Leve

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Kiara

Ao findar da aula, deixei John e Pope em casa e fui almoçar no restaurante dos meus pais. O The Wreck estava lotado, como de costume em todos os dias da semana.
Eu sempre ajudava meus pais lá durante a tarde a servir as mesas. Tínhamos uma condição financeira boa, mas não era como a Sarah Cameron que nunca trabalhou na vida. Falando nela, a observei chegar à mesa com seu pai. Ela parecia tensa enquanto Ward cuspia algumas palavras, de modo delicado, mas certamente autoritário(Ward é sinônimo de toxicidade para qualquer pessoa com cérebro dessa ilha). Fui até eles para anotar o pedido e antes que pudesse fazê-lo, pude ouvir um trecho da conversa.

—Pai, eu não me sinto a vontade sendo acompanhada formalmente com o Topper nessa festa, achei que fosse assunto encerrado.

—Querida, já conversamos e...Kiara, boa tarde.

—Boa tarde, senhor Cameron- tentei forçar meu melhor sorriso, ainda que tenha falhado-o que desejam?

—Traz um suco de uva por favor, Kie. E um quiche de alho poró.- a loira faz o pedido de sempre e eu tomo notas- e o senhor?

—Um suco de abacaxi e um croissant. Obrigado, querida. Mande abraços ao seu pai.

—Agradeço. Com licença.- digo delicadamente e saio. Apesar de não ir muito com a cara da Barbie praiana, mas eu fiquei desconfortável com o jeito que ele exala superioridade inclusive com a própria filha. Ele decide cada passo dela e ela vive em ima bolha; às vezes acho que ela tem vontade de ser mais livre, mas por algum motivo não o faz.

—Algum problema, querida?- meu pai pergunta, se aproximando de mim no balcão- você parece distante.

—Só pensando na escola e...tudo mais.

—Sei...se foi pelo que sua mãe disse mais cedo...

—Não! Eu já tô acostumada com isso, sabe. São outras coisas.- finalizo e, antes que ele possa perguntar mais alguma coisa, a cozinheira toca o sino, avisando que o pedido estava pronto. Montei os pratos na bandeja e levei até a mesa dos Cameron.

—Pai, eu entendo que o dia é seu, mas...

—Mas o que, Sarah? O Topper é ou não é seu namorado? Vocês vivem se beijando aos quatro cantos. Querida, você é uma moça de família, é importante que se apresente com um rapaz descente. E ele tem ótimas referências. Para perpetuar o nome da família. Tudo bem?

Ela hesita, mas acaba assentindo.

—Tudo bem.- diz em tom melancólico, o que confesso, amolece um pouco o meu coração. Entrego os alimentos e me retiro do local. Após eles terem se alimentado, o empresário foi atender o telefone do lado de fora do estabelecimento e a loira veio pagar a conta.

—Oi, Kie...quero pagar.- disse meio cabisbaixa.

—Tudo bem.- digo e pego o cartão. Enquanto ela coloca a senha, eu pondero se devo ou não dizer o que queria. Sou meio sem filtro, então apenas disse:

—Eu acho que você não deve ficar com alguém que você não goste.

—Como?- ela diz, um pouco confusa.

—Olha, eu sei que não somos amigas e me desculpa te falar isso. Mas eu sou a melhor pessoa pra te dizer que você não deve deixar de fazer nada por conta do que seus pais pensam. Às vezes eles acham que sabem o que é melhor para nós, mas nem sempre isso é verdade.

Ela esboça um sorriso e antes que pudesse me responder, seu pai adentra o local. Coloca a mão em seu ombro e ambos se despedem de mim. Não sei se devia ter dito o que eu acabei de dizer, porém me senti incrivelmente mais leve.

Dandelions , JiaraOnde histórias criam vida. Descubra agora