Se Algo Acontecer...Te Amo

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16:34

A Criatura ataca a carne da coxa de Jungkook. O peso da coisa é insuportável, como se uma casa o esmagasse, e, no momento em que está prestes a morder a artéria femoral dele - os dentes escuros a apenas centimetros - os estalos de dois silenciadores calibre .22 são ouvidos.

Apenas alguns segundos se passaram desde o momento em que o zumbi apareceu, mas é a quantidade de tempo extra que levou para Jimin ouvisse a comoção, parasse o que estava fazendo, virasse, soltasse os ferrolhos, erguesse as armas, mirasse com cuidado e intercedesse. Ele acerta o zumbi fatalmente, bem entre os olhos, logo acima do osso do nariz.

O enorme cadáver é lançado para trás em uma nuvem de sangue que parece fumaça na escuridão, o topo do crânio dele partindo-se e jorrando.

A Criatura cai em uma poça encharcada aos pés de Jungkook enquanto ele se encolhe para longe e arqueja para tomar fôlego, Jeon se afasta de costas arrastando a bunda no chão por diversos segundos em frenesi.
- Porra!...Meu Jesus! Porra!
- Você está bem? - Jimin se aproxima, se ajoelha e inspeciona as pernas de Jeon.- Está bem?
- Eu...é...estou bem, bem - dispara o rapaz, e gagueja, tomando fôlego. Ele encara o enorme amontoado de cadáver deitado a seus pés.
- Venha, vamos...
- YO!
O som da voz de Kim Namjoon vindo de frente do armazém entra nos ouvidos de Jimin, ainda zunindo.

- Jimin! Jungkook! Estão bem?!
Jimin grita por cima do ombro:
- Estamos bem!
- Juntem suas tralhas e venham! Namjoon  parece nervoso.- O barulho está atraindo mais deles dos esconderijos! Vamos embora!
- Vamos, bonitão - murmura Jimin para Jeon, ajudando- o a se levantar.

Os dois se levantam, Jeon recupera a tocha antes que esta tenha a chance de incendiar qualquer coisa, então os dois empurram o carrinho. Pesa uma tonelada agora, e são necessário os dois, bufando e sem fôlego, para empurrar a coisa pelo corredor.

20:00

Vestido com um moletom com capuz, jeans e botas, os cabelos presos com um prendedor de couro, ele se remexe no assento frio da calçada em frente ao seu apartamento, os músculos doloridos das aventuras daquela tarde. Jeon não comsegue ficar confortável. Ele olha para além da grande cerca da comunidade, fecha os olhos e pensa no rosto doce de Jimin, os olhos cor do ceú, a pele branquinha um pouco maltratada pelo tempo, a curva esguia do pescoço.

Um minuto depois ele se vê parado diante do prédio de Jimin. O vento retornou e espirais de lixo passam pela entrada. Jeon para, abaixa o capuz, afasta uma mecha de cabelo dos olhos e, silenciosamente, ensaia o que dizer.

Ele sobe até a porta dele e inspira fundo.

Jimin está sentada próxima a uma janela em um poltrona de segunda mão, uma vela tremeluzente num aparador ao lado, um livro de culinária aberto no capítulo sobre os grandiosos acompanhamentos da comida coreana, quando o ruído de batidas interrompe seu devaneio.
Ela estava pensando em Taemin e em todas as grandes refeições que ele teria preparado se tivesse sobrevivido, e a mistura de tristeza e arrependimento levou a fome de Jimin a desejar mais do que carne enlatada e arroz instantâneo.

- Quem diabo...? - resmunga ela, levantando- se da poltrona. Jimin cruza a sala descalço, a calça folgada rasgada se arrasta na madeira imunda do piso. Ela está vestida com uma camiseta verde-oliva decotado provocativamente em um V perfeito. As mechas loiras estão presas em um coque no topo da cabeça. O senso de moda descolado de Jimin - desenvolvido inicialmente em brechós e em lojas de busan - resiste bravamente no mundo pós-praga. De certa forma, seu senso de moda é sua armadura, seu mecanismo de defesa.

Jimin abre a porta e olha para Jungkook parado no escuro.

- Desculpe por ficar incomodando você - diz ele, envergonhado, com um braço segurando o outro como se estivesse prestes a rasgar nas costuras. Ele está com o capuz puxado sobre o rosto e, por um brevissimo instante, parece uma pessoa diferente para Jimin. Os olhos perderam a confiança arrogante que perpetuamente brilhava ali. A expressão do rosto dele se suavizou, e a pessoa de verdade por baixo daquela crosta dura emergiu. Jeon encontra o olhar de Jimin.
- Está ocupada?
Jimin sorri.
- É, você me pegou no telefone com meu enpresário...
- Devo voltar outra hora?
Jimin suspira.
- Isso se chama piada, Jungkook. Lembra o que é humor?
Ele assente triste.
- Ah...é.- Jungkook consegue sorrir. - Estou um pouco lento esta noite.
- O que posso fazer por você?

- Tudo bem... Hã. - Ele olha ao redor da rua escura. Praticamente toda a cidade dorme. Agora, o vento arrasta o lixo nas calçadas desertas e farfalha entre os fios elétricos mortos, fazendo um zumbido esquisito. Apenas alguns homens permanecem nos cantos das barricadas, patrulhando com as AR - 15 e os binóculos. De vez em quando, uma luz de busca varre os bosques vizinhos com o feixe luminoso. - Estava imaginando, hã, sabe, se não estiver muito ocupado - gagueja Jungkook, evitando contato visual com Jimin - se você estaria dispostov a, tipo, treinar um pouco comigo hoje à noite?
  Jimin olha para o moreno de modo questionador.
- Treinar?
Jungkook pigarreia sem jeito, então olha para baixo.
- Bem, é que eu gostaria de algumas dicas de como... Sabe... Lidar com os zumbis, me proteger.
Jimin olha para ele e respira fundo. Então sorri.
- Um segundo... vou buscar minhas armas.

Os dois descem até a estação de trem perto da fronteira leste da cidade, o mais longe das luzes e do barulho dos geradores que conseguem. Quando chegam lá, Jimin já levantou a gola da jaqueta jeans para se proteger do frio crescente. O ar tem cheiro de metano e gás de pântano - um misto de podridão - , e o odor os envolve nas sombras sob o luar do grande campo. Jimin repassa alguns cenários com Jungkook, faz testes, desafia o moreno. Jungkook está com a glock 9 mm consigo, assim como uma faca de caça embainhada na coxa direita, amarrada com couro cru.

- Vamos, continue em movimento - diz Jimin para ele em certo momento, conforme Jungkook, vagarosamemte, segue ao longo da fronteira do bosque, a pistola na lateral do corpo, agarrada à mão direita, o dedo do lado de fora do vão do gatilho. Os dois estão treinando há quase uma hora, e Jungkook esta ficando impaciente. A floresta pulsa e zune com ruídos noturnos - grilos, galhos farfalhando - e a ameaça constante de sombras se movendo atrás das árvores. Jimin caminha ao lado dele com a autoridade silenciosa de um instrutor de treino. - Você deve sempre se manter em movimento, mas não muito rápido, nem muito devagar...mantenha os olhos abertos.
- Deixe eu advinhar... Assim, certo? - diz ele, um traço de exasperação na voz.

A arma de Jungkook está com um dos silenciadores de Jimin acoplado ao cano. O capuz dele está puxado, bem fechado, ao redor do rosto.
- Eu disse a você para não colocar o capuz - falou Jimin.- Você está interronpendo sua visão periférica.
Jungkook tira o capuz e continua se movendo no limite das árvores.
- E agora?
- Melhor. Você deve sempre estar ciente do que o cerca. Essa é a chave. É mais importante do que qual arma usa ou do que a maneira como segura a pistola ou o machado ou qualquer coisa. E daquilo que está atrás de você. Assim pode fugir rapidamente se precisar.
- Entendi.
- E nunca-nunca-nunca-nunca se permita ficar cercado. Eles São lentos, mas podem ao seu redor se forem numerosos o bastante.
- Você já disse isso.
- A questão é sempre saber para qual lado correr se precisar.

Jungkook assente e olha intermitentemente por cima do ombro, acompanhando a escuridão em todos os lados da trilha. Ele se vira e, devagar, recua pela trilha por um momento, examinando as sombras.
- Abaixe a arma por um segundo - diz ele.- Pegue a faca - Jimin o observa trocar de arma.- Tudo bem, agora digamos que está sem munição, está isolado, talvez perdido.
Jungkook olha pra ele de esguelha.
- Jimin, já repassamos essa parte... Tipo, umas duas vezes.
- Que bom, você sabe contar.
- Qual é...
- E vamos repassá- la de novo, uma terceira vez, então responda à pergunta. Como você segura sua faca?
Jungkook suspira, recuando ao longo das árvores, as botas esmagando os galhos.
- Você segura com a lâmina para baixo, agarrando firme o cabo... Não sou burro, Jimin.
- Nunca disse que você era burro. Me diga por que está segurando assim.

Jungkook continua recuando ao longo do limite do bosque, movendo-se distraidamente agora, balançando a cabeça.
- Você segura assim porque só tem uma chance de descer com força no crânio deles e quer fazer isso decisivamente.
Jimin repara em uma tábua largada - ao lado da trilha, a cerca de 6 metros. Ele se move silenciosamente na direção do objeto.
- Continue - diz jimin. Com um movimento rápido e discreto, Jimin chuta a tábua para o caminho de Jungkook. Por que faz isso decisivamente?

Ele emite outro suspiro cansado, recuando distraido.

- Faz isso decisivamente porque tem a chance de destruir o cérebro.- Jungkook continua recuando devagar na direção da tábua, agarrado à faca, alheio a obstrução que jaz em seu caminho. - Não sou burro, Jimin.

Ela sorri.

- Ah, não, você é um verdadeiro ninja, o modo como verificou o armazém para nós. Está com tudo em cima.
- Não tenho medo, Jimin, já disse um milhão de vezes, estive... Jungkook tropeça na tábua em seu caminho.
- AI! PORRA! - dispara ele, quando atinge o chão, levantando uma nuvem de poeira...

CONTINUA....