No dia seguinte do meu descanso de rei no terraço da prisão, decidi aproveitar para ler o dia inteiro sem que me encham o saco para lidar com algum problema ou entregar drogas. Bem, missão falha. Eu estava sentado de pernas cruzadas tentando saborear uma obra que requisitei à diretora sobre a biologia dos insetos, e por todo o tempo, Luzia me encarava com seu olhar doce e apaixonado que me dava raiva. Assim como odeio que olhem pra mim enquanto como, também odeio que olhem pra mim enquanto leio.
A garota que se auto-intitula "minha namorada" se chama Luzia dos Santos. Segundo ela, foi presa injustamente por desvio de dinheiro ou algo assim. Geralmente não dou bola para suas conversas. Entretanto, de todas as detentas aqui, ela tem seu diferencial. Não tem porte de criminosa, é facilmente manipulável e ainda por cima tem uma beleza invejável, com seus apenas 18 anos de idade. Eu só acho que ela é pedófila... e louca. Gosto de tê-la por perto, pois evito que as outras detentas estrague seu lindo rostinho e sua mente pura com socos e outras imoralidades que não preciso mencionar.
— Porque não pega um livro também? — Indaguei.
Seus olhos parecem dois holofotes todas vez que lhe dirijo a palavra.
— Prefiro... Ver você ler, se não se importa.
A biblioteca era vazia naquele horário, claro. Elas só podiam ter acesso depois do almoço, e como vim antes...
— Lerei em voz alta, enquanto isso, não me olhe. Abaixe a cabeça.
Ela acatou. Não gosto de ser maldoso com ela sempre, afinal também tenho um coração, eu acho. Também sei que ela quer compensar por não ter me encontrado na prisão pra me parabenizar pelo meu aniversário.
Conheci Luzia mês passado quando ela entrou. Queriam que ela fosse puta das detentas, andando por aí de mulher em mulher nos banheiros ou celas, sanando desejos sexuais dessas porcas nojentas.
Fui entregar maconha na cela de uma ruiva feia igual o demônio que tentava obrigar a garota aos atos carnais, quando intervi perguntando o que estavam fazendo.
"Você é muito novo pra isso 'piázinho', me entregue o que pedi de sua mãe hoje."
Teve a coragem de me responder dessa forma. Quando eu disse que não entregaria, bastou somente um olhar para que suas duas amigas voltassem o passo que deram para tomar de mim as drogas. Encarei aquela ruiva magricela igual uma bruxa velha e disse:
"Nem todo mundo, gosta de chupar uma uva-passa."
Uva-passas são secas né? Na hora parecia algo bom de dizer e eu estava 'emputecido' demais pra pensar. Ela entendeu o que quis dizer, e eu puxei a garota pelo braço até longe daquela cela, e sem dizer nada, a larguei e continuei para meus afazeres. E como naquele dia, hoje ela continua me seguindo...— E bem, a história termina por aqui. Creio que amanhã irei ler novamente.
— Você... Tem uma voz cativante. Não parece nada que tem apenas treze aninhos...
E de repente essa. Não sei reagir contra elogios. E olha que ela volta e meia me diz coisas do tipo.
— E você não tem idade pra cair de amores por esses treze aninhos.
Necessito responder friamente para não esbanjar sentimento. Eu a odeio. Tudo o que eu menos preciso é amar alguém agora, mas aquele maldito sorriso que ela me respondeu, acabou por mexer comigo.
— Me responde, Luzia, quando sairá daqui? Sei que se realmente está aqui injustamente, vai sair logo com um bom advogado no caso.
Ela abaixou o olhar e raspou o dedo na mesa em movimentos circulares.
— Não tenho dinheiro para um advogado e qualquer um público é... Impensável.
Ela tinha um bom vocabulário como eu. Nunca vi nenhum criminoso com um vocabulário bom, ou pode até ter, mas ela não me cheira mal.
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Philip - Na Penitenciária Feminina
Historia CortaEm 10 de julho de 2008, Ângela da Silva Cruz foi presa por tráfico de drogas e prostituição. Semanas depois, ela descobriu que estava grávida e estaria fadada à criar um filho na prisão, cujo o pai, poderia ser qualquer moleque qual ela vendeu o cor...