A História mostra quem somos

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A tribo do Inverno ficava em uma das pontas do continente, recebendo este nome porque a maioria dos meses do  ano, ela se encontrava em um frio terrível

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A tribo do Inverno ficava em uma das pontas do continente, recebendo este nome porque a maioria dos meses do ano, ela se encontrava em um frio terrível. Alguns viajantes que passaram por lá tendiam a espalhar que o frio era tanto que jamais conseguiriam aguentar por tanto tempo, chegando as demais tribos pela boca de trovadores que narravam em seus versos:

"Ouvi dizer que que o frio de sol não passa de brisa

De uma brisa suave para Inverno

Não sei como para seus homens o frio não parece um congelado inferno

E para suas mulheres sabe-se que o calor não suaviza"

Por causa disso, a maior parte dos rios se congelavam, os deixando de mãos atadas, não conseguindo plantar nada o bastante para suprir todas as suas necessidades. Já que não eram agricultores, se desenvolviam para a caça, tendo um dos melhores caçadores de todo continente, fazendo questão de manter o incentivo para as crianças desde cedo, as levando para participarem dos eventos de caça que se realizavam ao longo dos ano nas florestas geladas que tinham por todo o território. Diferente de outras tribos mais conservadoras, suas filhas também eram ensinadas a sobreviver, aprendendo a usar armas, como pequenas adagas e arco e flecha, afinal, viviam em uma constante paz forçada pela tribo do Sol, sem nunca saber , de fato, quando os filhos do Dragão poderiam começar uma guerra.

A versão contada nas antigas lendas, passadas de geração em geração para os pequenos, era que há anos existia uma floresta que dividia o território, sendo um bem comum entre as duas tribos, onde ambas poderiam usufruir de tudo quanto existia nela, conhecida como Muartari, que na língua mais antiga, significa "floresta dos bons amigos", sendo um um local sagrado tanto para os filhos do Dragão, quanto para os filhos do Inverno, afinal, as principais divindades de cada uma delas era cultuada em algum ponto daquela região.

Entretanto, um dia, a floresta começou a ser guardada pelos Dragões, que cada vez mais impediam Inverno de usar os seus recursos, deixando-os apenas com a parte mais sagrada – a mandato da tribo do Sol – para eles: O templo de Ishar, o deus que trazia o inverno para a terra e ajudava a congelar as águas.

Contudo, ter apenas o templo de Ishar não era o suficiente para eles, queriam usufruir como era direito, queriam manter as origens de novo. E por causa disso algumas fronteiras se alinharam, formando o trecho Ishar-Basx, sendo nomeado dessa forma porque eram os nomes dos principais deuses adorados pelas tribos de Inverno e Montanha, e o trecho Ragnar-Merise, sendo nomeado pelo mesmo motivo dos demais, contudo, os deuses eram da tribo do Dragão e do Mar.

E mesmo com as rixas apenas se aflorando, o povo de Sol apartou, eles eram considerados a principal tribo do continente, abençoados pela proteção de Arath, o deus responsável por trazer o sol pelas manhas, além dos ventos de verão e principalmente pela colheita. O recado foi que todos se mantivessem calmos e quietos, afinal, não fazia sentido começar uma guerra civil apenas por causa daquilo, mas ambos os povos deixaram claro que se alguma coisa acontecesse, qualquer mínima movimentação suspeita, eles deixariam o acordo da falsa paz de lado e se armariam. Iniciariam uma guerra que estava apenas esperando uma faísca para incendiar todo o continente.

Passaram-se mais ou menos cem anos e a paz ainda estava instaurada. Os filhos de Inverno conseguiram se reerguer bem, mesmo perdendo uma das florestas que possuíam recurso e além da caça, conseguiram fazer com que algumas vinhas nascessem na sua terra no curto período sem gelo, com isso, adquiriram o subtítulo de "Terra do vinho e da neve".

-Eu realmente preciso saber de todas essas histórias?

Mikral Ackerman, principal representante da família dos lobos cinzentos, pertencente a tribo de Inverno, apenas sorriu para a sua filha mais nova, colocando a menina de oito anos em seu colo.

-Mikasa, todos da nossa tribo sabem dessas histórias – Ele fez carinho nos longos fios negros dos cabelos da menina – Assim como todos sabem das histórias dos deuses.

-Eu prefiro ouvir sobre Moara! – A menina soltou um sorriso gentil, se deitando no colo de seu pai – Por que você não fala dela ao invés da tribo do Dragão e das outras, eu não quero saber sobre isso.

-Mikasa, você precisa... um dia, minha filha, você vai nos representar, assim como seu irmão, Levi. – A expressão da pequena deixou de ser acolhedora, mesmo gostando das histórias de sua tribo, odiava quando seu pai tirava um tempo para contar os acontecimentos do passado. Mikral sabia disto, sabia que a menina era apaixonada pela deusa da lua, então a mimava falando sobre Moara, mas com o tempo se passando, sentia necessidade e contar o que aconteceu com o seu povo. – Você venceu... vamos falar sobre a deusa da Lua. – Apesar de entender a importância de contar para ela sobre a rixa, sempre mimou demais a filha mais nova, afinal ela era sua princesa.

Contar tudo o que acreditavam sobre Moara era o que mantinha Mikasa acordada, a menina adorava conhecer sobre a deusa que tanto admirava e também era constantemente comparada, afinal, as descrições da divindade batiam com os traços dela, os cabelos negros lisos, a pele alva, os olhos azuis acinzentados, a boca levemente avermelhada... características um tanto comuns, mas que se encaixavam bem em ambas as princesas.

-Pai – A menina interrompeu um dos contos sobre a princesa da lua, fazendo com que o homem a encarasse repentinamente, com o mesmo olhar gentil apresentado há alguns instantes, parando a fala e esperando que a pequena, em seu colo, concluísse o que estava pensando em perguntar – Levi me disse que a nossa história nos mostra quem somos... isso quer dizer que todos os filhos do Dragão são maus?

Ao fundo, o filho mais velho dos lobos cinzentos, Levi, ouvia toda a conversa, sem interromper, não queria ser notado, mas gostaria de ver qual seria a saída de seu pai, já que ele era um chefe, queria saber como era para ensinar a irmãzinha a caçar. Entretanto a conversa não foi concluída por ele, Ahrazel, sua esposa, adentrou na sala no exato momento que a filha fazia a pergunta, sendo a pessoa que daria a resposta:

-Mikasa, ninguém é bom, mas também ninguém é mau. – Retirou a menina do colo do pai colocando-a no seu – As vezes, a gente não é ruim, mas faz uma coisa que não é boa para outra pessoa, como no dia que você quebrou aquele copo de vidro, o que você fez foi ruim, mas isso não te torna mau, não é?

-Acho que entendi... – Ela fez uma cara pensativa, soltando um sorriso feliz ao perceber a presença do seu irmão – Levi!

-Vamos – O mais velho saiu do canto que estava, aparecendo assim para os pais – Vou ensinar a Mikasa a usar o arco.

Assim que seus filhos saíram, a Ackerman matriarca sentou-se no colo do marido, fazendo carinho, com os dedos, em seu rosto, um gesto ousado, mas que ela mesma fazia com frequência longe da vista de seus descendentes.

-Eu sei que você quer criá-la para desconfiar de todos os Dragonianos, mas, lembre-se que eu não sou da tribo de Inverno, sou filha do Sol e eu não quero mesmo que você ensine-a que quem está contra ela são vilões, isso não existe, Mikral.

-Eu só quero que ela saiba se virar.

-Confio em você, apesar de não gostar de toda a situação em que Inverno vive. – Em um gesto rápido beijou seus lábios, era um selinho simples, não demorando muito para finalizar a ação e descer do seu colo. – Vou na cidade, volto em instantes.

O patriarca Ackerman não disse muita coisa, levantando-se de onde estava, pegou uma das suas lanças e foi para o campo que treinavam os mais novos, ficaria observando a menina crescer, se desenvolver com o arco e flecha ou até mesmo com a adaga, mas não falaria sobre Dragão, sabia que nunca conseguiria ser como a esposa, sabia principalmente que nunca conseguiria poupar e perdoar qualquer um que fosse daquela tribo, qualquer um que fosse filho do Dragão.

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