Capítulo 04 - Toques, aqueles tão almejados

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"Delicado como uma pétala de flor. Meu amor é jovem, delicado, quebradiço. Você não é frágil, mas delicado com as palavras. Elas me tocam, por dentro e por fora, fazem cócegas, me adoram e eu as adoro."




Ele procurou desesperadamente por todos os lugares. Visitou o escritório, a sala de reunião, o apartamento de Chuuya, e até mesmo a colina florida. Ele procurou incansavelmente, certo de que o encontraria no local mais inusitado possível, onde trocariam sorrisos e poderia lhe perguntar "para onde você tinha ido?" sem temer perdê-lo novamente. Ele procurou tanto que acreditou estar sonhando. Ele procurou de novo quando achou que era uma brincadeira sem graça de Dazai. Ele procurou às pressas e tropeçou nos próprios pés, pateticamente caindo de joelhos no chão inúmeras vezes. Ele procurou, foi afundo nos sentimentos que guardou para si mesmo, e procurou mais um pouco. Ele continuou procurando quando aceitou que Chuuya tinha partido. Ele procurou para sentir-se minimamente próximos do ruivo, mesmo sabendo que este não queria vê-lo de novo. Ele procurou por si mesmo na imagem do Nakahara, cujo havia se tornado um porto seguro sem Akutagawa perceber, um lugar para retornar quando perdesse tudo. Mas seu tudo tinha sido perdido assim que deixou-o ir embora. Ele procurou e não o encontrou em lugar algum.

Akutagawa ajoelhou-se no campo enflorado e observou as flores moribundas, acobertadas pela energia fúnebre do outono que se aproximava. Ele não esperava mais nada além disso: ser arrastado para qualquer lugar feito uma folha seca. Deixou dentre os lábios escapar um sopro frio, o último pingo de energia que havia consumido durante as horas em que esteve percorrendo um longo percurso. Permitiu essa despedida vir antecipadamente, embora pensasse que teria outra chance para desculpar-se.

- Ah, aqui está você - levantou-se num salto, quase perdendo o equilíbrio ao virar para Osamu. O homem espiou o campo, parando o olhar sobre Akutagawa à sua frente. - Um lugar realmente estranho para te encontrar. O que faz aqui?

A pergunta veio, mas Ryuunosuke não o respondeu. Ele olhou para as flores atrás de si com uma expressão culposa, saudosa, buscando por qualquer mentira tola que pudesse despistar Dazai - ambos sabiam, no entanto, que nenhuma mentira poderia enganá-lo. Dazai não estava verdadeiramente interessado, de qualquer maneira.

- Venha - disse ele. Dazai girou os calcanhares ao passo em que o garoto correu para sua direção. - Temos trabalho para fazer.

Assim como fizera com sua esperança, Akutagawa deixara a colina; abandonara as lembranças que tinha e dissolvera os risos suaves de Chuuya no passado. Os dias para o retorno de Nakahara estavam contados, bastava esperar.


*


Ele assistiu Osamu sair às pressas do prédio no porto. Sabia para onde estava indo e, por ordem do Chefe, não o seguiu. Odasaku já tinha partido àquela altura e seu mentor era o próximo a abandonar a Máfia do Porto, estava certo disto.

Akutagawa apoiou o corpo na parede e tossiu. Deixou as pétalas escaparem de sua garganta banhadas no próprio sangue, de forma que o fizesse sofrer cada segundo daquilo. Era uma tortura, as flores cresciam no peito e Ryuunosuke as sentia lá dentro, a fragilidade delas tornou-se sua, e não havia nada que ele pudesse fazer. Gin tinha buscado ajuda para o irmão, porém contatado um doutor para cuidá-lo, a verdade veio à tona; aquilo que Akutagawa tinha em mente desde o começo saiu da boca do médico.

- Em breve terão seus caules envolta do coração. Não podemos removê-las. É tarde demais para isto.

Ele não estava pronto para ouvi-la, entretanto. Sentiu certa raiva de ver o doutor tão tranquilizado diante da situação, camuflando a inveja da saúde deste.

Jardim Secreto - ChuuAkuOnde histórias criam vida. Descubra agora