Caro leitor, peço que nunca, jamais, nem por um segundo, e de longe pense em ignorar sua voz interna. Peço que confie em mim por agora, pois não irei explicar o que isso significa agora, apenas irei mostrar-lhe o que acontece, então talvez você entenda o que quero lhes dizer.
Dou continuidade ao terceiro capítulo com o início caótico do quarto, talvez o mais importante dessa história. E nesse, não irei me demorar em descrições prolongadas dos cenários a seguir. Mas gostaria de declarar aqui que gostaria e muito de estar bêbada nesse capítulo da minha vida.
- Só para esclarecer, de que Jéssica estamos falando? - Pergunto ainda mantendo a postura ereta de braços cruzados, a pose marrenta a qual ele costumava implicar tanto. Mas isso é só por fora.
Por dentro a minha mente ainda trabalha em colapso em dois monólogos que consistem em palavras repetidas. De um lado temos um insuportável "por favor não seja a Jéssica" e de outro o horrível "foi uma decisão mútua". Se continuasse assim, eu teria ainda mais dor de cabeça.
- A Jéssica. - Ele diz de forma objetiva.
E aqui meu coração para, mas logo se decide que não é o suficiente.
- A Villar? - Pergunto de forma ainda esperançosa, mas eu já sei a resposta, só quero ignorá-la por mais alguns segundos.
- A única Jéssica com quem você se importa. - Ele diz por fim, e eu gostaria de perguntar a minha melhor amiga se ela pode me ouvir xingando-a mentalmente.
- Ah.
- Não faz essa cara, Evy, ela só estava tentando te ajudar. - A forma como ele diz o apelido, que o mesmo havia me dado ainda na infância, doí. Sinto ainda mais vontade de esganar a adorável Jéssica.
- MANDANDO VOCÊ DENTRE TODAS AS PESSOAS?
- Evy...
- Justamente VOCÊ?
- Evelyn, por favor, a Jess estava apenas preocupada. Só isso. - Ele diz de forma calma e suave, como se tentasse explicar para uma de suas crianças birrentas do jardim de infância, ou um acéfalo qualquer. Pausadamente, sem muito tom ambíguo, eu o odeio. - Ela é sua melhor amiga, era de se esperar que se preocupasse com você.
- George.
- Sim?
- Cai fora.
- Evelyn, com todo respeito a você e toda nossa história, não.
Ah, não há nada que eu possa falar sobre meus pensamentos no momento, apenas te dizer que meu cérebro não funciona no momento e está tudo incrivelmente zoneado pela raiva. Só há gritos, xingamentos e colapso.
- George, essa é a minha maldita casa. CAI FORA.
Ele suspira e olha para mim boquiaberto.
Foi neste momento que achei que estivesse vencendo e que ele realmente iria embora como eu queria - queria? -, mas se tivesse sido mais atenta talvez tivesse pego os sinais de que esta história não ia acabar bem. Talvez se tivesse sido um pouquinho mais sensata, para início de conversa, eu teria parado onde eu estava e apenas deixado as coisas serem como elas são.
- Evelyn, NÃO. - Ele levantou o tom para que fosse um pouco mais alto que o meu último, como se estivéssemos fazendo uma competição de gritos como os dois adultos sensatos que éramos. Desde já peço perdão aos vizinhos pelo barulho de uma discussão às 09:30 da manhã.
- Então porque? - Cuspo as palavras como se elas fossem ácidas. - Só me diz porque você está insistindo tanto em estar aqui? Não foi o caralho de uma decisão mútua?
- Evy, isso não tem nada a ver com o divórcio. - E então essa pequena frase em tom monótono e confiante quebrou toda uma estrutura caótica de argumentos que minha mente em colapso nervoso havia montado. - Foi sim uma decisão mútua e nós dois também concordamos em ser amigos. E você sabe o que amigos fazem? Ah, é eles se importam e cuidam um dos outros.
Isso faz com que eu me sinta um pouco culpada, não vou mentir.
- George...
Droga, eu realmente odeio conversas. Alô, Jéssica? Você me paga.
- Deixa eu cuidar de você como seu amigo e futuro ex-marido.
- Você já é meu ex. - Retruco. Estou prolongando uma discussão que já deveria ter acabado a 5 minutos, mas não posso evitar. Preciso ganhar tempo enquanto o resto de mim grita "pare onde você está".
- Nós dois sabemos que você não assinou aqueles papéis.
- Assinei sim. - Ótimo, agora estou na defensiva.
- Me engana que eu gosto, Evy.
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Papéis de Divórcio
Historia CortaEvelyn tem problemas. Tem menos de 30, está se divorciando e enfrenta um problema com álcool, ao qual ela se entrega sempre que está decaindo - o que só a torna mais decadente -, se recusa a admitir que tem algum problema ou seja problemática e a, t...