar mais!"

"Deixe-o." O são-bernardense interrompeu, olhar astuto e julgador. "Quero ouvir o que ele tem a dizer."

"Me perdoem." Juntou as duas mãos, tentando tomar fôlego, sem conseguir olhar nos olhos deles. "Eu... não mereço qualquer coisa de vocês, mas por favor, não desistam de mim. Eu não vou conseguir sozinho." Voltou a chorar, inconsolável e se segurando na barra da calça de ambos. "Me desculpe, me desculpe de verdade!"

Novamente se sentia como aquela criança assustada, numa região que permaneceu estagnada por tanto tempo com os esvaziamentos constantes em favor da capital. No começo, eram só os três – sonhadores, brincando nos rios e nas estradas de terras, comiam juntos, dormiam juntos e lideravam sua região juntos até a separação de seus territórios. Tantas coisas que foram jogadas fora por um preconceito desmedido.

O consolo não demorou, sentindo o perfume de São Bernardo e os braços fortes o puxando para seu peito, um abraço quente e necessitado que ambos queriam. Santo André se juntou ao abraço também.

"Está tudo bem. Nós estamos aqui agora." Sussurrou André, fazendo carinho em seu cabelo, mesmo que, no final, os três estivessem chorando.

Não era só sobre perdão, mas sim sobre consertar os erros feitos.

Do outro lado do bloco, Rio Grande da Serra estava à procura do irmão, também tendo sentido uma agonia enorme no peito. O encontrou sentado na parte de trás da casa, nos degraus de madeira olhando pro céu laranja da tarde, um cigarro nos dedos trêmulos e rosto embebido em lágrimas.

"Tsc." Soltou simples, não tendo percebido o irmão atrás de si. "A espera vai ser longa." Sua voz estava rouca quando trouxe o cigarro de volta aos lábios, choro discreto e silencioso que o outro não ousou interromper.

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Boatos de que até os dias de hoje, Ribeirão Pires continua a espera de São Caetano do Sul, esperando pacientemente que ele deixe seu orgulho de lado e volte para seus braços....

Acho que de todos os meus oc's, o ABC são alguns dos mais.... Complexos de se entender~
Há muita história sobre eles que eu ainda preciso escrever, mas isso eu preciso com a RMSP inteira gwkfkwjxkwj

São Caetano venk, deixa eu te encher de porrada >:( pfvr, alguém dê uma surra nele tem criança chorando tem gente implorando

DestruiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora