Capítulo 5 - Marcela

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Eu vi Matteo todos os dias das duas semanas que se seguiram. Ele costumava aparecer no fim da tarde na cafeteria, próximo do fim do meu turno, e depois íamos passear de mãos dadas até a praça da cidade, tomar sorvete ou simplesmente conversar enquanto observávamos o pôr do sol.

Matteo nunca mais me chamou para sua casa. De alguma maneira, eu entendia que ele estava tentando evitar ficar sozinho comigo depois do beijo que trocamos.

Aquele beijo...

Nunca fui beijada assim. Meu corpo inteiro entrou em choque e calor. Eu nem sabia que era possível experimentar estremecimentos tão intensos.

É isso... Foi por causa daquele beijo que eu soube que iria dar certo.

Ele iria me dar um bebê...

Como a profecia de Padre Caetano...

Eu mal podia esperar para segurar uma criança nos braços, uma resposta ao universo que me condenou a infertilidade.

Claro, eu estava tomando medicação desde que vi o médico na capital. Fiz questão de fazer todo o tratamento corretamente, aumentando minhas chances, mas ainda faltava o principal.

Eu precisava engravidar.

Devia ser casada, não é? Mas... E se Matteo não quisesse se casar comigo? Ele aceitou ser meu milagre, e estávamos namorando – não é? Eu acreditava que sim, apesar de ele não ter pedido – mas quanto tempo demoraria até nos casarmos?

Uma parte de mim dizia que eu devia apressar as coisas. Apressar meu milagre.

Porque ter um bebê...

Eu sei, eu sei...

Você vai dizer que sou jovem e tenho muito tempo para pensar nisso. Entretanto, em minha solidão na escola de freiras... e depois em casa... No noivado sem amor que tive... E depois vindo sozinha para Nova Trento... Eu só queria ter uma família.

Amor.

Alguém...

Um filho.

Quando o médico falou dos meus ovários, eu senti o impacto. A dor de talvez jamais experimentar isso me corroeu.

Então eu passei a me conformar com a solidão, minha parceira desde sempre.

Porque algumas pessoas não nasceram para serem felizes, não é?

Mas, então veio as palavras do Padre... E a figura grande de Matteo naquela igreja...

E tudo se perdeu na minha esperança.

Agora eu estava animada e ansiosa. Estava completamente obcecada em ficar grávida. Mas para isso eu precisava dormir com esse homem. Se ele se casasse comigo ou não, não mais importava, contanto que ele me desse um bebê...

Sinto sua mão quente segurando a minha, enquanto andávamos perto de um banco.

Seus dedos são calejados e grossos. Grandes. Eu me sinto tão pequena perto dele.

— Você quer se sentar aqui? — ele perguntou.

O sol já estava no seu poente. Perto de nós crianças gritavam enquanto corriam nos brinquedos da praça.

— Obrigada — disse, e aguardei que ele se sentasse ao meu lado.

Então, o encarei. Sorri.

Se tudo acontecesse como eu esperava, ele seria o pai do meu filho.

Era tão emocionante. Eu mal podia esperar para fazermos... sexo.

Sexo para fazer bebês.

Um bebê para Matteo RussoOnde histórias criam vida. Descubra agora