capitulo 2

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Miguel chegou lá em casa no outro dia uma hora mais cedo quando eu abri a porta para ele seu rosto não estava bem um tanto abatido parecia que não havia dormido a noite bem , também pudera né como alguém dorme sabendo que vai perder a mãe para sempre. Eu lembro quando perdi a minha  , não tem oque se falar para a pessoa de luto pois nada conforta essa perda tão grande.
  Apenas coloquei a mão em seu ombro e lhe dei um sorriso fofo.
 
— fiz café Miguel vem vamos lá tomar uma xícara
 
— obrigado Lídia
 
Pego ele pela mão e facilmente levo até a cozinha deixando ele se sentar na cadeira que estava mais próxima e sirvo a ele um gole de café
 
— que tal age te conversar um pouco depois você  vai trabalhar
 
— tudo bem pode ser
 
— você gosta de fazer oque no tempo livre ?
 
Pergunto curiosa...
 
— eu gosto de ler e olhar as ondas ,  eu também vou a um bar muito legal que tem no centro
 
— Humm legal qualquer dia podemos ir lá dançar e curtir um pouco que tal ?
 
— seria bem legal. Eu e meu pai conversamos ontem e vamos desligar os aparelhos dela essa noite e amanhã e então faremos o funeral.
 
Vejo ele se entristecer e então suspiro segurando sua mão e olhando em seus olhos
 
— sinto muito , se puder gostaria de ir no enterro para te dar uma força até porque já nos conhecemos a uma semana e gosto muito de você meu amigo quero te apoiar nessa hora difícil
 
Vejo ele sorrir de leve e olhar para mim , por um instante vejo um brilho em seus olhos lindos e azuis da cor do mar
 
— seria legal da sua parte obrigado Lídia
 
— pode contar comigo sempre
 
Suspiro um tanto aliviada e me levanto quando abro a torneira para lavar a xícara a mesma se solta do cano e começa uma molhadeira na cozinha.
  Começo a gritar tentando tapar a água com as mãos e ele se levanta vindo me ajudar. Começamos a rir da situação e naquele momento esquecemos nossas dores e sofrimentos.
  Como uma coisa banal nos fazia felizes , nos éramos como plantas secos sedentos por água  e a felicidade era nossa água era oque precisávamos. Quando a água parou estávamos  ensopados e a cozinha estava como uma piscina olhamos em volta e rimos mais ainda da situação
 
— acho que tem que concertar isso também
Ele diz com um sorrisinho
 
— estou percebendo né
Digo rindo como louca
 
— coloca no meu orçamento e eu vou comprar uma torneira nova para cá
 
— isso fica por conta da casa Lídia e não se preocupe não é a torneira e só colocar uma rosca nova que ela estará concertada
 
— ufa achei que seria mais difícil
 
Digo dando risada e começo  a torcer minha blusa , vejo ele fazendo o mesmo e me lembro de uma roupa que eu tinha guardada e daria nele certinho
 
— Miguel eu tenho uma roupa guardada vem aqui comigo vou te dar e você  se troca para não se resfriar
 
Subimos para meu quarto e eu encontro uma bermuda de lá no Preta e uma blusa vermelha e entrego a ele
 
— bem tenho o banheiro do outro quarto pode ficar a vontade vou me trocar também
 
— valeu mesmo
 
Vejo ele sair sorridente um pouco mais tranquilo do que assim que ele chegou. Vou para o banheiro e me troco paro na frente do espelho e fico pensando no que ele estava sentindo e eu também fico pe dando que o destino colocou no meu caminho alguém está com uma dor tão maior que a minha que me fez amenizar o sofrimento que estava no meu coração para dar força para ele , as coisas funcionavam de uma maneira tão perfeita que até  era surpreendente.
   Depois de vestir uma blusa preta com uma bermuda lilás saio do banheiro secando os cabelos e encontro Miguel parado olhando para a fotografia de Carlos que ainda estava no meu quarto
 
— esse é seu falecido marido ?
 
— sim ele se chamava Carlos
 
— você parecia está muito feliz aqui
 
— sim eu era mas tenho certeza que vamos ser feliz de novo
 
Ele sorrir para mim e diz
 
— vamos sim , e seu sorriso e lindo tente sorrir mais vezes
 
Isso me faz lentamente mostrar os dentes em um sorriso sincero e de gratidão
 
— obrigado Miguel
 
— não a de que
 
— bem vou secar a cozinha , e preparar um almoço
 
Saio do quarto e vou para cozinha começo a secar o chão e suspiro assim que termino. Meus braços estavam cansados então resolvo pedir comida pego um panfleto que havia ganhado na rua e peço duas quentinhas e um refrigerante , assim que desligo vou lá em cima ver como ele estava
 
— e então já conseguiu aí
 
— sim estou quase finalizando , falta só pintar tudo
 
— uau ficou lindo obrigado
 
— bem agora está seguro também é não vai cair
 
Isso era muito bom para mim não queria nada caído na minha cabeça. A comida chega muito rápido e então chamo ele para descer e nos sentamos na sala
 
— eu pedi comida hoje estou cansada de secar a cozinha
 
Dou um leve sorriso e entrego a dele coloco o refrigerante na mesinha e me sento ao seu lado
 
— pedi igual para ninguém sentir inveja tá bom
 
— obrigado Lídia , você iria invejar meu prato tenho certeza
 
Rimos mais um pouco isso deixava o clima mais leve e mais tranquilo.
    Conforme a tarde foi caindo o clima começou a ficar bem pesado e triste ele já não sorria e quando seu celular tocou e ele atendeu , fiquei para meia ansiosa e logo vejo ele desligando e olhando para o mar
 
— oque houve Miguel  ?
 
Chego por traz dele e pergunto colocando a mão em seu ombro
 
—  minha mãe Lídia ela faleceu agora a pouco , eu nem me despedi não tive tempo eu precisava de mais. Sua voz ficou embargada e as lágrimas rolaram molhando seu rosto deixando um rastro de tristeza e dor , viro ele para mim e o abraço bem forte deixando ele chorar o quanto ele quisesse pois isso ajudaria um pouco.
  Depois de quase duas horas em silêncio ele se levanta e diz
 
— vou ir ver meu pai , amanhã passo aqui e te pego para o funeral. Obrigado Lídia
 
Diz em um tom baixo mais firme , ele estava sendo destroçado por dentro e isso fazia com que meu coração se aperta até caber em uma caixa há de fósforo
 
— até amanhã Miguel e fica bem tá bom estou aqui se precisar
 
Ele se vira e olha para mim vejo em seu rosto a angústia e eu não podia fazer nada para mudar isso. No primeiro dia que eu o vi seus olhos tinham um brilho tão intenso e hoje a morte havia levado uma parte dele para longe e isso fez com que seu sobrolho se apagar e só restasse um azul opaco no fundo de seus olhos tristes.

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