Prólogo.

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Estou nesse exato momento me olhando no espelho do nosso quarto tentando entender como deixei meu casamento chegar a esse ponto. O único som que consigo escutar é o que vem dos pássaros lá fora e a água da torneira do banheiro pingando lentamente. Ergo o olhar e me observo atentamente. Afasto a franja molhada da minha testa e lavo o rosto novamente, tentando de alguma forma, despertar meus pensamentos. Em qual momento eu perdi... perdi... o meu brilho? Estou com tanta saudade de quem eu era que não reconheço mais quem estou sendo. Eu era feliz com essa vida. Marido perfeito, casa perfeita, uma vida perfeita. Como eu me perdi tão facilmente. Quem eu sou agora?

Entro no chuveiro com o pensamento que uma ducha gelada me fará acordar e perceber que tudo está perfeito, eu sou egoísta e com toda certeza, um filho da puta que nunca está feliz ou satisfeito. Penso em meu marido, céus, eu queria tanto amá-lo da forma correta. Jesus, como eu sou filho da puta! Saio do banho sentindo minhas mãos trêmulas, vejo que o banho não serviu para merda nenhuma. Ainda sou o mesmo babaca infeliz. A primeira coisa que penso quando sento na minha cama apenas de toalha, é de que preciso do divórcio. Mas como me divorciar de alguém que é incrível? Ele não me dá motivos para isso então porque tenho esse desejo de deixá-lo? Eu o amo tanto, mas então porque não consigo amá-lo do jeito certo. De um marido para outro marido. Eu me odeio.

Sou desperto dos meus pensamentos com o toque do meu celular, mas simplesmente o ignoro. Sei que não consigo falar com ninguém nesse momento. Levanto e pego algumas roupas - que sinceramente eu não gosto - e começo a vesti-las enquanto me olho atentamente no espelho do closet, me aproximo e percebo duas coisas, a primeira é que estou pálido e a segunda com um suave toque nos meus lábios, sinto como eles estão rachados - indícios de que estou nervoso e ansioso. Termino de colocar as roupas sentindo apenas cansaço mas aparentemente estou pronto para começar mais um dia de puro teatro. Meu celular toca novamente, porém dessa vez atendo. Acho que já estou no personagem.

"Bom dia meu amor! Queria saber se você acordou bem?!" O incrível do meu marido me recebe na ligação com seu bom humor matinal e seu amor grandioso por mim. Seria muito mais fácil se ele fosse um babaca.

"Oi vida, estou bem sim. Só acordei um pouco agitado." Desço as escadas para o primeiro andar com o telefone encostado na orelha, respondo falsamente mas tentando soar verdadeiro, realmente espero que tenha dado certo.

"Está tudo bem mesmo Louis?" ele responde e posso imaginar o vinco entre as sobrancelhas. Como ele pode se preocupar tanto comigo?

Óbvio que ele percebeu! Mas é claro que ele percebeu! Porque esse homem é cauteloso, é detalhista e presta atenção em mim. Meu Deus o que estou pensando da minha vida?

"Amor?" A voz dele soa novamente do outro lado da linha me despertando completamente dos pensamentos de culpa.

"Estou bem sim, Luke! Estou apenas um pouco cansado da rotina." Estou tremendo e em uma tentativa de me acalmar pego um copo de água.

"Oh, então vai gostar da novidade que tenho pra você. Te liguei exatamente pra te convidar para um encontro, abriu um barzinho no centro de Londres e os caras aqui do trabalho comentaram comigo. Sei que já estamos juntos faz muito tempo e talvez velhos demais para ter encontros, mas mesmo assim pensei em te levar lá. Tem música ao vivo, uma boa carta de vinhos e talvez se eu beber mais de duas taças, posso te puxar para dançar." Oh Jesus, me tirar para dançar? Me levar a um encontro? Por que ele é tão incrível?

"Claro, claro! Vou adorar amor! Vai ser muito bom ter um encontro - mesmo que você ache que estamos velhos para ter um." Respondo um pouco mais empolgado, talvez essa noite seja exatamente o que preciso para tirar os pensamentos que estou tendo ultimamente.

"Então esteja pronto às 21h. Vamos aproveitar essa noite. Eu te amo tanto! Não duvide disso nem um minuto." Eu não duvido, realmente não o faço. Meus pensamentos nunca se voltam para o questionamento dos sentimentos dele. Eu sei que ele me ama verdadeiramente e saber disso torna tudo mais difícil.

"Também te amo." Não era mentira, eu o amava. Amava com todo meu coração. Ele é um homem bom, que se importa com meus sonhos, ele se importa comigo. É meu marido.

                                            ••

Às 20h40 eu já me encontrava pronto. Com um jeans skinny, uma camisa de gola alta e um sobretudo. Sentado no sofá com as pernas cruzadas e com uma taça de vinho na metade. Não me julguem por já estar bebendo desde agora, eu realmente quero - e preciso - relaxar. Meu celular vibra e pela barra de notificação eu consigo ler a mensagem de Luke avisando que já está na porta. Sinto que essa noite será ótima.

Tranco a porta e saio andando calmamente pelo longo caminho de pedras. Olho para o jardim e meus olhos se enchem de lágrimas. O pior sentimento que podemos carregar conosco é a tristeza de estar mal consigo mesmo. Pense comigo, quando você não gosta de alguém se afastar é uma boa opção. Mas e quando você não gosta de si mesmo?

Entro no carro animado pelo encontro a sós depois de muito tempo e pela taça de vinho que tomei enquanto o esperava. "Oi meu amor, estou tão animado por essa noite" dou uma bicada rápida em seus lábios. É o máximo de afeto que temos nesses últimos meses. Agradeço por isso. E fico triste por agradecer. Não deveria ser assim.

"Eu também! Estou sentindo que será uma noite inesquecível. Você está lindo aliás". Amo ser elogiado e sempre sou elogiado por ele. Sei que pode soar um pouco egocêntrico, mas a verdade é que o Luke me olha como se eu fosse uma divindade. Ele me venera.

O caminho até o bar não é longo. Então aproveitamos a companhia um do outro em um silêncio agradável.

Quando chegamos ao bar, noto que é simples, porém bastante aconchegante. Nos sentamos de frente para o outro, numa mesa redonda bem perto do palco. Amo música - apesar de me trazer lembranças sinuosas - é algo que ainda faz parte de mim e que sou apaixonado. Pedimos um drink e começamos a conversar sobre o nosso dia. Tento prestar atenção no que ele fala e mais uma vez estou perdido em meus pensamentos. Me perguntando - pela centésima vez apenas hoje - se um dia já amei Luke além do amor de amizade e companheirismo. Mas isso deveria ser o bastante, certo?

Repentinamente as luzes se apagam, deixando o bar totalmente escuro. Uma figura alta se aproxima do palco onde tem um lindo piano. A pessoa caminha lentamente e se senta no banco. Uma única luz fraca se acentua apenas no piano e vejo que é um homem. O primeiro acorde soa e eu me arrepio por inteiro. Não posso acreditar. Fecho os olhos numa tentativa de me tirar da realidade. Não quero acreditar que isso está acontecendo. E a voz que eu tento esquecer há 3 anos começa a cantar. Ele não terminou nem a primeira frase da música e já está me deixando de boca seca. Meus olhos estão arregalados, o coração acelerado e completamente eu estou completamente perdido. Ele me olha e tudo para. O meu mundo para. É ele. Ainda não acredito que é ele! O Harry está cantando. Bem aqui na minha frente. O Harry... Ele está aqui depois de 3 anos.

Love In The Dark. (L.S) Onde histórias criam vida. Descubra agora