Eu devia ter me afastado enquanto ouvia as palavras finais de padre Caetano para essa garota bonita e pequena.
Mas, não! Simplesmente, permaneci parado enquanto o velho sacerdote dizia a ela que a jovem encontraria um homem para ser seu, alguém com quem constituiria uma família.
Era estranho ver uma moça de uns vinte anos parecendo preocupada com o fato de não se casar. Ela ainda era tão jovem... Com certeza apareceria alguém em sua vida.
Se bem que... na idade dela eu também tinha esse sonho, e já estava à beira dos quarenta e estava sozinho.
Contudo, a diferença entre nós era gritante.
Essa moça era bonita demais para qualquer olhar. Qualquer homem iria querê-la por esposa. Já eu...
Que mulher iria querer um homem grosseiro, quase sem estudo, de quase dois metros de altura, parecendo um urso, todo peludo e caipira?
Cocei a barba.
— Licença, moça — lhe disse, e então cruzei por ela.
Carregava nas mãos um fardo de vinho que eu mesmo produzi. Queria entregá-lo para padre Caetano e voltar para minha fazenda. Eu nunca me senti bem em meio as outras pessoas, preferia o mato e os bichos.
Quando minha mãe me teve, ficou mal falada em toda a cidade. Era outra época, e sei que as pessoas tinham preconceitos contra uma mãe solteira que se estendiam ao filho. Eu fui muito ridicularizado na escola, o que dificultou minha aprendizagem.
Aos catorze, quando conclui a oitava série, eu simplesmente abandonei tudo, e fui morar na fazenda que pertencia aos falecidos pais de minha mãe.
Cuidar das galinhas, dos cavalos... enfim, trabalhar, me deu uma nova visão da vida.
Eu podia ser algo além que o bastardo.
Com o tempo, a cidade foi passando a me tratar melhor, mas eu já estava tão habituado a vida no campo que não consegui voltar a ter um contato maior com a sociedade.
Deixei as garrafas na sacristia e me afastei. Cruzei pela imagem de um Cristo crucificado, e fiz sinal da cruz.
Depois me afastei, chegando à área externa da catedral. Luciene, a dona da cafeteria, estava ao lado da jovem que eu vi na igreja. Ela sorriu na minha direção, um convite para que eu me aproximasse, então o fiz.
— Matteo, essa é Marcela — nos apresentou.
Marcela parecia encolhida ao seu lado. Era tímida, uma flor de estufa.
Por que sei nisso? Por que a comparei as flores selvagens que eu costumava sair nessa cidade?
Eu era o tipo de homem que mulher nenhuma queria para marido, mas todas queriam para uma tarde ardente no celeiro. Esposas insatisfeitas, jovens procurando aventura... enfim, eu tive muitas.
E ainda assim, eu não tive nenhuma. O corpo sempre esteve lá, mas a alma era inalcançável.
Pensei nas palavras da minha mãe.
Seu tom doce pedindo um neto.
Voltei a observar a garota.
— Olá Marcela — cumprimentei. — De onde você é?
Deus, ela era gostosa...
— Florianópolis...
Eu gostei da voz dela. Contrastava com seu olhar temeroso.
— Não parece muito bronzeada.
— Eu nunca ia à praia.
Um sorriso tímido formou-se em seus lábios. Imaginei como seria beijá-la, sua boca derretendo sob a minha.
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Um bebê para Matteo Russo
Literatura FemininaLANÇAMENTO NA AMAZON DIA 30/11 Tudo que eu queria nessa vida era um bebê... Mas, não esperava que o teria de um homem como Matteo Russo. Viajei para Nova Trento no intento de conseguir a graça de ser mãe. Diziam que Madre Paulina podia curar a infer...