XX - The dragon:

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Melarie

Melarie não era nenhuma donzela tímida, e não tinha surpresas ou sentimentos novos para relatar sobre sua noite de núpcias. Se fosse necessário, ela poderia fingir, mas não via qual seria a utilidade daquilo. Era de conhecimento público que ela tinha sido uma concubina do rei antes de seu casamento. Talvez os rumores que corressem pela corte fossem de um amor proibido e avassalador, mas a verdade era muito menos emocionante. Melarie sabia que seu casamento era um ato político.

A noite tinha sido agradável e Viserys, agora seu marido, estava muito disposto a permitir que ela vivesse sua vida da maneira que considerasse melhor, desde que pudessem performar seus deveres conjuntos sem problemas. Por um lado, isso era ótimo, porque Melarie poderia fazer o que bem desejasse sob a proteção de ser uma mulher casada, e por outro, seria um saco, pois haveria pessoas de sobra para brotar do inferno e dizer "mas seu marido permite?".

Estavam ainda na fase de buscar um consenso para sincronizar seus hábitos diários, tinham rotinas extremamente diferentes e, especialmente para Melarie, haviam tido mudanças significativas de horários e compromissos, mas chegariam lá, eventualmente. Ela não tinha nenhum interesse em bancar a esposa apaixonada, nem ele de fazer o mesmo, e era mais algo que facilitava acordos racionais sobre o que fazer em cada momento. Melarie poderia aceitar a ideia de vir a considerá-lo como uma pessoa próxima e/ou importante em sua vida, mas não tinha intenção de ir além disso. Não tinham, afinal, se casado por amor ou por alguma noção deturpada de romance.

Ela já tinha começado a planejar suas atividades no período que passariam longe da corte. Apesar de querer a folga, Melarie sabia que se simplesmente parasse de fazer tudo e dissesse "vou relaxar", enlouqueceria. Se quisesse algum dia fazer isso, teria de ir diminuindo gradativamente a quantidade de atividades que fazia numa base diária. Tinha pensado com cuidado quais tipos de comida quereria experimentar, estariam perto de Dorne, mas se certificou de não marcar nenhuma comida que tivesse as quantidades copiosas de pimenta a que os dorneses estavam acostumados. Aquele tipo de tempero não caía bem em seu estômago, e ela preferia evitar problemas.

Ainda permaneceriam na cidade por algum tempo depois do casamento do rei, mas não teria tempo para terminar de fazer seu itinerário depois. Um de seus deveres, do qual fora informada antes de seu casamento, era ajudar a preparar o casamento real. Mesmo que não fosse ser um evento cheio de elefantes e artistas de circo cuspindo fogo nas ruas, ainda seria um evento grande, com uma boa parcela de convidados. Ela ouvira dizer que mesmo o Príncipe de Dorne faria uma aparição.

Normalmente, isso não aconteceria. Os Martell de Dorne ficavam em Dorne na maior parte do tempo, mas o Príncipe era o tio-avô do rei. Era surpresa ele ainda não ter falecido, era mais velho do que a falecida princesa Loreza, mãe da Rainha Mãe.

Havia, sim, uma pontada de amargura em aquele não ser o seu casamento. Tinha querido ser rainha por tanto tempo que era difícil não pensar daquele modo. Mas ela engolia o sentimento e seguia em frente. Querer não era poder, e de todo modo, Melarie já havia tido um casamento. Não adiantava ficar pensando sobre possibilidades que não estavam dentro de seu alcance.

Apesar de estar dentro da equipe responsável por planejar o evento, entretanto, ela vinha evitando a noiva. Não porque tivesse algum desgosto por ela, mas porque onde Ellaria ia, Daeron ia atrás, e ela não via por que se encontrar com ele mais do que necessário. Ele tinha visto alguns de seus piores momentos ao vivo. Não deveria aproveitar aquilo mais do que ela.

Melarie estava ocupada até dizer chega e além desse ponto, e provavelmente não seria muito melhor depois de passar o casamento. A partida para um outro castelo envolvia uma boa porção de coisas, tanto para preparar sua bagagem para a viagem quanto para garantir que tudo estaria em ordem no momento em que chegassem lá. Aquilo gerava um problema de ordem pessoal: Melarie dificilmente teria tempo para se despedir propriamente de Elowen, que seguiria a ser sua companheira, mesmo com a distância entre elas. E aquilo simplesmente não podia acontecer. Elowen não merecia um tchauzinho acenado de uma carruagem e pronto.

A Arcada das Donzelas - Apply fic (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora