Os trabalhos de César - Parte 02

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César acreditava que a relação dele com sua chefe mudaria depois que ela cavalgou em cima dele no sofá, mas se enganou. No dia seguinte, Clara continuou a ser fria com ele, como normalmente faria deixando-o um tanto confuso, pois as transas entre os dois ainda aconteciam onde, quando e como ela queria. Sua chefe sempre tinha o controle de tudo, mas César se acostumava de se deixava levar para poder se aproveitar dos desejos de Clara. O inconveniente era ter que se controlar em certos momentos, pois aparentemente sua chefe gostava de provoca-lo usando saias mais curtas e se insinuando enquanto exigia que ele não se "animasse" em serviço. Era uma condição difícil de trabalho, mas tinha suas recompensas.

O dia a dia de trabalho continuou com as mais variadas tarefas de escritório alternadas com idas a casa de sua chefe para cuidar de sua vida. César fazia compras em mercado e em outros lugares e até levava técnicos para fazer pequenas manutenções no apartamento. Sempre uma tarefa inusitada.

Um dia, Clara o chamou para mais uma dessas tarefas incomuns.

— César, preciso que vá em uma loja de roupas no shopping aqui perto. Aquele que era uma fábrica. Procure a Natália e compre os itens da lista que vou te passar.

— Tudo bem, eu trago para cá ou levo na sua casa?

— Não, ela mesma irá me trazer.

César recebeu uma lista e algumas fotos pelo celular e se dirigiu ao shopping se perguntando quem era Natália.

Uma antiga fábrica foi adaptada como shopping no Bairro Velho criando um espaço interessante com as fachadas preservadas com um interior moderno. Pátios abertos viraram praças de alimentação enquanto as lojas se desenvolviam no interior. O último andar tem as lojas de roupa mais caras frequentadas por um público bem reduzido, de altíssimo poder aquisitivo. César nunca havia subido até aquele andar e apesar de poucas lojas, se sentia perdido. Após um tempo olhando para todos os lados ele encontra a loja correta e segue em direção a ela enquanto procura pela vendedora que lhe foi indicado até encontrar alguém com a descrição exata de Clara: uma mulher morena de cabelos pretos longos, lisos, com franjas. Os olhos pretos eram levemente puxados e marcados com um lápis preto e os lábios grossos recebiam um batom vermelho vivo. Vestia uma calça e uma blusa pretas que compunham o uniforme da loja e assim que o viu entrar o cumprimentou com uma expressão simpática no rosto.

— Boa tarde. Trabalho com a Clara que me pediu para te procurar aqui e comorar umas coisas para ela.

— A Clara? Ela não vem mais comprar comigo?

— Ela vive ocupada. Faço essas coisas para ela.

— Mas eu só vendo diretamente com ela.

O sorriso simpático de Natália desmanchou em uma expressão desconfiada. César não entendeu o porquê da negativa da vendedora, que no meio da conversa retira o celular e olha algumas mensagens. Enquanto tecla, seus olhares alternam entre a tela e César, às vezes o observando de cima a baixo. Terminando de teclar a vendedora respira fundo e abre um sorriso um pouco menos simpático do que o anterior, sem evitar transparecer a artificialidade dele.

— Vem comigo!

César seguiu Natália por um caminho inesperado, seguindo por trás do caixa e depois por um corredor estreito até chegar em uma sala branca, com poucos móveis. Havia uma pequena mesa, um sofá e um biombo. Ele continuava confuso, pois nada daquilo se parecia com uma compra de roupas. Natália pediu para observar os pedidos de Clara. César mostrou o celular com as mensagens de sua chefe. A vendedora olhou com uma expressão séria e saiu, deixando o assistente sozinho a olhar para as paredes brancas, monotonamente vazias.

Longos minutos se passaram até Natália entrar apressada com os dois vestidos se dirigindo ao biombo sem falar com César, que começava a se sentir indesejado ali.

Contos do Bairro Velho - 01Onde histórias criam vida. Descubra agora