Rana

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Eu estava indo para uma das saídas do aeroporto em passos apressados na esperança de encontrar Arthur e Agatha, mas paro ao sentir alguém tocar meu ombro.

- Joui?? Quanto tempo, não? Achei que você estivesse no Japão.
Congelo ao ouvir aquela voz. Me viro com os olhos vazios e expressão nula. Era ela. Quem quase me fez desistir do meu sonho. Ela ainda pode acabar com minha vida.

*Flashback*

06/11/2012

Cheguei um pouco atrasado na aula, mas nada que eu não pudesse recuperar. Depois que minha mãe faleceu no acidente de carro, eu tive que começar a dançar sem que meu pai soubesse. Minha professora sabia da minha situação e acabava cobrando menos por minhas aulas, eu ganhava dinheiro em algumas competições e pagava o que eu podia no mês pelas aulas.
Assim que cheguei na academia. cumprimentei minha professora e fui me alongar na barra enquanto o resto dos alunos fazia o primeiro exercício (regra n° 1 para dançarinos: NUNCA entre na metade de um exercício). A aula ocorreu normalmente, nós recebemos nossos papéis para o próximo espetáculo. Seria Lá fille mal gardée, um ballet cômico dividido em 3 atos e eu, seria Colas, um dos protagonistas.

No fim dos ensaios, sra. Shizue disse que me apresentaria a garota que seria Lise, outra personagem principal que dançaria comigo. Fiquei treinando piruetas enquanto ela ia buscar "Lise", e quando elas chegaram...eu não sabia como reagir. Rana seria Lise. Ela era filha de um dos funcionários do meu pai, inclusive, ele quer que eu me case com ela quando formos mais velhos. Não seria tão grave se essa garota não fosse uma naja. Ela era uma espécie de espiã do meu pai e se ele descobrisse que eu fazia aulas de ballet, algo pior q a morte aconteceria comigo.

- Jouki! Que surpresa!

- Oh, vocês já se conhecem?? Que maravilha, creio que será mais fácil criar uma coreografia com vocês.

- Tem razão, nós já temos bastante intimidade, não é joui?

- Senhora Shizue, perdão mas...eu não estou me sentindo muito bem, se importa se eu for tomar um ar?

- Fique a vontade querido, você está realmente pálido, precisa de algum remédio??

- Não não, está tudo bem, eu já volto-Andei rápido até os fundos da academia. Meu coração estava acelerado, minha respiração descompassada. Eu tentava fazer listas de coisa na minha cabeça. Um.
Um.
Um.
Nada.
Minha mente estava vazia, eu respirava fundo tentando me acalmar. Mil cenas passavam pela minha cabeça, des de o cheiro metálico do meu próprio sangue nas mãos do meu pai, até algo bom, como liz e Thiago ao meu lado, me dando segurança.
Saí dos meus devaneios com a voz irritante de Rana ao meu lado. A voz dela era bonita, mas não soava como algo bonito, não como a chuva. Soava como gritos de desespero presos por anos.

- Você não desiste não é, jouki? Por que você não ouve seu pai hein?? Eu posso acabar com sua vida com apenas uma ligação. Sabe disso...não é?

-Rana...Eu saio dessa academia, mas por favor, não conte para meu pai.

Uma risada cínica.

- Você é engraçado joui, eu acho que jamais perderia a oportunidade de te ver caindo aos poucos. Você roubou meu brilho. EU que deveria ser a estrela dessa academia. Você é um garoto, e além disso, você está sozinho, vejamos: seu pai te odeia, sua mãe está morta, aquela tal de Elizabeth nem deve lembrar de você, e tem aquele outro cara, Thiago certo? Ele provavelmente preferia esquecer seu rosto. Eu ainda não vou contar, mas suma da minha frente e nunca mais apareça. Um passo em falso, e sua fama de reizinho do ballet acaba...junto com a sua vida.
Cada palavra cuspida da boca dela me destruía aos poucos, me machucava. Uma imensidão de pensamentos se passavam pela minha cabeça, mas eu sentia algo estranho...naquele momento eu daria tudo pra vê-la sofrendo aos poucos, pra ver cada pessoa ao seu redor dizendo palavras odiosas sobre o quão patética ela era. Eu daria tudo para vê-la se arrastando até mim pedindo perdão, daria tudo para vê-la ser torturada, não precisa ser fisicamente...mas vê-la arrependida de ter olhado nos meus olhos. Era isso que eu queria. Fazê-la ficar esmorecida olhando nos meus olhos.

Os sons do tilintar da chuva (Au joesar)Onde histórias criam vida. Descubra agora