Luzes alaranjadas de fim de tarde escorriam pelo céu da Itália feito tinta, enquanto uma câmera mal posicionada tirava mais fotos que o necessário do pequeno rapaz em frente a Torre de Pisa. Aquele era apenas o início da primeira noite dos agentes realitas no país e estavam o levando como folga.
Haviam decidido entrar em ação apenas no dia seguinte, dado o cansaço que já escoltava seus corpos taciturnos até o local de descanso mais próximo. Porém alguma energia sobrenatural havia tomado conta de uma certa dupla dinâmica assim que foram liberados para turistar um pouco enquanto não iam para o hotel.
A princípio todos estavam juntos no passeio mas pouco a pouco a equipe foi se separando temporariamente. Clarissa foi a primeira a ir para o hotel onde ficariam, era evidente em sua conduta que ela nem cogitou ficar zanzando por aí tirando fotos com monumentos no meio de uma missão.
Depois dela foi Carina, que apesar de ter se animado com a ideia de mostrar sua terra Natal para os novos amigos, se cansou rápido do passeio. Até porque pra ela os pontos turísticos eram como o pátio de casa, nada a respeito deles a surpreendia mais.
Eventualmente Arthur e Dante também se despediram. Eles queriam seu merecido descanso, e quem poderia culpá-los, suas responsabilidades cobravam deles muito mais do que de quaisquer outros.
Depois do último aceno de Arthur antes de ir, algo começou a borbulhar suavemente no peito de Rubens, sua ansiedade já começava a lhe deixar nervoso. Olhou para o seu lado, para cima, encarando o homem sorridente que acenava contente para a outra dupla, mesmo que eles já não o vissem mais.
— É, acho que agora somos só eu e você, Rubinho. — Falou com um prazer excepcional o apelido que ele havia colocado no mais baixo contra sua vontade. — Então? Está a fim de tomar um café, comer um croissant? — Usou um tom que acreditava ser refinado ao pronunciar a palavra estrangeira, arrancando um sorrisinho do colega, o que lhe trouxe de imediato a sensação de recompensa.
— É Rubens. — O baixinho corrigiu, mesmo que o sorriso o atrapalhasse de soar mais incisivo na afirmação. — E croissant é comida francesa.
— Ah, é tudo a mesma coisa, esses caras têm o mesmo fru-fru. — O de bigode cutucou o outro sem que houvesse de fato necessidade, o fazendo dar um pequeno tropeço a frente pelo impacto repentino. — E que tipo de coisa italiano come na janta?
A frase não tinha absolutamente nada de especial, mas Rubens tinha um histórico ruim com aquele assunto em específico. O tipo de histórico ruim que você nunca imagina que vá surgir em uma conversa normal até que aconteça.
Não queria, mas lembrou de algum canto obscuro da Internet que havia explorado em momentos pessoais, e nessa lembrança havia uma frase que se destacava, um título, mais precisamente.
"Amantes italianos em um jantar apimentado"
Incrível como sua mente tinha senso de humor, tanto que decidiu fazer dele uma piada. Olhou de canto para o homem ao seu lado, que seguia andando despreocupado, com medo de que ele pudesse de alguma forma ler seus pensamentos, ainda que aquilo fosse improvável. Seu rosto corou suavemente, e seguiu em silêncio diante da pergunta alheia que não parecia verdadeiramente dedicada em conseguir uma resposta.
Passado alguns minutos de caminhada, a sensação de estranhamento que ambos sentiam em relação aos seus arredores ficou difícil de ignorar e o baixinho sentiu necessidade de iniciar um diálogo sobre o possível problema que teriam que lidar.
— Balu? Onde a gente tá? — Questionou direto, como de costume, vendo o amigo raciocinar lentamente. Olhou para um lado, olhou para o outro, e pareceu concluir.
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Afeto Acidental
FanfictionLaços se constroem de maneiras imprevisíveis. Frequentemente pares perfeitos acreditam não terem nada em comum até o momento em que uma conexão se forma. E então se dão conta de que era óbvio, sempre foi assim, sempre esteve bem ali. Sempre foram aq...