Onipresente

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14 de abril de 2021

Hernán Crespo olhava atentamente para a televisão do vestiário do estádio do Morumbi. O treinador do São Paulo, que acabara de vencer um jogo complicado contra o Guarani, assistia a disputa de pênaltis da final da Recopa entre Palmeiras e Defensa y Justicia. Ele não deveria estar ali, já que tinha a coletiva pós-jogo para fazer. Mas um atraso não mata ninguém, né?

Ainda mais quando esse atraso valeu a pena, já que o Defensa se sagrou campeão após a penalidade desperdiçada pelo goleiro adversário. Crespo era o antigo treinador do clube argentino, tanto que foi com ele que conquistaram a Sul-Americana no início do ano. E essa conquista foi a grande responsável pela ida do ex-jogador ao Mais Querido.

Do outro lado, o Palmeiras perdia sua segunda final em 3 dias, e outra vez nos pênaltis. No domingo, foram superados pelo Flamengo. O Flamengo que é treinado pelo maior ídolo do São Paulo; Hernán conhecia Ceni e o via nas paredes do Morumbi sempre que passava por lá. Mas, voltando ao Palmeiras, o time seria o próximo adversário do SPFC.

Desde que chegou ao Brasil, Crespo ouvia muito sobre o Palmeiras.

Na semana que antecedeu sua contratação no Tricolor, o Verdão passou vexame no Mundial de Clubes. Na noite que estreiou como treinador do time do Morumbi, o rival disputou a primeira final da Copa do Brasil, que foi conquistada por eles logo na semana seguinte. E agora vieram esses dois vices que, com toda certeza, abalariam a equipe alviverde e seu treinador, Abel Ferreira.

Abel Ferreira.

Na semana do clássico Choque-Rei, surgiram matérias sobre o confronto dos dois treinadores ainda como jogadores, na Champions League de 2006/07. Sporting, clube onde o português atuava como lateral, estava no mesmo grupo da Inter de Milão, onde Crespo era goleador. Nos dois jogos da fase de grupos, uma vitória pra cada de lado. Na vitória da Inter, em que Hernán fez o único gol da partida, Abel havia saído contundido antes mesmo do argentino abrir o marcador.

Após assistir a conquista de sua ex-equipe, Hernán participou da coletiva e logo se dirigiu até o condomínio onde morava. Esse condomínio ficava no bairro da Barra Funda, próximo ao Centro de Treinamento do São Paulo. E ao do Palmeiras também. Abel Ferreira? Morava no mesmo lugar.

Sempre esse time. Sempre esse cara.

Quando chegou em seu apartamento, o argentino não demorou a dormir. A semana estava sendo extremamente cansativa e ele sabia que viria mais pela frente.

Era do conhecimento de Hernán que o São Paulo vivia um dos jejuns de títulos mais angustiantes de sua história e que havia acabado de perder um Campeonato Brasileiro que grande maioria já dava como ganho. Os torcedores estavam desacreditados e achavam que o próximo passo seria o rebaixamento inédito para a Série B. Não enxergavam saída.

Isso até ele chegar e conquistar todo mundo. O treinador, que era uma aposta da diretoria tricolor, caiu nas graças da torcida já de cara. Sua estreia havia sido em um empate polêmico no Morumbi, mas logo depois vieram duas vitórias de goleadas, uma delas contra o rival Santos. Na sua quarta partida, o primeiro revés. Também com polêmica, a derrota para o Novorizontino seria o último jogo antes de uma pausa de quase 1 mês. Os casos de COVID-19 haviam crescido no estado de São Paulo e o futebol foi paralizado.

O Paulistão tinha voltado há 5 dias e a equipe de Crespo já havia disputado 3 jogos. Isso porque a pausa bagunçou o calendário do estadual e agora os jogos aconteceriam em um curto espaço de tempo. Em menos de 1 semana, o Tricolor paulista entraria em campo 4 vezes. E na semana seguinte, já tinha Libertadores. Que loucura!

A parada é que ninguém fazia ideia do que essa sequência causaria no São Paulo. Foi o início de um problema que se estenderia por bastante tempo.

Não demoraria muito pra Crespo perceber - ou ser informado - da importância de uma possível conquista do Campeonato Paulista pro clube. E isso custaria caro, muito caro.

Pro São Paulo e pra ele.

Entre Rivais - Hernán Crespo & Abel Ferreira Onde histórias criam vida. Descubra agora