Quinta Carta

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"Amado Wooyoung,

Essa semana eu estive 'melhor', já consigo pensar em você apenas como uma memória bonita. Escrevo essas cartas mais para mim agora, uma forma de em quinze anos eu ainda ter essa memória vivida de você, pois sei que estão tirando cópias dessas mensagens. Comecei até fazer oficinas de desenho recentemente, para que eu possa ter alguma imagem sua para sempre.

Essa tem sido uma boa semana. Me sinto mais leve e pronto para enfrentar tudo.

Isso é o que me foi dito para escrever. Para passar o sentimento de tranquilidade e conforto para quem estiver lendo.

Apesar de eu ter mentido sobre fatos da minha vida, nunca gostei de mentir sobre os meus sentimentos. Você conseguia ver no meu rosto quando eu estava triste, irritado ou com ciúmes dos seus coleguinhas.

Eu amava o fato de que você percebia quase que de forma instantânea quando eu estava meio para baixo. Você nunca perguntava nada, apenas se aconchegava contra mim e me esperava. Deixava a meu critério se eu quisesse contar. Na maioria das vezes, eu não falava nada, eu não podia. Então apenas te embalava em meu abraço, como se fosse um ursinho. Na verdade, parecia que era você quem estava triste, mas eu adorava te ver tão pequeno sumindo em meio ao meu moletom. Apenas o topo de sua cabeça e seus cabelos cheirosos espalhados sobre mim. Éramos um só corpo.

Sabe um filho que está triste e só quer abraçar a mãe? Era exatamente assim que eu me sentia com você. Me trazia a paz e o conforto do colo de mãe. Você não sabe, mas eu não tive mãe. Sim, eu sei que alguma mulher por aí me gerou e carregou por nove meses, mas eu não tive realmente uma mãe. Cresci entre lares adotivos onde nenhuma das figuras maternas da casa me trataram verdadeiramente como filho, também nunca fiquei tempo o suficiente para me apegar a nenhuma delas. O mais próximo que cheguei de uma mãe foi a Senhora Jung, minha amada sogra, que fazia questão de me fazer sopas e abraçar forte toda vez que entrava pela porta. Sinto saudades dela. Se possível, mande um beijo e diga que estou com saudade dos ensopados.

Voltando a nós. Obviamente eu não te via como uma mãe (isso seria nojento e errado), mas eu tinha o conforto e segurança de uma mãe em você. Eu entregava meus medos e inseguranças, minhas felicidades e conquistas a você! Meu coração e alma eram seus. Quis por muitas vezes te contar tudo, arriscando que você me mandasse para a merda. Todas as vezes que estive triste porquê achava que aquela seria minha última noite vivo ou que estava com raiva por conta de um carregamento que deu errado, você esteve lá, apenas cozinhando algo para mim ou penteando meu cabelo com os dedos. Você sempre esteve lá. Mas agora não está e é tudo minha culpa.

Eu precisava de você agora e não posso te ter por pura burrice minha.

Sei que talvez você tenha precisado de mim nesse tempo que estou ausente, então é completamente egoísta da minha parte estar sentindo tantas saudades suas. Principalmente porque eu não avisei nada, não é? Não pude te preparar. Não avisei que iria ir embora, não pedi para terminarmos, não devolvi minha aliança ou sequer te dei um último beijo. Apenas te deixei na porta da faculdade e saí com pressa. Sequer um beijo de despedida eu te dei, como fui burro. Te vi me olhando triste pelo retrovisor, quase voltei, mas a luz vermelha e azul brilhando na esquina me fez acelerar sem pensar mais. Se eu soubesse que acabaria aqui de qualquer forma, teria voltado. Teria dado meia volta, te abraçado e só te soltaria sob ameaças.

Você foi, é e sempre será meu sonho mais lindo. Me perdoe por não ter me despedido, mas eu precisava tentar fugir. No final de tudo, ter nos despedido teria mudado em algo? Você teria recebido um beijo apressado, um abraço desengonçado e todos os seus amigos veriam seu namorado sendo algemado. Acho que foi melhor do jeito que foi. Apenas a visão da moto se afastando a muito quilômetros por hora.

Dizem que você não pode chorar na primeira noite aqui. Não pode mostrar que está vulnerável e fraco, mas essa é provavelmente uma das coisas mais difíceis que tive que fazer.
Estava em um lugar escuro, gelado e fedorento. Machucado, com muita dor e sangrando. Eu não tinha o meu Wooyo ou nossa cama, não tinha seus pais conversando baixinho para não nos acordar ou seu abajur que fazia estrelinhas no teto. Eu não tinha mais o lugar mais confortável do mundo, meu lugar seguro tinha sumido. Eu preferia mil vezes estar preso naquela noite, na cadeia eu estaria mais seguro. Rezei para que você mandasse a polícia atrás de mim, não ligaria de ser condenado a prisão perpetua naquele momento. Eu só queria sair dali.

A polícia estava atrás de mim quando eu saia em disparada da faculdade, mas o meu 'chefe' me pegou antes deles. Eles me 'raptaram', se assim posso dizer. Quando finalmente consegui me livrar das viaturas atrás de mim e estava retornando para voltar para minha casa, ouvi o barulho forte de disparo. Eles atiraram no meu pneu e perdi o controle da moto, voei alguns metros e rolei por outro. Meu braço trincou em alguns pedaços junto a clavícula que se partiu, achei ter sido a pior dor. Até ser arrastado pelos braços até o carro deles e ser jogado no porta-malas. Fui ao inferno e voltei umas quatro vezes, desmaiei de dor e quando acordei, já estava no fedorento cativeiro no qual fiquei por duas semanas passando fome e sede, além da dor exorbitante. As surras que tomei lá chegaram a parar de doer uma hora, meu corpo já estava se entregando, eu morreria em poucas horas na última sessão de abate.

A intenção era me matar mesmo, mas acharam que seria pouco por eu ter traído o movimento, me largaram em uma esquina e fizeram a denúncia para a polícia sobre tudo o que eu tinha feito, deixaram junto um envelope com todas as provas. Quase morto, não tive forças para fugir apenas esperei.

Fui preso, mas primeiro passei alguns meses internado.

Acho que nessa altura você imaginava que eu estaria preso, não é? Sempre deixei vago, mas não há porquê, uma vez que as cartas chegam com o endereço de onde estou.

A prisão é quase um parque de diversão comparado ao cativeiro. Não estou revoltado por estar preso, pelo contrário! Sei que estou aqui pelas merdas que fiz. Espero pagar por tudo que fiz, ser uma boa pessoa aqui dentro para poder sair e ter a consciência limpa de que não devo mais nada a ninguém.

Não permanecerei na cidade quando sair. Passarei aí para me despedir e pedir desculpas, não pedirei que se junte a mim pois não tenho moral o suficiente para sequer cogitar vivermos juntos novamente, mas ainda assim guardo a esperança em meu coração.

Não sei exatamente em quanto tempo, mas

Até breve, Woo!

Para sempre seu,
San."

Eu te amei, Wooyoung [WOOSAN]Onde histórias criam vida. Descubra agora