Infinite

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Alguns infinitos são maiores que outros. Disso eu tinha certeza. Existem uma infinidade de números entre o 0 e o 1, e uma maior ainda entre o 0 e o 2. Uma vez me disseram que cada pessoa escolhia o tempo do seu infinito, e eu acreditava nisso, até aquela tarde. Eu não pude escolher meu infinito, ele simplesmente foi, do tamanho que deveria ser. Eu era uma garota normal em um mundo normal, até ele vir e me dizer que eu era completamente diferente daquilo que imaginei ser.

Manhattan, Nova York. - 25/04/2016

Os saltos finos da mamãe apareceram no vão da porta, na sala da diretoria. Ela finalmente entrou, sorrindo e acenando para alguém no corredor, do lado de fora, talvez o Prof. Salles, com quem mamãe conversava ás vezes. A diretora, Sra. Callum, observava cada movimento que eu fazia, talvez achando que, de algum modo, eu fugiria de lá. Não tinha o porquê de fugir, eu sempre voltaria a Modest Academy, e eles tentariam me ensinar a enxergar, a pôr limites nas coisas, e começar a estudar. O grande problema é que isso tudo era difícil para mim, e esse era um dos motivos de eu estar ali, sentada na sala da diretoria, prestes a perder o jogo do time da Modest Academy, no qual eu sou líder de torcida.

Mamãe se sentou ao meu lado com uma certa distância e insegurança, e não me encarava nem por um minuto. Todos os médicos em que ela me levou, todos os psicólogos, todas as consultas com o Dr. Dantes para que tudo isso voltasse de onde começou, na sala da Sra. Callum. A mais velha encarou mamãe e eu, os óculos caindo sobre o nariz pontudo. Ela iria começar a falar, mas bateram na porta. Quando viro, Jenna está parada, segurando uma bandeira branca.

"Qual é, Sra. Callum! Temos um jogo daqui á 20 minutos. Deixe-a ir." Jenna levantou a bandeira branca, e não pude deixar de sorrir.

"Srta. Campbell, se retire, por favor, ou será suspensa do seu tão sagrado jogo." A velha deu seu sorriso falso, e Jenna murchou, fazendo uma careta engraçada. Ela sorriu para mim antes de sumir para o corredor.

"Sra. Baker, espero que esteja ciente dos problemas que sua filha traz á nossa instituição de ensino."

"O que ela fez dessa vez?" Mamãe bufou, jogando os cabelos loiros para trás. Eu não parecia nada com ela. Ela era loira, de olhos azuis. Eu era morena, de olhos verdes. Sem contar com os traços faciais.

"Arabella secou o extintor de incêndio do corredor, sabotou os fardamentos dos alunos do último ano, danificou o patrimônio da escola com seu carro antes da aula e colocou uma matéria falsa no jornal da escola, dizendo que o Prof. Morgan teria um caso com uma aluna. Está ciente do problema de visão da sua filha, sim?"

"Se chama dislexia." sussurro, e mamãe me olha.

"Segundo a situação em que se encontra, Arabella, acho melhor ficar calada." Callum diz.

"Vou ser expulsa?"

"Até te expulsaríamos, mas seu pai veio aqui hoje mais cedo, e pagou os danos que cometeu para a escola." A Sra. Callum disse, em tom sério. Papai sempre paga minhas dívidas, e sempre dá um jeito de me manter na droga dessa escola, de qualquer maneira. Mesmo assim, ele não é tão presente como eu queria que fosse.

"E então o que eu faço aqui?" Mamãe perguntou. Pelo tom de voz, a pessoa calma e amorosa que existia em minha mãe foi substituída pela pessoa malvada e cruel.

"Só quero que esteja ciente de tudo, Sra. Baker."

"Agora que já estou muito bem ciente, posso ir?"

"Claro." Callum fala, e quando mamãe e eu nos levantamos, ela volta a falar, desta vez para mim. "Arabella, sinto muito, mas não vai ser líder de torcida hoje."

AfroditeOnde histórias criam vida. Descubra agora