Sexta Carta

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"Wooyooooooooooo, nenémzinho meu!

Vc ta bem? Espero que sim :)
Eu não to não :(

Puta merda, eu te amo demais. Saudade dos seus beijinhos viu. Neném lindo.

Na verdade, to chapadão de remédios kkkk

Você deve ter percebido já, vc me conhece como ninguém.

Essa semana tive um pico de depressão, ansiedade atacada e pensamentos não muito legais, o básico de sempre né. Você também teria se estivesse no meu lugar, mesmo tendo essa mente maravilhosa e centrada que você tinha.

Eu comecei essa carta durante o pico dos remédios, tinham passado uns 20 minutos desde que havia tomado o portinho com algumas pílulas dentro. Infelizmente July não me deu outra folha para poder recomeçar essa carta e não parecer um completo idiota que não sabe escrever.

Sempre sou o mais cordial e sério possível em meus textos, pois nosso relacionamento e essas cartas nunca foram algo para se brincar ao meu ver. Podíamos ter nossos momentos de descontração, mas você deve se lembrar que quando tínhamos que conversar sobre algo, não havia drama ou piadinhas, éramos apenas dois adultos discutindo saudavelmente nossos problemas.

Aparentemente querem que eu seja transparente aqui. Mas a minha transparência não inclui eu louco de remédios falando o quanto sinto falta de seus beijinhos. Claro que sinto falta deles, por Deus, como sinto falta deles, mas você já sabe disso. Você sempre sabe de tudo.

Meus momentos de depressão são frequentes nesse lugar tão deprimente, mas essa semana foi um pouco mais difícil, tentei te escrever todos os dias e todos os dias o papel ia pro lixo. Eu não tenho mais o que contar, na verdade nem sei se haverá uma próxima carta.

Todos os dias são iguais. Eu acordo, limpo minha cela, vou me exercitar, vou para as oficinas, cozinho, como, volto pra cela, vou pro banho de sol e fico tentando escrever ou ler até a hora de dormir. Não tenho o que te contar. E também nem sei se você realmente quer ler ou se sequer estão chegando para você, continuo escrevendo na esperança e sonho de que alguma forma você lerá isso aqui.

Wooyo... tudo o que me resta são lembranças. Lembranças de caminhar ao seu lado, no comecinho de tudo, de quando eu ainda não sabia se poderia segurar sua mão. Minhas bochechas ficavam escarlates apenas de esbarrar na sua mão, com o medo de que você fugisse ao menor toque.

Lembranças de nossas idas frequentes a cafeterias, mesmo que eu odiasse café. Eu só queria mesmo era tomar um chocolate quente e você ficava tomando aqueles americanos aguados, meu deus que tortura foi tomar cada gole daqueles cafés, mas eu amava tanto estar com você que tomei todos. Até começarmos a namorar, eu te contei que não gostava e comecei a pedir meus chocolates e milkshakes. Bons tempos.

Lembranças da primeira vez que fui na sua casa. Entrei tímido e encolhido, com muito medo e receio. Temia dar um passo em falso. Assim que cheguei na sala, o pirralhinho veio correndo e se jogou nas minhas pernas, achando que era você. Não sei quem ficou mais sem graça, eu ou ele. Ficamos nos encarando por uns segundos enquanto você gargalhava, até ele fazer aquela carinha adorável e chorona. Lembro de soltar minha mochila rapidamente no chão e embala-lo em meus braços. Imagina se sua mãe escutasse, viesse correndo ver e achasse a criança chorando nos meus pés? Seria uma péssima primeira impressão. E se ela achasse que eu chutei o bebê? Jesus, não posso nem pensar em sua mãe me odiando. Você ficou travado no lugar e sua mãe descia as escadas atrás dele, ela se assustou um pouco ao me ver com o filho dela no colo, mas apenas sorriu ao que você explicou a situação.

Lembranças de sua mãe cozinhando para mim. Eu te trazia tarde da noite para casa depois da faculdade, sempre exausto. Ela sempre fez questão de me perguntar se estava tudo bem, se já tinha comido alguma coisa e se eu não queria passar a noite. No começo eu morria e vergonha de aceitar, mas depois de um tempo eu já chegava com as pizzas e abrindo a geladeira. Ela me fazia tão bem, sempre me dava conselhos sobre você e dizia o quanto gostava de que eu tivesse entrado na sua vida, uma pena que ela não poderia dizer o mesmo hoje. Espero que ela possa me perdoar também.

Lembranças de seu pai. Como eu gostava do meu sogrinho. Ele sempre se metia em enrascadas tentando fazer as coisas sozinho, perdi as contas de quantas vezes tive que correr com seu pai para o hospital porquê ele tinha se cortado ou caído de algum lugar. Velho arteiro, me fez dar muitas risadas. Apesar de não demonstrar muito, sei que ele gostava de mim, sua mãe sempre falava que ele comentava sobre.

Lembranças de seu irmãozinho, todas as vezes que usei ele como desculpa para te levar para sair em algum passeio bobo. Todas vezes que fomos tomar sorvete na pracinha com ele ou íamos em algum parquinho, eram apenas desculpas para eu ficar mais tempo com você.

Lembranças de nós, Woo. Cada momento, cada risada e lágrima, cada dor e felicidade, cada vitória que comemoramos juntos... elas são as únicas coisas que restaram para mim. Nossas lembranças são as únicas coisas que tenho.

Não tenho mais nada que me lembre você a não ser minha própria mente. Não tenho uma camiseta sua ou nosso ursinho de pelúcia, não tenho mais o gato que adotamos ou sequer lembro direito qual era o cheiro do seu perfume. Não tenho uma foto nossa, já que não tenho mais me celular. Não tenho como ouvir nossas músicas. Não tenho um bilhete, para guardar sua letra. Eu, literalmente, não tenho mais nada que me remeta a você. Estou sozinho nesse buraco horrível.

Eu quero muito gritar. Gritar com todas as minhas forças e sair correndo sem rumo para tentar libertar essa agonia que está dentro de mim. Sabe quando você está tão magoado que só quer enfiar a cara no travesseiro e gritar enquanto chora desesperadamente? Tenho me sentido assim desde que te deixei na frente da faculdade. Sinto meus olhos arderem a todo minuto, eu só quero colocar tudo para fora. Mesmo que eu não tenha você para me consolar, eu preciso chorar. Não sei quanto tempo mais aguentarei lúcido aqui. Estou a um passo do fim.

Eu não aguento mais a agonia desse lugar, sei que tenho que pagar por tudo e não estou achando injusto, mas eu preciso respirar! Sinto que já me falta o ar nos pulmões, a tristeza que tem me abatido me tira o ar, meu coração não para quieto e arranho meus olhos para impedir de que as lágrimas caiam.

Wooyoung, eu te imploro...

Não.

Não te imploro nada.

O que um detento futre teria direito de implorar algo a alguém?

Me perdoe. Na verdade, nem esse direito eu tenho.

Apenas

Tchau, Jung."

Eu te amei, Wooyoung [WOOSAN]Onde histórias criam vida. Descubra agora