Preferido (Ou temperado com vinagre)

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- San Lang... – Os dois estavam deitados sobre uma cama improvisada de palha no Templo Puqi, sem roupa, apreciando os primeiros raios de sol da manhã passar pelas frestas das janelas. Hua Cheng mexia com seus dedos dentre as madeixas castanhas de seu marido. Xie Lian parecia pensativo. – Você já acordou com muita vontade de comer uma coisa bem específica?

- Claro. – E com o olhar encarou o rosto de do Príncipe Herdeiro ainda sonolento e descabelado ao seu lado. Um leve risinho veio no canto da boca. – Por isso que me casei com você.

- San Lang! Safado! – Apesar de estarem casados já algum tempo, Xie Lian ainda ficava envergonhado com esse tipo de piada. – Estou falando sério. Acordei com vontade de comer um guisado que tinha sempre na minha infância.

- Como era esse guisado? Posso fazer para o Gege.

- Esse é o problema. É algo da minha infância e adolescência. Não lembro de como era com detalhes. Mas eu tenho quase que absoluta certeza que o Mu Qing saberia fazer.

- Mu Qing? – O Rei Fantasma parecia ultrajado ouvindo esse nome.

- Sim, ele era meu servo pessoal. Nos dias chuvosos ou que eu estava mais recluso, ele sempre fazia esse guisado. E era sempre ele, nunca vi outro servo fazendo esse prato. Como éramos amigos e eu nunca imaginei um dia deixar de ser o Príncipe, nunca me preocupei em perguntar a receita... San Lang?

Enquanto Xie Lian contava a história, mais a sobrancelha de Hua Cheng franzia e ele punha a roupa como se estivesse pronto a sair.

- Estou indo ao Reino Celestial. Já volto, Gege.

Com um leve selinho nos lábios de Xie Lian, Hua Cheng logo se retirou do templo e correu para se encontrar, obviamente, com Mu Qing.

Mesmo sendo incomum receber o Rei Fantasma nos céus, os oficiais mantinham certo respeito ao se lembrar de como ele ajudou a destruir Bai WuXiang. Todos abriam os caminhos sem entender por que ia com tanta determinação ao Palácio de Xuan Zhen. Ao adentrar o templo, os servos do General se tremeram sem saber o que aquilo significava. Logo os dois estavam face a face e Hua Cheng puxou E-Ming em direção ao pescoço de Mu Qing.

- Que palhaçada é essa? O que eu fiz para você querer me matar agora? – E o General sacou seu sabre também em direção ao peitoral do Rei Fantasma.

- Me dê a receita do guisado favorito de Sua Alteza, o Príncipe Herdeiro.

- Hã? – Mu Qing parecia que estava alucinando. Que tipo de pedido é esse?

- Isso mesmo que ouviu. Gege queria comer o guisado que ele tinha na infância e eu sei que você tem essa receita. Então preciso que você me diga o que leva, ok? – A lâmina se encontrava perto da veia do General, prestes a rasgá-la a qualquer momento.

- Oh. – Porém, Mu Qing percebeu que, no caso, quem estava em vantagem era ele. Logo abaixou o sabre. – Ou...? Você me mataria? E deixaria Sua Alteza sem o prato favorito?

O olhar sério estampava o rosto de Hua Cheng, então instantaneamente abaixou E-Ming ao entender que não conseguiria a receita tão simples assim.

- O que eu preciso fazer para receber essa receita?

Por um segundo, Mu Qing imaginou diversas possibilidades, mas uma realmente o incomodava há muito tempo e era a mais grave de todas.

- Aquela estátua indecente de vocês dois está ainda no jardim do meu templo. Eu pus um feitiço que camufla, mas não sei por quanto tempo durará. Te dou a receita se você retirar aquele absurdo.

Não demorou um minuto para que Hua Cheng pegasse Mu Qing pelo braço e pedisse para o guiar onde estava escondida a estátua. Assim, os dois caminharam a passos largos e tensos como se fossem enfrentar um grande desafio. Chegando ao jardim, o General pediu para que todos os súditos saíssem e o deixasse a sós com o Rei Fantasma. Não havendo mais ninguém, fez um pequeno movimento com a mão e a estátua estava lá.

Flores e FarinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora