I.
Sempre que tinha que ter uma conversa difícil com Draco, o pai dele fazia chá.
Ele gostava de brincar que era um hábito muito inglês, mas Draco sabia que era algo na verdade bem típico do pai dele; algo que era cheio de nervosismo e incerteza, mas que tentava se disfarçar como uma criancinha colocando um lençol fino por cima do corpo e dizendo que tinha virado um fantasma. Muitas vezes, para os que não conheciam ele tão bem assim, ele até tinha sucesso em tal tentativa. Havia uma certa falsa confiança nos movimentos dele enquanto ele segurava o bule, uma fluidez treinada em suas mãos que parecia com calma enquanto ele colocava as xícaras lado a lado, perfeitamente organizadas.
Infelizmente, Draco vinha observando aquelas mãos desde que era tão pequenininho que tinha que ficar nas pontas dos pés para ver por cima da bancada. Se havia alguém que conhecia cada um dos maneirismos e peculiaridades e jeitos dele, esse alguém seria Draco. Diferente da maioria, ele não podia ser enganado. Nunca pôde.
Draco não podia dizer quando aquilo tinha começado. Desde que ele se lembrava, cada superfície reta que havia no lar deles esteve coberta por canecas com os fundos sujos, as paredes eternamente impregnadas com um forte cheiro de folhas de menta fervendo, algo que suavizava todas as memórias mais difíceis de Draco e fazia tudo parecer muito menos desafiador. Era um constante, uma verdade universal que ele podia esperar sempre, e privadamente Draco achava que sabia o porquê daquele hábito.
Veja, o pai dele nunca esteve preparado para ter um filho.
Apesar de ter o criado desde que Draco era um bebezinho e de Draco pensar nele como um pai, literalmente, biologicamente, ele não era um pai e ele era ridiculamente novo demais para a criança que tinha em seus cuidados.
Principalmente, especificamente, ele era novo e despreparado demais para a criança sempre muito teimosa e muito pirracenta que um dia foi deixada na soleira da porta dele com uma nota de Dumbledore e Pollux, um cobertor de cobrinhas e olhos que pareciam cinzas em certos ângulos e verdes em outros. Na verdade, nas primeiras semanas, sempre que Draco chorava, ele só sentava e chorava junto, por puro pânico. Não era ideal. Não era o esperado.
Regulus Black nunca tinha planejado para a morte de Lucius e Narcisa pelas mãos do Lord que eles traíram e ele certamente nunca tinha planejado para ter Draco Malfoy em sua vida, mas o universo era desse jeito mesmo. Ele adorava jogar coisas inesperadas na direção de pessoas desavisadas.
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what binds us, DRARRY
Fanfiction"Eu não acredito em destino," Harry disse, os olhos muito verdes enquanto ele observava a lua pálida no céu. "Eu não acho que exista uma magia forte o suficiente que me faria ser alguém que eu não quero ser ou fazer algo que eu não quero fazer." "Fá...