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  — Vovó… — me curvei sobre a mesma que balançou a cabeça e deu-me a mão para que me erguesse novamente.

  — Já falei para parar com isso minha pequena Júpiter — a senhorinha de setenta anos e com grande postura riu divertida.  — Mas me diga, do que você precisa? — ergui uma sobrancelha.

  — E quem disse que estou a precisar de algo? Não posso lhe acompanhar no seu desjejum? — sentei ao seu lado na imensa mesa também usada para grandes celebrações com convidados especiais.

  — Claro que pode! Mas sei que você deseja algo a mais do que só tomar café da manhã comigo, não tente me enganar mocinha. Não nasci ontem como você que ainda está a cheirar leite. — rir desafiadora.

  — Tenho certeza que está bastante atualizada sobre os assuntos do conselho de nobres. — Beberiquei o suco de laranja, mas devolvi o copo à mesa com o líquido ao sentir que as laranjas estavam amargas.  — O açúcar, por favor.

  — Aqui está! — me entregou em mãos uma pequena tigela com cubos de açúcar.

  — Qual o assunto da semana que o conselho está tão centralizado? — continuei a insistir.

  — Devo ter ouvido alguma coisa pelos corredores do palácio… — pareceu não dar importância.

  — Fofocas? Algo considerado um escândalo? — uma ruga se formou em sua testa.

  — Não, mas creio que você também já saiba. Afinal, será um evento e tanto! — sua entonação ficou empolgada ao terminar de falar.

  — Eu quero que saiba de uma coisa vovó… — ela finalmente me deu a atenção que precisava ao soltar a pequena espátula com geleia que deslizava em sua torrada.

  — Eu já sei, minha querida… — suspirou, sua mão pousou sobre a minha e a acariciou.

  — Acha que consegue fazer alguma coisa para impedir pelo menos o casamento?

  — Mas não posso fazer nada, estava presente na reunião do conselho e até tentei falar ao seu favor, porém Cíntia estava irredutível, você realmente conseguiu enfurecer sua mãe, e não te julgo. Você é jovem e ainda não vê o mundo desse outro lado onde é cercada pela pressão, decisões e pessoas que observam aos mínimos detalhes seus passos e só esperam por um único deslize seu para virar motivo de ataques. — as palavras me atingiram em cheio, essa é a verdade que não desejava ouvir.

  Minha mãe não voltaria atrás, não só eu mas todos reconheciam que após a rainha Cíntia tomar uma decisão ninguém a conseguia fazer mudar de opinião. Ela era decidida, determinada e nunca, digo nunca subestimada.

  — Princesa? — uma voz ao fundo surgiu e por alguns segundos tive minha alegria dada a mim de volta ao ver Hannah parada na entrada do salão de jantar com tamanha felicidade estampada no rosto.

  — Você veio mesmo? — me pus de pé e de imediato senti a mão da vovó tocar o meu braço e foi o que me fez voltar a olhá-la.

  — Júpiter, quero que entenda que mesmo sua mãe sendo uma rainha, e por mais que tenha suas demandas, seus afazeres e suas difíceis decisões a serem tomadas. Ela só quer o seu bem e sempre escolherá o que acha ser o melhor para você! Pense nisso, tudo bem?

  — Prometo que vou tentar. — ela balançou a cabeça e sorriu.

  — Agora vá, você e sua amiga tem muitos assuntos para colocar em dia. — Hannah se aproximou.

  — Oi vovó Helena — segurei sua mão e a puxei fazendo com que caminhasse um pouco mais rápido. — Tchau vovó Helena. — acenou com a mão livre, enquanto praticamente a arrastei dali para fora.

  — Estava com muitas saudades! — sorrimos.

  — Eu também, mas já pode me soltar e acho que sua avó não conseguiria nos alcançar nessa velocidade toda mesmo.  — no grande corredor do palácio paramos e admirei por uma das grandes janelas dali o lado de fora no térreo.

  — Você é que pensa, vovó ainda tem muito fôlego.

  — Aquele senhorinha? — olhou para trás.  — Não creio… — rimos.

  — Mas então como foi a recepção?

  — Ah, eu fui barrada na entrada, Smiths pediu mil desculpas por não ter me reconhecido, faz tanto tempo assim?! Ah... — ela abaixou o olhar ao lembrar do ocorrido e pigarreou.

  — Não muito, mas ele ainda faz muita falta. — entristece-me lembrar do dia, parece que tudo começou a dar errado desde o momento da morte de papai.

   Hannah estava presente e viu de perto o desespero naquela noite, não é todo dia que um Rei é dado por morto no seu próprio aniversário e seu corpo é encontrado flutuando nas águas, no ocorrido sentimentos me dominavam e tanto a tristeza quando a raiva em querer descobrir quem havia feito aquilo, já que não me conformava com a hipótese que foi dada pelo próprio legista: por causas naturais e a falta de seus juízos mentais. Ele não estava louco e muito menos se mataria e eu nunca aceitaria isso de fato. E sim, odiei Hannah por no dia seguinte ter me deixado e ido embora no momento de tamanha dor, mas percebi depois o quão difícil foi para ela também.

  — Eu não devia ter tocado no assunto. Desculpa Júpiter, de verdade… deveria ter ficado com você e não ter ido embora. Me perdoe. — seus olhos lacrimejaram e a abracei com ternura.

  — Ei, tudo bem, não foi fácil pra ninguém, e afinal já lhe desculpei há muito tempo atrás. Tá tudo bem agora.

  — Princesa Júpiter?! — Por cima dos ombros de minha amiga avistei Demitri o mordomo real com uma caixa média em mãos.  — A Rainha Cíntia pede sua presença na biblioteca neste momento.

    Pedi para que Hannah me esperasse e ela disse que me aguardaria no quarto ao qual fora designado a ela como hóspede em uma das instalações superiores, segui o mordomo em silêncio pelos corredores, o mesmo logo abriu a porta e adentrei, mamãe levantou o olhar e mandou que o mesmo deixasse a caixa que carregava em mãos sobre a mesa e saísse, ao obedecê-la ela se levantou e pigarreei. Aliás queria muito saber por qual motivo fui chamada, na maior parte das vezes é um sermão e tudo o que menos queria era dor de cabeça logo cedo.

  — Já aviso que não fiz nada, e se tiver foto ainda nego. Aliás, quero um advogado. — Minha mãe riu, a quanto tempo não a via rir?! Até havia me esquecido como suas covinhas eram tão fundas e suas maçãs no rosto são tão bem desenhadas e ri também.

  — Não se preocupe, não vai precisar de um advogado. — de forma espontânea encostou na mesa colocando suas mãos sobre a caixa e a abrindo.  — Olhe o que chegou! — com as duas mãos segurou uma coroa ao alto.

  — Por que ela veio nesta caixa? Não acha que merecia algo mais exuberante? Tipo, aquelas câmeras de vidro que precisaria ser carregada por dois homens fortes pelo peso?

  — Não seja boba, não muda o fato de ser uma coroa apenas por conta de onde está guardada, seu valor continua o mesmo, valiosíssima e inestimável.

  — Ela é muito bonita…

  — Experimente! — engoli seco, o peso que aparentemente sentia em segurá-la parecia triplicar e isso me deixava desconfortável.

   De forma notaria mamãe ameaçou dizer algo, porém alguém bateu à porta primeiro e adentrou a biblioteca, usei isso de desculpas voltando com a coroa para a caixa e saindo às pressas, realmente estava fugindo, não de minha mãe ou da pessoa que nem me dei o trabalho de saber quem era, mas sim da coroa que aos meus olhos parecia enorme e trazia uma péssima sensação de prepotência. Preciso negar ou até mesmo ser renegada, mesmo ao fim só querendo que tudo isso passe logo.

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⏰ Última atualização: Apr 25, 2022 ⏰

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Princesa de Alfândia - A Sucessão - CONTOOnde histórias criam vida. Descubra agora