Luiza, por Emília

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O som de vidro quebrando chegou aos ouvidos de Emília ao mesmo tempo em que o sotaque cantado de Luiza, no momento exato em que abriu a porta emperrada do apartamento.

- Emília! Bem vinda de volta! Tome cuidado, acabei de quebrar um copo.

Olhando ao redor, as evidências de que o furacão Luiza havia passado pela cozinha eram inegáveis. Uma camada fina de chocolate em pó escurecia o chão, melando as poças de água espalhadas por todo o tapete, misturadas aos cacos que Luiza coletava com movimentos finos.

- Ei, Lu! Chegou faz tempo?

Tempo o suficiente para destruir a casa, Emília pensou consigo mesma, sem expressar qualquer descontentamento.

- Não muito, faz coisa de meia hora! Cheguei cedo, mas tive que vir andando da rodoviária! Meu pai pegou o dinheiro do táxi sem avisar...

- É uma boa pernada de lá até aqui... Precisa de ajuda com isso?

- Não, não! Já estou terminando aqui! Mas sente-se, Em! Conte da sua viagem!

Emília acomodou-se na bancada, sem estranhamento quanto a circunstancialidade de Luiza. A garota sabia que a amiga dificilmente estaria emotiva por terem se separado há quase um mês para as férias de fim de ano.

- Foi bem legal Lou! Muitos lugares bonitos!

- Tirou muitas fotos?

- Sim! E antes que eu me esqueça, trouxe um cartão para você!

A foto de um píer iluminado, cujas luzes tremiam sob a superfície da água, apresentava-se aos olhos de Luiza no papel brilhante.

- Deixe-me ver... "Para a querida Luiza, uma lembrança do Puerto Madero Quanta gentileza!E a imersão no curso de espanhol, como foi?

- Foi muito boa, a escola era ótima! O único problema foi que éramos em muitos brasileiros no albergue, então combinamos de falar em espanhol pra treinar. Mas depois de duas taças de vinho, todo mundo esquecia o acordo e acabava falando em português!

Luiza riu com franqueza.

- Espero que você tenha lembrado de trazer um desses vinhos, Emília, porque eu gosto muito de você, mas se você tiver voltado sem, confesso que vou gostar um pouco menos!

-Seria difícil esquecer do seu vinho, você me lembrou umas dez vezes! Ah! Passei na casa da minha mãe. Ela mandou um abraço, e também o pão de queijo que você adora.

- Mas eu realmente tenho a melhor colega de apartamento de todos os tempos! E sua mãe é um amor, agradeça ela por mim! Vou assar mais tarde! E conte mais, como foi?

- Ah, foi bem isso! A comida era boa, consegui ver um show de tango! E o pessoal do curso era legal, tinha uns mocinhos bem bonitos no albergue! Tinha um gaúcho lá que fazia muito o seu tipo! Magrinho, cara de bom moço, nariz fino...

- Imagens, quero imagens!

- Aqui, é este do meio, mais alto. De cabelo preto e olho azul.

- O magrinho, com a camiseta do Che?

- Isso.

- É, mais ou menos o meu tipo... Sempre gostei de um revolucionário, mas já superei minha fase do socialismo latino-americano há um bom tempo. Mas confesso que por esse aí...Hasta la vitoria, siempre...

- Ele era bem bonito. Mas era meio sério, muito na dele! Uma menina ficou encantada por ele, mas ele não dava muita moral não. Era uma americana, muito bonita por sinal e super simpática.  

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⏰ Última atualização: Oct 21, 2021 ⏰

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