Rubens não tinha entendido nada.De todos os acontecimentos daquele dia, o fato de Balu ir correndo se trancar no banheiro depois de o encarar por longos segundos em silêncio definitivamente foi o mais difícil de entender.
Pegou um pijama leve da mochila e se vestiu, dando um olhar atento para o banheiro, de onde podia ouvir o som da banheira enchendo. Parece que estava sozinho.
Olhou ao redor procurando por pistas para o comportamento estranho. Olhou os lençóis da cama bagunçados onde estiveram deitados antes, a televisão ligada passando alguma novela italiana sem graça. A mala dele estava fechada, nenhum sinal de que teria sido remexida. Parecia, Inclusive, muito bem preservada.
Preservada até demais, digo, estava intacta, inviolada. Sabe, tinha algo estranho no quão intocada ela estava. Aquilo não parecia certo, as coisas não foram feitas para serem tão bem conservadas. Era sua obrigação investigar a integridade dos pertences alheios.
Sem perceber ele já estava andando até ela, suas mãos coçavam de curiosidade, sentia-se uma criança prestes a encontrar uma gaveta cheia de doces. Ele queria mais do que tudo perverter a perfeita ordem daquela mala.
Olhou uma última vez para a porta do banheiro quando o chuveiro desligou, indicando que a banheira estava cheia. E ouviu atento ao som de um corpo entrando nela, e água se movendo. Okay, ele estava bem ocupado.
Voltou para a mala diante de si, e habilidosamente rompeu o lacre que o hotel colocava no fecho, de forma que não pareceria muito suspeita quando ele viesse mexer em suas coisas. Deitou a mala no chão de forma furtiva e abriu o zíper. Nem se dava conta do quão bem ele se sairia como um ladrão.
Abriu a mala com cuidado, sentindo imediatamente o cheiro do perfume do outro exalar de suas roupas e bugigangas, perfeitamente dobradas e organizadas. Os olhos de Rubens brilharam em alta expectativa ao encontrar tantas coisas nas quais podia fuxicar.
Tirou uma das camisas estampadas e dobradas com a gola para frente, a trazendo para perto do rosto e apreciando o cheiro que ela tinha. Era de um perfume masculino com um ar refrescante e sedutor. Tão evidente que parecia ter sido borrifado sobre as roupas bem cuidadas antes de a mala ser fechada.
Tragou o cheiro gostoso uma última vez antes de cuidadosamente devolver a camisa para seu lugar de origem. Logo passando a investigar o bolso de objetos. Encontrando uma máquina de barbear, navalhas, gel de cabelo, loção pós barba e um pente fino. A barbearia completa, isso explicava como ele conseguia manter o bigode tão bem alinhado o tempo todo, era notável sua vaidade.
Abriu um segundo bolso, encontrando alguns vidros de perfume diferentes, um deles já bem utilizado, provavelmente o cheiro que ele sentia agora, estando diante da mala. Os outros dois eram vidros pequenos e ornamentados, um em uma embalagem vermelha de vidro escuro chamou sua atenção, tinha uma escrita "number nine" na frente.
Abriu a tampinha com cuidado, levando o borrifador até o nariz, e ao inspirar, um cheiro extremamente atraente dopou seu cérebro. Ele fazia suas narinas queimarem como se sentisse calor, mas não era um perfume forte. Parecia bagunçar todos os seus sentidos, trazendo arrepios ao seu corpo e o deixando tonto. Uma mistura de bebida cara com frutas exóticas. Era como um...
"Afrodisíaco."
Fechou o vidro rapidamente ao ouvir o som da água se remexendo na banheira e um nervosismo lhe subiu pela mente entorpecida. O colocou de volta no bolso com o máximo de cuidado que conseguiu, sentindo seus batimentos pararem ao chocar acidentalmente os frascos dentro da bolsa, fazendo um tilintar de vidro soar pelo quarto. Paralisou em silêncio por um segundo, ouvindo o som da água continuar, como se alguém estivesse se mexendo, ele deveria estar se enxaguando.
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Afeto Acidental
FanfictionLaços se constroem de maneiras imprevisíveis. Frequentemente pares perfeitos acreditam não terem nada em comum até o momento em que uma conexão se forma. E então se dão conta de que era óbvio, sempre foi assim, sempre esteve bem ali. Sempre foram aq...