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   Atravessei o grande salão do palácio e adentrei a biblioteca fechando com delicadeza a porta atrás de mim que acabou alarmando-se com um ranger. Droga! Preciso lembrar de mandar consertar isso. A escuridão do cômodo que me cegava logo foi tirada quando o abajur sobre a mesa foi acesso e lá estava ela, a vislumbre rainha com seus óculos de leitura sobre o fino e desenhado nariz, talvez um olhar de estranheza ou uma ruga deva ter se formado em minha testa já que não esperava por mamãe ali, ainda mas com as roupas de gala do evento beneficente ao qual havia marcado presença mais cedo.

   Seu porte firme que faz toda a nobreza tremer de medo estava direcionado a mim agora, porém de um jeito maternal, mas não deixava de ser menos frustrada. Depois de alguns segundos me analisando, tomou a frente e esboçou um sorriso aliviado que se desmanchou quando começou a falar com tom sério:

  — Então é assim que cumpre com suas obrigações? — fechou o livro que havia despojado em suas mãos. 

  — Você só tinha que marcar presença e conversar com alguns anfitriões, pensei que havia deixado claro. Como você espera ser uma rainha desse jeito? Passa pela sua cabeça que você completará 25 anos daqui dois meses e que enfim assumirá meu lugar do mesmo jeito que eu assumi o de minha mãe, a sua avó? — revirei os olhos.

  — Pra quê esquecer se a rainha de Alfândia faz questão de me lembrar? — ela andava impaciente de um lado para o outro fazendo sinal de reprovação com a cabeça.

  — Você não está levando isso a sério! — disse ao tirar os óculos respirou pesadamente. — Hoje, você provou a mim que não consegue. — seu olhar triste me causou um certo desconforto.

  — O que quer dizer com isso? Alguém vai me substituir? Ótimo… também acho a melhor decisão a ser tomada. — minha mãe sabia mais do que ninguém que de todas as pessoas, eu não desejava o trono, e de certa forma estava me tornando imprudente para ser renegada.

   Ultimamente sempre dava um jeito de faltar aos compromissos e não mostrava animação alguma quando o assunto era a futura rainha de Alfândia, no caso eu, sei que isso causava uma dor de cabeça e tanto para ela, mas fico mal ao saber disso também. E não me julguem ao pensar que sou apenas a filha ingrata e que não passa de um momento de rebeldia. Porém saber que o meu futuro já está todo escrito me frustra bastante, não escolhi isso, então que fique para alguém que realmente dará o devido valor necessário.

  Sorri largamente por tamanha felicidade, ela finalmente reconheceu que seria uma boa ideia também, mas ao olhá-la continuava séria, seus olhos agora pareciam perdidos da mesma forma que me lembro bem quando saía de uma de suas reuniões frustrantes com os nobres e precisava tomar uma difícil decisão como rainha. Seu silêncio fez com que a minha alegria fosse embora rapidamente e sem me olhar disparou:

  — Como eu havia dito, Hoje, você provou que não consegue Júpiter e isso me decepciona muito. — pigarreou, tinha mais algo a ser dito, concluí quando levantou seu olhar a mim.

  Era incerto tentar adivinhar o que estava a incomodando, mas seu olhar vago me fez sentir culpada, aliás realmente é minha culpa ser tão cabeça dura e esquecer que ela também vem se sacrificando bastante com tudo depois que papai morreu, há cerca de três anos atrás. Ainda a sinto enlutada com a dor da perda e a falta. Pensei em me declarar culpada, virar as costas e sair dali, mas minha mãe foi mais ágil tomando a frente e quando a vi já ameaçava atravessar a porta e me deixar para trás.

  — Mãe, me desculpe… — fui interrompida.

  — Já chega! Não quero ouvir suas desculpas, eu cansei delas — seu tom de voz frio fez minhas bochechas arderem.

  Não! Eu não vou chorar! Puxei a respiração ao máximo para conseguir controlar as lágrimas que já lutavam em se romper e transbordar em meu rosto,  será que a tão poderosa rainha Cíntia não via que isso não machucava só à ela?

  — O evento beneficente, lembra? O que passei a semana toda avisando que era obrigatória a sua presença como princesa e você mesmo assim me desobedeceu. Mesmo assim você não fez questão alguma! — meus olhos ardiam ao ponto de não aguentar mais. Minha voz então saiu chorosa:

  — Mãe… eu não queria criar essa confusão…

  — Ah, claro que não! Você nunca quer né? Júpiter Helleom, o conselho e eu Cíntia como sua mãe e rainha decidimos que você irá se casar! — estremeci, minhas pernas vacilaram e dei passos para trás, meus olhos piscaram sem acreditar no que meus ouvidos acabaram de ouvir.

  — Não! Tínhamos um acordo. — ela negou.

  — Você deixou de decidir alguma coisa quando resolveu tomar atitudes erradas. Agora tenha uma boa noite minha filha, preciso me retirar aos meus aposentos. — e a porta bateu, ela se foi, me deixando com as minhas lágrimas já vertidas e abafadas.

   Agora tudo realmente estava dando errado! Não seria renegada como sucessora e de quebra ganharia um marido? Um marido? Algo que deixei muito bem claro desde o começo que não desejava. Mas ainda há esperança para que isso não se concretize com nome e sobrenome, cruzem os dedos e torçam bastante por mim!

Princesa de Alfândia - A Sucessão - CONTOOnde histórias criam vida. Descubra agora