Sombras

III

O mundo é injusto. O coração é injusto. O sentimento é injusto.  Nada na vida é mais injusto que a falta de opção. 

Não gosto de ser controlada. Não gosto de me sentir condicionada. Gosto de ter o meu mundo nas mãos. Gosto de escolher, controlar o que fazer, sentir a seguir.

Toda a vida é feita de pequenas injustiças, mas a maior delas é o amor. Amores que duram para sempre nos nossos corações, mas que são breves instantes em relações. Nada mais injusto que perderes o amor da tua vida, não seres correspondido pelo amor da tua vida, nunca teres o dito "amor da tua vida".

Mas que sei eu de amores? Pouco ou nada. A minha existência vivenciou apenas paixões, umas maiores que outras. Ouço falar de amor em contos de fadas, ouço falar numa carta de suicídio, ouço falar nos pequenos relatos dessa gente grande e já vivida. Sei, pelo que ouvi dizer, que amores são paixões que duram para sempre. Amores são, tal como as paixões, involuntários. Não escolhes quem amas, tal como não escolhes por quem te apaixonas-e aqui, especialmente aqui, está presente tremenda injustiça.

Como dizer não? Como é possível negar a alguém uma coisa tão forte? Como faze-lo sem sentir culpa ou remorsos? Como?

Penso "porquê? ". Por que é que não sinto aquilo que sentem por mim? Por que é que não sentem por mim aquilo que sinto por eles?

Dizem que temos de encontrar a nossa pessoa. Então, e se a nossa pessoa pertencer a outra? E se nós formos a pessoa de alguém que nada nos diz? 

Muitas perguntas, demasiadas perguntas, todas sem resposta.  Perguntas que me dão voltas à cabeça. Só queria que fosse tudo mais simples. 

Queria aprender a ouvir um não, aprender a dizer um não. Queria puder dizer sim, ouvir um sim. Mas, mais importante, quero continuar no mundo das pequenas paixões finitas. Não quero entrar no mundo dos grandes, muito menos sentir o que eles sentem.