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No final da semana Jimin repara que há algo errado.

Até então, ela se mantém discreto, passa a maior parte dos dias reclusa. Ela passa o tempo lendo, observando a chuva, pensando e, quando deitado à noite, acordada e angustiada quanto ao que fazer a respeito de Jungkook. Depois de alguns dias, ele aparece à porta de Jimin com uma garrafa de vinho que furtou da velha dispensa do prédio do tribunal, junto com um buquê de sálvias que colheu próximo ao prédio do correio, e Jimin fica tão comovida pelo gesto que deixa Jungkook entrar, mas insiste que ele evite o assunto do relacionamento dos dois ou qualquer menção à noite em que passaram dos limites. Jungkook parece feliz em apenas ficar junto dela. Os dois bebem toda a garrafa de vinho enquanto jogam um jogo de tabuleiro - em determinado momento, Jungkook faz Jimin rir tanto ao revelar que o desenho que fez, igual a um ovo frito, é, na verdade, o cérebro dele sob o efeito de drogas, que ele cospe a bebida -, e Jungkook não vai embora até a luz cinzenta do amanhecer atravesse as fendas das janelas cobertas por tábuas. No dia seguinte, Jimin precisa admitir para si mesmo que gosta do cara - independente das circunstâncias esquisitas - e talvez, apenas talvez, esteja aberta às possibilidades.

Então chega a manhã de domingo. Exatamente uma semana após a noite fatídica, Jimin acorda sobressaltada em algum momento antes do amanhecer. Algo amorfo e indefinido no fundo da mente dela vem incomodando-a, e, por algum motivo -seja algo que sonhou ou algo que se infiltrou em seu subconsciente no curso daquela semana -, isso a atinge com força total naquele momento, naquela manhã, como um martelo diretamente entre os olhos.

Jimin salta da cama e corre pelo quarto, então abre um fichário de três argolas que está apoiado sobre uma mesa improvisada - dois blocos de concreto e um painel de madeira compensada. Freneticamente, ela vira as páginas.

-Ah não... não, não, não - murmura Jimin, sussurrando conforme pesquisa no calendário.

Durante quase um ano, controla religiosamente as datas. Por motivos diferentes. Jimin quer saber quando caem os feriados, quer saber quando as estações mudam e, mais que tudo, simplesmente quer se manter ligada à antiga ordem, à vida civilizada, à normalidade. Ele quer ficar conectado com a passagem do tempo - embora haja muitos nessa era sombria que desistiram, que não sabem distinguir o dia de ação de graças.

Jimin verifica a data e fecha o calendário, arfando.
-Ah, merda... porra... merda - murmura ela consigo mesmo, afastando-se da mesa e girando como se o chão estivesse prestes a fugir de seus pés. Jimin caminha em um círculo nervosa no quarto por um momento, seus pensamentos nadando e se chocando uns contra os outros. Não pode ser dia 23. Não pode ser. Ela está imaginando a coisa toda. Simplesmente paranóica. Mas como pode ter certeza? Como qualquer um pode ter certeza de qualquer coisa nesse Mundo de Praga fodido? Deve haver algo que possa fazer para tranquilizar a mente - para provar para si mesmo que está apenas sendo paranóica. De súbito, Jimin tem uma ideia.

-Tudo bem!
Ela estala os dedos, então corre até o armário de metal surrado no canto, no qual guarda os casacos, as armas e a munição. Jimin pega o colete jeans, as Ruger .22 gêmeas, os silenciadores e enfia as armas atrás do cinto. Jimin guarda os pentes no bolso, respira fundo, levanta o colarinho do casaco e sai pela porta.

A respiração dela se condensa no ar pré-amanhecer conforme Jimin sai do prédio. A cidade ainda está dormindo, e o sol começa a despontar do bosque ao leste - lançando raios angelicais de luz através da bruma pairando baixo - conforme Jimin atravessa a rua e caminha rapidamente pela calçada estreita em direção ao velho prédio abandonado do correio.

Logo após o correio - do outro lado da muralha sul, fora da zona de segurança -, há uma farmácia saqueada. Jimin precisa entrar naquela loja, apenas por um segundo, para poder descobrir se está ou não maluco. Só há um problema.

Se Algo Acontecer...Te Amo Onde histórias criam vida. Descubra agora