Capítulo 03 - Presentes, para você

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Então, sozinho em meu quarto, me perco nos sonhos mais íntimos e imploro para podermos nos reencontrar — seja no mundo imaginário dos sonhos, seja no mundo real. Eu apenas quero poder sentir seu calor mais uma vez e aproveitá-lo como se fosse a última. Esqueceria qualquer outro pensamento somente para focar em você; seu corpo, sua mente e sua alma resplandecente. Tudo o que te pertence me hipnotiza, apesar de eu não ter tido coragem para dizer em voz alta, como gostaria. Suas palavras formam fios e eles enroscam entre si, depois vagarosamente me prendem a sentimentos que eu jurava que nunca iria nutrir por ninguém.


Chuuya estacionou a moto na frente do prédio. Suas visitas a ele tornaram-se frequentes, e quanto mais ia para aquele lugar, mais angústia alimentava sua fúria por conta da ausência de Dazai, quem deveria estar em seu lugar para cuidar de Ryuunosuke. Ele apertou o pequeno buquê de rosas, seus caules envolvidos por um plástico branco, as pétalas azuis e vermelhas unidas em uma dança desajeitada de seus movimentos, decoradas por um laço de fita preta. Chuuya fez questão de trazer o buquê desta vez, apenas para vê-lo sorrir belamente como fizera quando o apresentou a colina florida. Desejava ver aquela faísca ardente queimar nos olhos de Ryuunosuke na mesma intensidade que queimaram quando cruzaram os olhares pela primeira vez; mas sem fúria, sem ódio. Chuuya pretendia conhecer o verdadeiro motivo para aquele brilho que chamuscava seu peito naquela exata tarde.

Subiu as escadas pressionando cuidadosamente os brotos contra o peito, tentando, em vão, manter o coração protegido dentro dele antes de chegar no sexto andar. Parou à porta dos Akutagawa, não tardando a ser atendido antes mesmo de bater nela. Gin abriu-a rapidamente, quase esbarrando no homem e esmagando suas flores. Ela o mirou, arregalou os olhos em surpresa, depois curvou-se para pedir desculpas, corrigindo a postura ainda cabisbaixa. Seu rosto belamente desenhado por anjos foi tingido de um tom suave de vermelho. Chuuya sorriu para a garota.

— Está tudo bem. Posso entrar? — ele apontou para dentro do apartamento, recebendo espaço para fazê-lo. Gin despediu-se com um acenar de cabeça, consequentemente fechou a porta atrás de si e correu para as escadas.

Chuuya respirou fundo ao passo em que direcionava o próprio corpo para o quarto no fim do corredor. No meio do caminho deixou o buquê dentro de um vaso branco com detalhes cinzas e vermelhos. Carregou-o para o quarto de Ryuunosuke e deixou as flores para exposição em cima de uma estante pequena, cuja chegava pouco acima de sua cintura. Voltou os olhos para a cama, absorto nos pensamentos hostis, pronto para encontrar Akutagawa em seu leito; adormecido, imobilizado por sua saúde frágil, debaixo dos lençóis recém trocados por Gin. O rapaz descansava pacificamente, deitado de braços, abraçado ao travesseiro como quem sentia saudade da infância, dos momentos em que sua mãe o tranquilizava com juras de amor — momentos que Akutagawa certamente nunca vivenciou. Momentos dos quais Nakahara não tinha certeza se conhecia. O passado era relativamente cruel.

Ele sentou na beira da cama, perto dos pés do rapaz adormecido. Retirou a jaqueta e as luvas, largando-as de qualquer jeito sobre uma cadeira que estava ocasionalmente ali. Gin a levava da cozinha para o quarto de vez em quando, para poder observar se havia sinais de melhora no irmão. E ouviu dela que não mudava. Se Ryuunosuke sentia alguma coisa, era um desconforto crescente no peito que instigava as séries de tosses secas, as quais inflamavam a garganta. Ela não suportava vê-lo tão mal, nem Chuuya sentia-se calmo. Ambos sofriam calados, incapazes de ajudar Ryuunosuke.

Chuuya odiava cada segundo disso. Portanto, esperançoso de que a situação do rapaz poderia mudar, ele o visitava todos os dias durante a tarde. Mori não estava muito de acordo com sua ausência, mas aceitou-a após Elise lhe dar uma bronca.

— Mhm... — Ryuunosuke remexeu um pouco, em seguida o espiou por cima dos lençóis. Ele esboçou um sorriso sutil. — Nakahara-san veio.

— Eu disse que viria todos os dias, idiota — resmungou raivosamente, mas Ryuunosuke sabia que não era intencional. Chuuya suavizou a expressão. — Se sente bem?

Jardim Secreto - ChuuAkuOnde histórias criam vida. Descubra agora