A gerente e o Garçom

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Após falhar ao controlar os estoques de comida e receber uma atenção especial da sua chefe Rosana, Thais não teve mais problemas na gerência do restaurante, mas ficar mais atenta lhe cobrara um preço: ficar todas as noites até mais tarde verificando se tudo está ordem. Quando Rosana esteve lá, isso levou a uma situações bem prazerosa, mas o normal é que ela cuide de tudo sozinha. Ser gerente do restaurante é cansativo. Precisa controlar tudo o que está acontecendo, principalmente nos horários de pico. Ela ainda fica até mais tarde verificando estoques para não deixar acontecer o que aconteceu na última vez.

Gerenciar um restaurante tão visitado tem lhe rendido um cansaço extra, por ficar sempre até mais tarde do que os outros funcionários. Naquela noite após dias ficando mais tarde, seus pés doíam como antes não acontecia. Ela estava na cozinha. No centro havia uma ilha com uma grande bancada e um fogão industrial. Armários, freezers e bancadas ocupavam as paredes periféricas. As paredes em azulejos decorados, remanescentes da construção original, assim como os pisos. A gerente ainda vestia o seu uniforme: uma saia preta e uma camisa preta com detalhes em laranja. Thais puxou um banco de madeira encostado na cozinha e ali se sentou e tirou os sapatos. Estava exausta. Sozinha, não se ouvia som nenhum em volta. Admirava o silêncio em sua volta num momento de solidão, ou quase.

Alguns passos foram ouvidos e dessa vez não eram os passos de Rosana, eram passos mais tranquilos, despreocupados. A gerente se levantou ao perceber o homem que parou na porta da cozinha. Era alto, com porte físico atlético, sem ser musculoso demais. Os cabelos volumosos, mas não compridos, eram grisalhos. A barba também grisalha cobre todo o rosto. Era Alexandre, garçom recém-contratado do restaurante que viera do vestiário onde trocar de uniforme. Estava com uma calça jeans justa e uma camisa preta olhando Thais com a estranheza de quem se achava o último a estar ali. Ela não o conhecia direito pelos poucos dias em que foi contratado. A relação entre ambos ainda era um pouco fria. Alexandre para ela era um estranho. E ele a via da mesma forma.

— Alexandre, o que faz aqui tão tarde? — perguntou Thais em um jeito firme.

— Perdi a hora. Estava me arrumando. E você?

— Dou uma geral nos estoques toda a noite depois do expediente.

— Todas as noites? Isso deve ser cansativo.

— Você não tem ideia.

O cansaço estava escrito no rosto de Thais e nas suas expressões corporais. Voltando a se sentar no banco, estava curvada como se os ombros fossem pesados demais.

— Posso fazer algo por você?

— Não, obrigada. Você já passou da hora de sair. Eu podia tê-lo deixado preso aqui dentro.

— Demorei para me arrumar, mas saiba ter alguém aqui, só não sabia ser você. Isso não acontecerá de novo, mas você parece bem cansada. Por que não vai para casa? Já terminou o seu trabalho né?

— Já terminei sim. Só estou esperando meus pés pararem de doer.

— Eles estão doendo muito?

— Eles estão me matando.

Alexandre se dirigiu a Thais e se ajoelhou em frente a ela. Pegou o seu pé. Observou os delicados traços dele, suas unhas pintadas em vermelho. Segurou-o com as duas mãos deslizando os polegares lentamente.

— O que está fazendo?

— Vou te ajudar aliviar as dores do seu pé. Tente relaxar.

O deslizar dos polegares pela parte superior do pé era incômoda, mas era uma dor suportável. Alexandre levantou mais o pé da gerente até que ficasse de frente para o seu rosto. Thais se mantinha desconfiada, manteve as pernas fechadas ao cogitar que aquele estanho quisesse olhar debaixo da saia. Não aconteceu. Aquele homem tinha olhos apenas para o seu pé, e nessa posição os polegares deslizavam por baixo dele transformando a dor em uma sensação prazerosa.

Contos do Bairro Velho - 01Onde histórias criam vida. Descubra agora