Capítulo 02 - Tempo, tão breve

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"E por mais que eu tenha te desejado todas as noites para as estrelas, elas não foram capazes de o conceder a mim. Mas não foi suficiente para fazer-me desistir. Mesmo agora, eu ainda peço em silêncio para tê-lo em meus braços; para ter a oportunidade de deixar em seus lábios um único selo, este que dirá a você todas as palavras que eu não pude dizer. Então, quem sabe, desta forma você conseguirá entender os sentimentos profundos que desencadearam graças ao nosso tempo juntos."

Ele ajoelhou diante de uma roseira e acariciou as pétalas de um broto prestes a florescer. A fragilidade de cada pétala fazia seu coração saltitar, era belo, extraordinário ver a finura de uma flor tão pequena.
- Gosta de flores? - levantou quando escutou aquela voz tão familiar. Virou-se para encarar Chuuya, quem sorria de canto para ele enquanto ajeitava o chapéu sobre a cabeça. - Inesperado, vindo do cão da máfia.
- Boa tarde, Nakahara-san.
Um encontro não-planejado. Bem, Chuuya não tinha o planejado. Akutagawa esteve rondando essa região do parque desde quando descobriu que Nakahara gostava de visitar aquele lugar por ser isolado.
Sentiu a garganta coçar, aprontou-se a cobrir a parte inferior do rosto para caso viesse uma série de tosses, como o habitual.
- Então? - ele se aproximou do Akutagawa primogênito. Apontou para a roseira. - Gosta de rosas?
Assentiu em concordância, pegando uma das flores e a removendo da roseira cuidadosamente, sem ferir os dedos nos espinhos nem estragar o broto. Akutagawa ergueu a rosa e olhou-a cheio de deleite, espantado com tamanha beleza por trás da rosa; Chuuya o olhava também, sorria tranquilamente.
- É frágil. As pétalas podem rasgar a qualquer instante, e mesmo assim as mantenho unidas em minha mão, delicadas como sempre foram antes mesmo da rosa desabrochar.
Chuuya concordou.
- Nakahara-san gosta de alguma flor? - Ryuunosuke ponderou, voltando o foco dos olhos para o menor à sua frente, as mãos nos bolsos da calça e o sobretudo jogado sobre os ombros eram características típicas de Chuuya.
O mais velho balançou a cabeça, pensativo. Olhou para a roseira, em seguida para a rosa azul na mão de Ryuunosuke. Ele fechou os olhos e pensou, tentou lembrar de todas as flores que já viu e quais delas ele gostou. Nomes vieram em sua mente, pipocando um por um, formaram uma lista e Chuuya tentou trazer de volta aquele que pertencia a sua flor favorita. Por fim, ele esboçou um sorriso sutil, abriu os olhos azuis e respondeu a pergunta de Akutagawa no mesmo tom doce que apresentou quando convidou-o para um passeio, semanas antes.
- Miosótis. Mais conhecido como...
- Não-me-esqueças - Akutagawa o completou, baixando o rosto pensativo para a flor mais uma vez.
- Por que sabe tanto sobre flores?
Ele balançou os ombros em desdém. Não sabia pouco, nem muito. Apenas o suficiente; o suficiente para preferir rosas à narcisos, escolher lírios à dentes-de-leão e admirar rainhas-da-noite à girassóis. Akutagawa não gostava de botânica, sequer demonstrava interesse no cultivo dessas sementes. Ele só gostava de observar a singularidade de cada espécie, a poesia em sua existência e a sutileza na morte delas. Deixando esses fatos de lado, não sabia nada sobre flores e não gostaria de saber.
Essas flores, assim como suas vítimas, mereciam ser minimamente lembradas.
Chuuya suspirou e o arrastou para uma trilha entre as árvores. Os troncos se erguiam diante deles feito tijolos de muros, os cercavam, isolavam do mundo. Essas paredes também isolavam o som. Akutagawa não escutava o cantarolar dos pássaros ou o ronco dos carros, era somente silêncio. Um silêncio reconfortante, abafado por seus passos amassando a grama.
- Para onde estamos indo?
- Qualquer lugar - Chuuya o olhou com um sorriso singelo. - Qualquer lugar longe daqui.
Parecia um convite para fugir; e se fosse, Akutagawa certamente aceitaria. Mesmo pensando em Gin, ele concordaria em fugir para qualquer lugar longe dali.
Chuuya parou quando chegaram em uma pequena colina florida; cheia de cores vibrantes, pontilhada de flores, haviam tipos que Ryuunosuke nunca viu antes. Estavam abandonadas ali, em um "lugar qualquer".
- Conhece alguma delas? - o ruivo perguntou.
Akutagawa balançou a cabeça, abismado, sem poder formar uma frase clara em mente. Seus olhos exploravam os cantos visíveis enquanto a imaginação trabalhava no que ele não era capaz de ver; extensões majestosas de flores finitas. Queria poder conhecer cada uma delas e lembrar de sua beleza. Era um jardim secreto para apreciar na companhia de Nakahara.
- Posso...? - virou o rosto para vê-lo mas ainda mantinha os olhos vidrados nas pétalas dançantes. Chuuya riu nasalado e abanou a mão, libertando-o para explorar a colina.
Seus pés, apesar de envoltos por sapatos de couro, se agraciaram na caminhada sobre o gramado. O cheiro unificado de todas as espécies o receberam de bom grado após uma corrente forte de vento percorrer o declínio florado. Então Akutagawa pôde se apresentar a cada uma das flores, conheceu-as da mesma maneira que conhecia os territórios antes de invadir; aprendeu sobre elas assim como fazia a respeito dos alvos; e as adorou em suas palavras emboladas nos pensamentos, emaranhados como fios de costura, tais como aqueles que Gin costumava usar para corrigir as roupas que ambos vestiam. Os movimentos suaves que a garota fazia para atravessar a agulha no tecido eram os mesmos que seu irmão tinha feito para estudar o jardim secreto de Chuuya; cuidadosamente andava para não pisar em nenhuma flor, tocava com gentileza e, suavemente, ele ria. Desta vez sem forçar a boca, Akutagawa sorria.
Chuuya permaneceu paralisado no mesmo lugar desde que chegaram, para observar a infantilidade no percorrer do rapaz dentre os amontoados enflorados e as cores apaixonantes. Em nenhum outro lugar poderia encontrar um sorriso como aquele que via estampado no rosto de Ryuunosuke. Fez seu coração aquecer, e mais do que isso, acelerar bem como haviam feito os passos do outro. Aproveitou a distração de Ryuunosuke para baixar o chapéu a fim de disfarçar o leve rubor em seu rosto. Chuuya sorriu de canto, ah, esta era uma batalha perdida. Seu coração já tinha se rendido.
Malditas flores.

Jardim Secreto - ChuuAkuOnde histórias criam vida. Descubra agora