Capítulo 01 - Atos, atos memoráveis

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"Se eu pudesse fazer qualquer desejo agora, certamente pediria para estar mais um dia contigo. Eu pediria para contemplar seu sorriso novamente, e escutar sua risada, ver seus olhos cintilarem com toda a vida que jamais poderei ver em outros olhos. Eu desejaria ouvir sua voz. Eu pediria para poder te amar uma última vez."





A ventania brincava com as folhas em uma dança elegante no asfalto, criando redemoinhos e as levando para um destino desconhecido. Akutagawa as observava silenciosamente, guardava as mãos nos bolsos, escondendo-se dos raios fracos de sol que estendiam no chão à frente dele. Ele estava coberto pela sombra do muro no qual tinha se apoiado, a garganta anunciava a próxima série de tosses enquanto o rapaz rolava os olhos em busca de um sentido para tudo aquilo. Era tão jovem quando decidiu se juntar a Máfia do Porto, o ódio chamuscava no peito e o queimava por completo; chamas negras, elas o representavam bem. Ouviu de Dazai, seu mentor na máfia, que havia muito a ser feito para melhorar, pois Ryuunosuke ainda era fraco e rashoumon estava fora de seu controle. Ele sentia o fracasso na pele, doía feito tapas e socos que recebia do próprio mentor, quem diziam ter sido a melhor escolha para Akutagawa - informação que ele questionava algumas vezes, mas nunca chegou numa conclusão que pudesse lhe provar o contrário.


Além de Dazai, o jovem Akutagawa também tinha certo contato com outro membro chamado Nakahara Chuuya - este por quem desenvolveu grande admiração. Um segredo seu que compartilhou com Gin, sua irmã, e teve de ser obrigado a suportá-lo no sigilo por muito tempo. Ele não compreendia, de fato, como acabou desenvolvendo coisas a mais; sentia o coração ficar inquieto na presença de Nakahara, as bochechas também aqueciam às vezes quando sob o olhar do ruivo. Akutagawa estranhava o próprio comportamento, mas não quis pensar profundamente nisso, afinal, o que quer que fosse já não importava. Chuuya não teria conhecimento sobre essas coisas tão irrelevantes.


Ryuunosuke pensava, pelo menos. Na realidade ocorreu o contrário, e seu interesse explícito foi percebido por Chuuya.


Ele questionava, por vezes, se aquele olhar era direcionado para outras pessoas. Tendo Dazai como mentor, Nakahara não esperava receber tamanha atenção do garoto, quem, certamente, vivia em busca de aprovação do Osamu. Sabia que Akutagawa nunca a conseguiria. Observava-o tentar todas as manhãs, ser espancado e repetir o processo todas as tardes, antes de ser submetido a sessões de agressões e desistir pouco depois do anoitecer. Chuuya olhava de varandas, por trás de janelas, recostado em portas e paredes; preferia manter distância embora quisesse sempre vê-lo. Havia alguma coisa o atraindo para aquele garoto.


Não estava fazendo algo diferente agora. Mantendo os pés fixos na parede, seu corpo na horizontal, olhava para Ryuunosuke logo abaixo. Akutagawa balançava o tronco para frente e para trás ansiosamente, virava a cabeça para os lados, então recostava no muro; estava inquieto enquanto aguardava o retorno do ruivo. Chuuya repousou os sapatos de couro ao lado do garoto, ajeitou o chapéu sobre a cabeça e encarou Akutagawa. Aquele silêncio desconcertante os cercava.


- Terminamos por aqui - a voz de Dazai soou segundos depois, ele saiu de trás do muro e percorreu uma trilha que criou mentalmente em direção ao carro. Fez uma pausa para mirá-los. - Vamos.


- Não me dê ordens, idiota - Chuuya resmungou, seguindo seu caminho. Akutagawa assentiu silenciosamente.


Cada passo parecia afundar no chão, levando-o dessa superfície para as profundezas do inferno; embora o calor que gradativamente emergia em seu peito fosse, na verdade, reconfortante. Quem sabe aconchegante, se pensasse demais sobre. Dirigia sua atenção para o ruivo e deixava os pensamentos divagarem o mais distante possível - sentia que estava perseguindo um sonho, suas pernas se movendo impiedosamente num mesmo ritmo, na mesma direção, e tentava alcançá-lo sem esticar os braços, tornando a conclusão para tal desejo, inexistente. Akutagawa, então, somente baixou o rosto e permitiu-se ser guiado pelas passadas firmes de Osamu.

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