Eu estava em casa, era uma noite que chegava para limpar tudo o que um dia improdutivo não fez, ou simplesmente vir e silenciar a todos como sempre faz. Meus amigos tinham me convidado para uma festa, mas eu sabia que lá só iria encontrar música horrível...e só. No meio daquele tédio e solidão padrão de sempre, eu decidi jogar videogame. A única coisa que eu tinha em casa era um famiclone chamado "UltraXGame" e uns joguinhos genéricos. Já tive outros consoles que agora não são opção, pois tiveram seu fim.
Nunca joguei muito, nem de jogos eletrônicos ou esportes, sempre fui ruim nos dois. A única utilidade dos poucos consoles que tive eram partidas casuais com uns amigos no domingo, coisa despretensiosa e não levada a sério. Acho que se eu jogasse mais essa definitivamente não seria a minha forma de jogar, tudo soa como uma brincadeira e fica por assim mesmo. Sem momentos de tensão, o que havia era um monte de gente falando umas merdas, rindo, e falando mais merdas.
Mas isso não é importante, o jogo que eu escolhi se chamava "Roy's Epic Adventure," era um joguinho de plataforma bem mais do mesmo: você controlava um lobinho que pisava nos inimigos e a cada duas fases tinha um chefe, totalmente original. Apesar de ser um clichê, quebrava um galho pra se divertir, pelo menos até as coisas começarem a ficar estressantes. Esse foi o meu maior ressentimento ao começar a jogar um jogo tão antigo, muitos deles eram impossíveis e te faziam mais passar raiva do que se divertir. Só que eu não me importava, eu só queria jogar alguma coisa, fazer alguma coisa naquele momento, e isso não impediu aquilo que eu previa de se concretizar. As duas primeiras fases eram fáceis, já a terceira era mais complicada, e a quarta... era impossível. Os inimigos eram irritantes e a fase era cheia deles, fora que alguns saltos tinham que ser muito precisos. Para completar, o jogo seguia o maldito padrão de não salvar.
Quando eu morri na fase quatro, a primeira coisa que eu pensei foi em desligar o videogame e fazer outra coisa... e não tinha mais nada pra fazer. São incontáveis as vezes em que eu desisti de jogar algo muito antigo pela dificuldade, sem sequer tentar realmente. Naquela noite eu já estava tão acostumado com aquilo que eu não dava a mínima, era como se a única coisa que importasse fosse continuar jogando. Eu não queria entrar na onda da impiedosa e tediosa falta de sono. Deixar as coisas pela metade sempre foi algo que me incomodou; já que eu não tinha mais nada para fazer, por que não tentar fechar de uma vez aquele jogo estranho?
E assim foi, passei por um pouco de raiva e uns Game Overs, até que finalmente cheguei no último chefe. É, o último chefe, esse que eu gosto de apelidar como "Coisa Mais Filhadaputamente Apelona Que Já Pôde Estar Em Um Mundo Virtual" (eu sei, bem meigo). Foi necessário sacrifício e muita sorte para ter chegado onde eu cheguei, eu comecei morrendo muito nas primeiras fases, mas quando fui avançando e pegando o jeito, as coisas estavam até que bem fáceis (claro que muito foi graças a sorte). Eu só não esperava pelo grande desbalanceamento de dificuldade, eu não esperava pela enorme diferença entre o penúltimo e o último chefe.
E o que aconteceu? Game Over. Sim, depois de uma grande maré de sorte, eu perdi. É previsível dizer que a primeira coisa que surgiu na minha cabeça foi a simples ideia de desligar aquela TV e aquele console xing ling. Você sabe qual é a diferença entre morrer na vida real e o Game Over de um jogo? Se você morrer, você não pode voltar atrás na vida real. Só que para pra pensar: se você tivesse a oportunidade de reiniciar a sua vida depois de morrer, o faria? É óbvio que todos diriam que sim, mas e se as pessoas se acostumassem com a ideia de ressuscitar? Você ficaria com um sorriso no rosto ao ter que nascer de novo, ir pra escola de novo, procurar emprego de novo, sofrer por amor de novo e ver entes queridos morrerem de novo? Isso seria legal? O grande valor da vida é que ela é uma só, ver uma jornada ser jogada fora é um saco.
Era isso o que tinha acontecido e já aconteceu muitas vezes antes, eu tinha passado por uma boa experiência virtual; momentos tensos, desafios, essas coisas, e agora vou ter que fazer tudo de novo. E foi esse pensamento e indignação de que tudo poderia ter acabado mais rápido que tirou todo o meu tesão do jogo. Não era mais divertido, eu estava repetindo uma aventura. Era por essas e outras que eu nunca zerava os jogos.
Aquilo poderia ter acabado ali, mas não acabou, dessa vez eu realmente queria zerar aquela coisa. Não vou mentir, para mim, ver algo ser completado é bem mais prazeroso do que o desenvolvimento. Aí eu continuei com muito sacrifício, cheguei no chefe novamente...e morri... Cheguei mais uma vez... e morri... Dessa vez eu consigo...Morri.
Eu já estava praticamente virando a noite até que... eu consegui. Sim, eu zerei um jogo impossível. Aquele final era um lixo, convenhamos, eu prefiro nem comentar na verdade. Mas foi prazeroso realizar algo que te fez soar, uma sensação que eu não sentia há muito tempo. É como se todo o meu esforço fosse compensado com glória. Daí eu me toquei...eu poderia ter tido mais experiências como essas se não tivesse a mania de sempre desistir, eu poderia ter tido uma experiência melhor com videogames, mas...eu não sei. Ultimamente as coisas não tem me importado tanto, me sinto simplesmente vagando por um enorme cenário esperando minha morte; nunca caindo, mas nunca vencendo. Talvez levar dano com inimigos mais fortes possa ter suas vantagens, pode ser um caminho mais fácil para upar, quem sabe. Depois de uma breve mensagem, apareceu aquela típica mensagem branca em meio ao preto, com aquela típica fonte:
Game Over
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Uma Aventura Em Uma Noite, Um Game Over Diferente
Krótkie OpowiadaniaHistórias sobre pessoas que jogaram videogame e tiveram suas vidas alteradas de alguma forma.